segunda-feira, 5 de maio de 2014

Tornando-se um vencedor : o nosso gênesis



Algo ou alguém que pode passar desapercebido para qualquer pessoa, não o será para Deus. Deus tomou vidas simples, desprezadas, sem relevância social, cultural ou política e as tornou uma bênção não só para si ou sua família, mas para toda a nação de Israel. Assim foi o caso de Gideão.  Ele foi tomado do último lugar, da última posição de expectativa e construído por Deus como solução para todo o seu povo. Deus forjou nele um vencedor. E essa história que me serve de inspiração para fortalecer e estimular os filhos de Deus a serem tudo o que podem ser no Senhor.

Começando do zero...


A história de Gideão é contada em Juízes, do capítulo 6 até o 8:33. O povo de Deus se afastara do seu Deus, então, enfraqueceu e os inimigos os oprimiram. Após sete anos sendo atacados e espoliados por inimigos poderosos, cujos guerreiros, camelos e armamentos eram incontáveis, o povo de Israel clamou ao Senhor e o Senhor enviou um anjo para falar com aquele que Deus via como solução para Israel.

Talvez esse fosse o grande problema a ser resolvido: somente Deus via em Gideão uma solução. Veja como aconteceu o encontro do anjo de Deus com Gideão :

(11) Então, veio o Anjo do SENHOR, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o pôr a salvo dos midianitas.  (12)  Então, o Anjo do SENHOR lhe apareceu e lhe disse: O SENHOR é contigo, homem valente.  (13)  Respondeu-lhe Gideão: Ai, senhor meu! Se o SENHOR é conosco, por que nos sobreveio tudo isto? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o SENHOR subir do Egito? Porém, agora, o SENHOR nos desamparou e nos entregou nas mãos dos midianitas. (Juízes 6:11-13).

Um homem assustado, preparando-se para esconder-se em algum buraco na rocha para não morrer de fome e pronto para fugir do inimigo... Um homem que se considerava desamparado por Deus, invisível... Foi deste homem que Deus estava falando. Você pode não ver qualidades em você, mas Deus verá. Porque Ele não lhe fez para sobreviver e viver escondido apenas garantindo ter o que comer e continuar empurrando a vida para frente. O Senhor nos fez para com o propósito de revelar a sua glória em nós e é assim que Ele nos vê. Mas, para que Ele possa realizar seu plano em nós é preciso que Ele transforme a nossa visão de nós mesmos. É preciso mudarmos o nosso referencial de identidade e aprendermos que somente Ele deve ter a autorização de dizer quem somos, o que podemos e o que temos.
                             
             

O desafio de Deus: Não te mandei eu?


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Entre os dedos das mãos



Observo constantemente as pessoas e suas reações. As minhas reações e a minha compreensão também são alvo de minha maior atenção. Vejo como é fácil se enganar com a quilo que nos é apresentado e entrar em situações-armadilha, onde, achando que estamos resolvendo um problema estamos sendo manipulados e levados para problemas maiores. Vamos refletir sobre isso hoje e esta estória vai nos ajudar...

  Conta-se que certa vez um homem muito maldoso resolveu pregar uma peça em um mestre, famoso por sua sabedoria. Preparou uma armadilha infalível, como somente os maus podem conceber. Tomou um pássaro e o segurou entre as mãos, imaginando que iria até o idoso e experiente mestre, formulando lhe a seguinte pergunta:
  – Mestre, o passarinho que trago nas mãos está vivo ou morto?
  Naturalmente, se o mestre respondesse que estava vivo, ele o esmagaria com as mãos, mostrando o pequeno cadáver. Se a resposta fosse que o pássaro estava morto, ele abriria as mãos, libertando-o e permitindo que voasse, ganhando as alturas. Qualquer que fosse a resposta, ele incorreria em erro aos olhos de todos que assistissem à cena.
  Assim pensou. Assim fez.
  Quando vários discípulos se encontravam ao redor do venerando senhor, ele se aproximou e formulou a pergunta fatal. O sábio olhou profundamente o homem nos olhos. Parecia desejar examinar o mais escondido de sua alma, depois respondeu, calmo e seguro:
  – O destino desse pássaro, meu filho, está em suas mãos. (RANGEL, 2002, p. 6)

O que cada pessoa procura se sobrepõe ao que ela diz e ao que ela faz. Entretanto, perceber a verdadeira intenção é algo quase sobrenatural. Exige sabedoria e inteligência. Olhar além das circunstâncias é algo fundamental, que merece e necessita de um empenho, que, muitas vezes, não estamos dispostos a investir.

É sempre mais fácil reagir impulsivamente, o resultado, na maioria das vezes, é desastroso. Observe a atitude do sábio diante do desafio da pergunta: “O sábio olhou profundamente o homem nos olhos. Parecia desejar examinar o mais escondido de sua alma,”. Muitas pessoas testaram Jesus e Ele nunca caiu nesses testes, outros queriam glorificá-lo como rei, mas Ele sabia qual era seu reino. O Diabo lhe ofereceu todos os reinos da terra, mas Jesus recusou-se a servi-lo em troca de tal promoção. Isso significa que não podemos aceitar todas as ofertas que nos oferecem como direções de solução de problemas. Jesus nunca foi intempestivo nas respostas. Observe a situação de vida ou morte em que lhe trouxeram um teste:

Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, disseram a Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? Isto diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo. (João 8:3-6)

