quinta-feira, 28 de março de 2013

A Luz e as sombras




Nos últimos dias tenho ficado chocada com a capacidade de analisar as situações de algumas pessoas. O primeiro problema é reagir pela primeira informação ou primeira impressão. Por exemplo, quando a mídia dá uma notícia, precisamos verificar para ver se de fato é assim. Muitas vezes, nos apresentam apenas um lado da questão.

Observe um trecho da letra dessa música de Daniel e Samuel (cantores cristãos):

A boca da noite não fala nada;
A manga da blusa não mata a fome;
Bainha não serve pro peixe espada;
O prato é pra comer e não come;
A asa do avião não tem pena;
As pernas dos óculos não usam calça;
A mão de pilão, pra mim, nem acena;
Calçada tem pé e vive descalça;
Tem coisa que parece ser mas não é.
Só Deus é até o que não parece.
Deus se manifesta onde quiser.
Só quem tem discernimento conhece.

Porque essa música é tão interessante? Porque quebra a lógica de significado esperado por nós. Retira uma palavra do contexto original e a usa em outro contexto, onde seu significado se torna diferente. A expressão “boca da noite” é uma metáfora regional para o começo da noite. Mas a boca é um órgão que utilizamos também para falar. A mistura de dois tipos de linguagem (metafórica ou direta) causa uma surpresa no nosso entendimento. Isso só nos diz que estamos prontos, preparados para compreender numa direção pré-estabelecida. E isso pode se tornar uma armadilha para nós. Porque nem tudo se repete. Nem toda boca fala; nem toda manga se come; nem toda espada tem bainha; etc.

Muitas vezes, essa tendência a deduzir pode ser usada contra nós. Uma conversa pode induzir você a entender de uma forma que vai ser prejudicial a você, à verdade, ao direito de outra pessoa, etc. Como aquela brincadeira que uma criança diz à outra: O que é, o que é: enche uma casa, mas não enche uma mão? Ele induz a pensar numa casa habitação, mas na realidade trata-se de uma casa de botões. Daí a importância de analisar aquilo que com tanta veemência assumimos como verdade e nos comprometemos a defender. A bíblia diz: “não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado.” (Provérbios 19:2). Há coisas que só discerniremos espiritualmente, está além do poder do raciocínio ou da informação obtida, mas a reflexão já nos dá muito em relação ao discernimento. O povo de Beréia nos ensinou essa lição. Quando Paulo chegou e lhes ensinou, eles “[...] receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.” (Atos 17:11). A bíblia diz que se aprende o que é o espiritual comparando-se ao que é espiritual (1 Coríntios 2:13).

Além da má compreensão, há as más consequências. Nem tudo deve ser dito a toda hora, em todo lugar e a qualquer pessoa. Cada coisa que dizemos ou fazemos deve ter tempo, espaço e auditório específico. Cada coisa que dizemos ou fazemos inclui consequências e essas consequências devem ser consideradas quando falamos. Às vezes, a melhor resposta é o silêncio. Outras, calar é consentir o mal. Nossa força deve ser direcionada para aqueles investimentos que realmente valerão à pena. Naqueles em que faremos uma diferença positiva. Por isso, o problema a evitar é reagir sem analisar os argumentos e as consequências com cuidado. Uma outra questão é a ilusão da concordância.

O que significa concordar



Necessariamente, quem concorda é simpático ao argumento da pessoa ou à pessoa? Você só concorda com o que/quem lhe agrada? Então, você tem um problema com a justiça. Eu não gosto da cor azul do céu, ficaria melhor vermelho. Então, eu não concordo que o céu é azul. Isso parece uma postura impossível, mas não é. Eu não gosto de tal pessoa, então todas as qualidades dela desaparecem, tudo o que disser está errado e por aí vai. Quando estabelecemos que deve prevalecer  a nossa vontade, vantagem e gosto a vontade de Deus e os dons alheios são blindados aos nossos olhos.

Você é capaz de concordar com uma pessoa que não gosta? Argumentos são independentes daqueles que os usam, assim como a bandeja não tem relação direta com o sabor da comida. Deus usou uma burra para falar com o profeta tolo (Números 22:21-34); uma menina para orientar um comandante de exército (Naamã, em 2 Reis 5); o diabo usou um profeta para tentar outro (1 Reis 13); um animal para tentar Eva (Gênesis 3). A mensagem independe daquele que a transmite. Ela é discernida pelo conteúdo e direção, não pelo mensageiro.

