Três chaves para uma vida transbordante

Há três características cristãs que têm me chamado a atenção nesses dias. São capazes de abrirem mais portas do que a maioria dos esforços que fazemos para mudar o mundo à nossa volta. A história abaixo ilustra o princípio com um testemunho real, gravado na biografia do Dr Howard A. Kelly, um dos quatro médicos fundadores da Universidade John Hopkins, a primeira universidade de pesquisa médica nos Estados Unidos e um dos melhores hospitais do Mundo. O Dr. Howard Atwood Kelly viveu de 1858 a 1943. Em 1895, criou o Departamento de Ginecologia e Obstetrícia. Trabalhou como ginecologista clínico e cirúrgico, professor e médico. 

Dr. Howard A. Kelly

Ele era de família rica e gostava de passear nos campos. Um dia, vinha sedento de uma caminhada e pediu um copo de água numa casa modesta. Uma jovem, que não o conhecia, ao invés de água, lhe trouxe leite fresco. Conversaram um pouco e ele se foi.  Alguns anos depois, a mesma jovem o reencontrou, mas não o reconheceu. Ela precisava de uma cirurgia, que ele realizou e, quando recebeu a fatura, estava escrito: "totalmente pago com um copo de leite, há muitos anos atrás." Só então, ela lembrou-se dele.

A gratidão é uma convicção em ação, ela é fruto da fé. O Senhor nos diz para sermos gratos:

16  Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. 17  E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. (Colossenses 3:16-17)

Observe que toda a leitura da palavra, as conversas e ensinamentos, a sabedoria, o louvor, tudo isso deve ser movido pela gratidão. Aquilo que recebemos de Deus deve nos mover em direção ao serviço, ao cuidado de tudo e todos os que estão à nossa volta e ao conhecimento de Deus. Ser grato é reconhecer o que o outro lhe fez. A gratidão leva a outros dois tesouros, que nos farão milionários da vida espiritual.

A gratidão como estilo de vida

Se você ouvir só esse relato, pensará que é um caso especial de gratidão àquela mulher, mas o Dr. Kelly dispensava o pagamento de três em cada quatro dos seus pacientes. Dessa vez, o fez por gratidão. Ele era um crente fiel e conhecido por sua gentileza e bondade para com todos os que o cercavam.

A bondade não é uma qualidade muito bem avaliada no mundo da competição. Segundo esses, ela diminui os lucros. Outro dia, uma senhora ficou chocada porque seu novo médico a cumprimentou com um beijo na mão. Enquanto que a médica anterior havia se recusado a atendê-la quando ela estava com uma cirurgia sangrando, depois de tê-la como cliente durante 19 anos. A gentileza era uma desconhecida para ela.

Mas, pelos princípios eternos, gentileza e bondade são poderosos instrumentos. O Dr. Kelly fundou uma Universidade e a fez destacar-se mundialmente, dando mais valor às pessoas do que às coisas. Lembrando das gentilezas recebidas e retribuindo-as. E fazendo mais gentilezas do que recebia, mantendo uma percentagem de 75% de doação nos atendimentos. Porque "a alma generosa prosperará e aquele que rega também será regado."  (Provérbios 11 : 25).

A gratidão e a humildade

Quanto mais valor e reconhecimento você dá, mais grato você é. Interessante que aqui, a gratidão se conecta à humildade. A humildade nos dá consciência das nossas próprias limitações, reconhecendo nossos próprios limites, podemos reconhecer a graça e o amor de Deus que nos dá o que nós não merecemos e nem podíamos alcançar por merecimento.

Por isso o Senhor é ofendido quando queremos merecer a sua bênção. A palavra bênção, no hebraico, deriva de uma palavra que significa "ajoelhou-se". O que concorda com o que a Bíblia diz: “evidentemente, é fora de qualquer dúvida que o inferior é abençoado pelo superior.” (Hebreus 7:7). Só haverá bênção se formos capazes de nos submetermos ao poder e à superioridade do Abençoador. Não depende de nós, mas de reconhecermos a bondade que recebemos. A graça nos dá sem merecermos e a misericórdia nos poupa do que merecemos, a punição pelos nossos pecados:

7  para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. 8  Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9  não de obras, para que ninguém se glorie. (Efésios 2:7-9)

4  Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, 5  não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, 6  que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, 7  a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. (Tito 3:4-7)

Imagine só se um artesão de madeira fosse oferecer sua obra sem lixar e nem pintar ao maior ourives que já existiu por uma de suas peças de ouro da melhor qualidade... Isso iria ofender o ourives ou não? Assim somos nós quando queremos levar nossa bondade mal acabada e uma justiça cheia de farpas ao Deus Eterno, criador da justiça e da bondade perfeitas. Ou vamos a Deus pela bondade dEle, pela sua graça, ou nunca chegaremos nem na metade do caminho.