Isso significa que o fato de você não concordar ou não colaborar com uma pessoa em uma coisa não significa que você seja seu inimigo. Eu não colaborarei numa tarefa ou concordarei com ninguém, por mais que eu ame, se essa tarefa ou pessoa estiver contra a Palavra de Deus. Nem a mim mesma eu me dou este privilégio. E se eu der sofrerei as consequências. E também o fato de concordar ou colaborar não significa que seja amigo. Muitas pessoas possuem diferenças em várias áreas, mas por concordarem ou ser interessante para elas uma junção de forças temporária se permitem cooperar. Concordância não quer dizer amizade e nem discordância inimizade.

O problema do discurso da tolerância


O problema é que se você discorda, automaticamente você se torna inimigo. É muito mesquinha e manipuladora essa visão. Você pode concordar e discordar em parte com/de alguém. Não é porque eu não concorde com determinadas posturas de uma pessoa em uma área que eu estou comprometida a diminuir seus direitos ou competências em outra área. Hitler era um homem de um caráter terrível, um dos maiores assassinos de seu tempo, mas temos que admitir que ele desenvolveu uma inteligência interpessoal e social muito acima da época, senão não teria encantado e arrastado tantos cúmplices convictos. Mas eu reconhecer a inteligência de Hitler não me torna simpática aos objetos em que ele a aplicou. Jamais! Mas, não é cegando para as partes que veremos ou direcionaremos melhor o todo.

Não posso dizer que Deus não amou Hitler, mas que Hitler nunca manifestou o amor de Deus enquanto esteve no poder. Pode ter se arrependido em seu leito de morte, isso não é comigo. O que quero dizer é que as coisas, acontecimentos e pessoas não respondem somente ao preto e branco, todo bom ou todo mau, a vida não é tão simples assim. Somente as crianças levam uma bronca da mãe e dizem: “Eu te odeio! Você é a pior mãe do mundo!” Mas, lembrem-se, em cinco minutos a criança está procurando seus braços...

Rejeitar um argumento não é rejeitar uma pessoa. Aceitar um argumento não é aceitar uma pessoa. Rejeitar uma ação de uma pessoa, não é rejeitar uma pessoa e tornar-se sua inimiga. A bíblia diz que “Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos.” (Provérbios 27:6). Isso significa que muita gente que concorda com você e até lhe elogia está lhe enganando e que há pessoas que lhe criticam que querem o seu bem.

Aceitar uma ação de alguém também não é tornar-se sua amiga. Numa sociedade equilibrada, todos precisam respeitar as divergências e ser obrigado a concordar com tudo não é aceitação de divergências, é impor força de persuasão, coerção. Jesus nunca aceitou nada que não fosse agradável a Deus e Ele é a encarnação do amor de Deus.

Inteligência e seus limites


Eu convivo com cientistas de alto nível. Nível internacional. Eles são capazes de analisar fórmulas que para mim são hieróglifos. Mas, muitas dessas mesmas pessoas altamente capazes de diferenciar e analisar sentenças matemáticas e física de alto nível não são capazes, muitas vezes de perceber uma inconsistência lógica nos seus relacionamentos. As pessoas às vezes possuem um determinado tipo de princípio de raciocínio numa área e não o estendem para outra, perdendo muito com isso.

Se um objeto é lançado em uma trajetória com um determinado impulso e nada se interpõe em seus caminho, ele continuará na mesma direção até que o atrito o pare. Ou seja, que uma força contrária se oponha e o pare ou mude sua direção, como um obstáculo. É parte da lógica da física. E na área dos relacionamentos? Se uma pessoa foi seu amigo durante anos, sempre foi fiel, andou com você... Agora, tornou-se seu inimigo porque discorda de você? Paulo fez essa pergunta àqueles a quem discipulara, mas observe o contexto da questão:

O que aconteceu com aquele espírito feliz que sentimos juntos naquela ocasião? Porque eu sei que naqueles dias vocês, com toda a alegria, teriam arrancado os próprios olhos e os teriam dado para substituir os meus, se aquilo houvesse me ajudado.
E agora eu me tornei inimigo de vocês por lhes dizer a verdade?
Esses falsos mestres que estão ansiosos em agradá-los não estão fazendo isso para o bem de vocês. O que eles estão procurando fazer é separá-los  de mim, para que vocês prestem mais atenção neles. (Gálatas 4:15-17 – Bíblia Viva)

Mas, quantas vezes um pesquisador que está acostumado a primar pela consistência e permanência das forças volta-se contra seus amigos de longa data, perdi as contas. E quantas pessoas convivem com outras por longo tempo e possuem provas de sua amizade constante, mas voltam-se contra elas por causa de um novo amigo, na maioria das vezes, manipulador e mau intencionado? Porque perdemos tanto pessoas e coisas tão preciosas? Porque não paramos para analisar os argumentos, as bases e as implicações daquilo que nos oferecem como explicação dos fatos.

É preciso amor à verdade. Jesus é a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai sem a verdade. A verdade, ainda que doa, cura; a mentira, ainda que adoce a boca, mata, rouba e destrói. Porque se Jesus é a verdade e a vida, Satanás é o Pai da mentira. Prefiro uma verdade dolorosa que traga vida do que o doce veneno da mentira.

Os sistemas de argumentação falsos


Uma vez escutei uma propaganda política que dizia: Vote em mim para deputada estadual. Sou negra, mulher e favelada. Há argumentos que não justificam certas ações ou posturas. Desde quando o mapa de competências para ser um bom representante na Câmara é o sofrimento inerente a pertencer a uma minoria? O fato de ter sofrido não garante caráter, conhecimento, capacidade de articulação política, compromisso com o bem-estar público... Mas, muitas pessoas entenderam que essa era uma proposta de representação válida, ainda que usasse um argumento meramente emocional e sem utilidade para resolver a situação a que se referia. Se saber o que é sofrer garantisse o desenvolvimento de boas leis, Lampião não teria se tornado o rei do cangaço (ou fora da lei) depois de ter visto a sua família ser assassinada.

A bíblia diz que nós temos armas poderosas em Deus que “[...] não são físicas [armas de carne e sangue], mas elas são poderosas diante de Deus, para subjugar e destruir fortalezas, à medida que nós refutamos os argumentos, teorias e raciocínio e todo o orgulho e altivez que se levante contra o verdadeiro conhecimento de Deus, e guiando todo pensamento e propósito cativo à obediência de Cristo (o Messias, o Ungido),” (2 Coríntios 10:4-5 – Bíblia Amplificada). Precisamos estar atentos, porque há pessoas muito habilidosas com as palavras para o mal, assim como devemos sê-lo para o bem:

Para o mal: “Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que está cheio o coração.” (Mateus 12:34).

Para o bem: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.” (2 Timóteo 2:15).

 “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.” (Efésios 4:29).

Observe a relação entre a afirmação do que deve ser feito ou compreendido e as “provas” ou justificativas para assumir que essa é a versão mais confiável. Não aceite tão facilmente argumentos meramente emocionais porque não podemos ficar à mercê da interpretação alheia ou até mesmo da nossa primeira impressão, que pode ser errada para o bem ou para o mal. Veja o alerta de Paulo: “Não apagueis o Espírito. Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de mal.” (1 Tessalonicenses 5:19-22).

Observe o equilíbrio:

A )Não despreze as profecias – porque Deus fala com você sempre; Mas...
B) julgai todas as coisas – porque nem tudo o que se diz é de Deus. Fique com a “parte” que serve, que corresponde à Palavra;
C) Rejeitem e não tenham contato com toda a forma de mal – daquilo que escutar, só dê ouvidos ao que estiver em acordo com a Palavra, o resto, é resto.

Talvez, a partir desse texto, que penso merecer ser lido mais de uma vez, você possa repensar a forma como tem aderido a campanhas, comentários, participado socialmente de discussões, etc.


Você pode orar assim:

Querido Deus, preciso de discernimento para ouvir a tua Palavra e somente dar ouvidos a ela, aprendendo a analisar as afirmações que me oferecem como verdade à luz da Tua Palavra eu te peço em nome de Jesus.









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