As forças da bondade 

A bondade gera uma força poderosa chamada gentileza. Segundo o Dicionário Michaelis, gentileza, é “a qualidade ou caráter de gentil; ação nobre; ilustre; distinta; cortesia; elegância.” Para ser gentil é preciso ver as necessidades do outro. Temos um problema com isso. Não somos treinados assim. Não temos esse foco. Não temos esse valor ou prioridade. Ser gentil na sociedade da competição capitalista não é prioridade, a menos que estejamos pleiteando algo para nós. E isso deixa de ser gentileza para ser falsidade, bajulação, hipocrisia e interesse pessoal. A gentileza vem de dentro, é irmã da bondade. Ela é nobre, é para o outro, é gratuita. É Amor de Deus em nosso coração e só vai render frutos quando for empregada para servir a Deus e motivada para agradar a Deus.

Proponho um desafio: procure ver o que as pessoas que estão à sua volta precisam, percebê-las como Jesus faria e ofereça-lhes, sem que precisem pedir, aquilo que elas reconhecem como necessário ou que as alegrará. Será o seu “Dia Nacional da Gentileza”. Esse é o tipo de jejum que Deus acha precioso. Não é deixar de fazer e dizer coisas rudes simplesmente, mas procurar ser gentil, doador de cuidado. Estar disposto a ajudar e suprir as necessidades dos outros ou fazê-los simplesmente ficarem alegres. Fazer para o outro porque o outro gosta ou quer e porque lhes fará bem.

6  Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo?

7  Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne?

8  Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR será a tua retaguarda.

9  Então clamarás, e o SENHOR te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente;

10  E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia.

11  E o SENHOR te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam. (Isaías 58: 6-11)

As dimensões da gratidão

A gratidão depende da humildade e nos leva à gentileza e à generosidade. Ore e trabalhe para que sejam geradas em você. Busque construir com a ajuda do Espírito Santo, dentro de você, o valor e disposição de se dar aos outros . Dê-lhes espaço nas suas intenções e não só no seu interesse. Faça com que os outros e suas necessidades sejam importantes para você e você vai provar outra dimensão na sua vida. Isso é desenvolver a bondade, que inclui a gentileza e a generosidade sinceras. Existem promessas para quem as viver:

"[...] o homem bom fica satisfeito com o seu proceder."  (Provérbios 14 : 14)

“Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, vos deitarão no vosso regaço; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.” (Lucas 6:38).

"E não nos cansemos de fazer bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido."  (Gálatas 6 : 9)

Somos, portanto, desafiados a sairmos da posição de mendigos, esperando que os outros nos provejam, e passarmos à posição de cuidadores, donos de uma herança espiritual maravilhosa, que é o Amor de Deus derramado em nossos corações (Romanos 5:5).

Esses três tesouros do coração: a gratidão, a humildade e a bondade generosa, que inclui a gentileza e todas as formas de se dar ao outro, provocarão um fluxo da mesma natureza doadora vindo diretamente do trono de Deus. Aquilo que você semear, Deus lhe dará na colheita.  Você tem uma promessa de transbordar da bênção do Senhor:


1 Canta alegremente, ó estéril, que não deste à luz; exulta com alegre canto e exclama, tu que não tiveste dores de parto; porque mais são os filhos da mulher solitária do que os filhos da casada, diz o SENHOR.  2  Alarga o espaço da tua tenda; estenda-se o toldo da tua habitação, e não o impeças; alonga as tuas cordas e firma bem as tuas estacas.  3  Porque transbordarás para a direita e para a esquerda; a tua posteridade possuirá as nações e fará que se povoem as cidades assoladas. (Isaías 54:1-3)

Se você se dispõe a ver e ser a bênção, a presença e a aprovação de Deus, na sua vida, você pode orar assim:

Querido Deus, eu quero mudar. Quero viver de outra forma que não considere o mundo e as pessoas como o alvo de uma conquista minha e sim uma oportunidade de partilhar conquistas. Senhor, eu preciso que me dês olhos para ver os outros e as suas necessidades, disposição para valorizar essas necessidades e poder ter prazer em fazê-los se alegrar. Faz com que eu valorize isso Senhor, e não seja tão solitário(a) e egoísta, lutando apenas pela minha alegria.

REFERÊNCIAS

DAVIS, Audrey W. Dr. Kelly of Hopkins. Baltimore: The John Hopkins Press; Oxford University Press, 1960.

GRAUER, Neil A. On the Streets Where They Lived. Hopkins Medicine: one on line version of the magazine, Baltimore, Maryland, p. 01-01. 01 jul. 2007. Disponível em: . Acesso em: 05 nov. 2011. [Registros da Universidade John Hopkins da vida do Dr. H. Kelly]

UNIVERSITY ARCHIVES AND RECORDS CENTER (EUA). University Of Pennsilvania. Pen biographies: Howard Atwood Kelly (1858-1943). Philadelfia, Pa: University Of Pennsilvania, 2011. (Penn Biographies). Disponível em: . Acesso em: 05 nov. 2011.