Você se sente pressionado a responder de imediato? Observe esse exemplo.
Ali havia uma multidão, oponentes políticos-religiosos de Jesus e seus próprios discípulos. Imagine se Ele fosse movido por algum pensamento referente à raiva dos opositores: “Vocês, seus hipócritas, lá podem repreender alguém?”. Bom, ele estaria indo contra as autoridades, contra a Lei e poderia ser preso, dando fim à sua credibilidade e ao seu ministério. Agora, se ele fosse responder estilo: “Vocês estão querendo me desmoralizar diante dos meus discípulos? Pega eles, pessoal!” Ou “Não posso ser desmoralizado na frente dos meus discípulos, preciso mostrar que sou o máximo em termos de mestre!”. Ou usaria os discípulos contra os religiosos e certamente seriam presos e machucados ou daria qualquer resposta que lhe pusesse em problemas. E se Jesus tivesse medo de perder a “fama” de Messias? Pensaria: “Vou mandar logo ver na Lei, que aqui eu sou o tal! Resolvo tudo! Sei de tudo! Ninguém é melhor do que eu pra resolver bronca!”.

Só que a referência de Jesus não estava na terra. Ele tinha clareza da sua missão em todos os momentos. Ele ficou lá, quieto, (o que deve ter deixado mais nervosos ainda seus perseguidores). E escrevia na areia... Quer saber o que Ele escrevia na areia? Veja este versículo de uma profecia do Velho Testamento:

Ó SENHOR, Esperança de Israel! Todos aqueles que te deixam serão envergonhados; o nome dos que se apartam de mim será escrito no chão; porque abandonam o SENHOR, a fonte das águas vivas. (Jeremias 17:13)

O nome, para um hebreu, é o que ele é. Ao escrever no chão o nome daquelas pessoas cumpriria a profecia acima e estaria mostrando a injustiça no julgamento daquela mulher. Injustiça de quem exercia o julgamento, porque eles não eram dignos de apontar os erros de ninguém. Além disso, a proposta que parecia um desafio para que Jesus fizesse o que era considerado justo era em si mesma incompleta legalmente, portanto, injusta também. Observe o que a Lei realmente dizia: “Se um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera.” (Levítico 20:10). Onde estava o adúltero? Ele não estava ali sendo julgado. Não se comete adultério sozinha... Mas, certamente que colocar um homem numa posição vergonhosa não ganharia muito apoio em uma comunidade machista. As mulheres eram propriedades dos maridos, não podiam estudar, não saiam à rua, não tinham direito de herança, de voto, de acesso aos cargos públicos, era pouco mais do que uma escrava na época de Jesus. Esses pretensos justos estavam utilizando a injustiça e a incapacidade de defesa de um oprimido para tirar sua vantagem política. Ninguém se poria a favor dela e contra os defensores da Lei de Moisés (mais do que a moral e os bons costumes, pois podiam condenar à morte por apedrejamento). O povo já estava acostumado a ter carne humana e sangue derramado como espetáculo no circo dos romanos, mesmo que esse sangue e carne um dia pudesse ser o seu. Essa é a parte que ninguém pensa: a generalização da Lei.

Como Jesus olhou para o problema?



segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Por uma cultura do Amor



Creio que esse é o tempo de falar de algo que nos escapa no nosso cotidiano e que tem sido deixado de lado pelos educadores e pais é o que chamei de “cultura do amor”. Muitas vezes, essa cultura, (no sentido de cultivo, incentivo, objetivo de relacionamento e estilo de vida), é substituída pela cultura do prazer ou da alegria, mas a cultura do amor é mais do que isso.

Apesar de tanto descaso, o que chamo de cultura do amor é essencial à vida. Isto, se entendermos que vida é mais do que vestir, comer e correr atrás de coisas e posições. Nós precisamos divisar um espaço vital, onde o cuidado é o centro. Pois o cuidado é o centro do amor. Este de que precisamos como o ar e para o qual fomos feitos. O mais sublime e radical amor é o Amor que tudo gerou, o Amor de Deus. Esse amor deveria ser o padrão para os nossos relacionamentos, mas nos perdemos no meio do caminho.

Há que se diferenciar amor de aprovação total. O amor nem sempre aprova tudo o que fazemos, mas nem por isso o diminui. Pois a essência do amor é o cuidado, e não podemos pensar em um cuidado que permita tudo. O amor é também aquele protetor de tomadas na casa dos bebês, o agasalho que impede o frio, a comida quente nas horas certas e da melhor qualidade, que garante a saúde e o crescimento. O amor, acima de tudo, cuida, supre, nutre, aconchega, mas o cuidado também repreende e retém.

Podemos pensar em cuidado sem amor, por interesse, por obrigação, por medo até, mas não podemos pensar em amor sem cuidado. Como dizia o Caetano Veloso: “Se a gente ama, é claro que a gente cuida.” O cuidado mostra o nível da quantidade e da qualidade do amor, é o seu mover e sua prova. E nós fomos chamados à vida para receber e dar cuidado. Quando nos focamos em apenas uma dessas faces do cuidado, adoecemos. Quem somente pensa em receber cuidado é egoísta, está doente. Quem somente pensa em dar cuidado descumpre o mandamento de amar o próximo como a si mesmo, também se compromete. É a dinâmica do cuidado quem move uma vida de qualidade.

O amor de Deus, essencialmente, cuida. Deus criou a Terra com tudo de bom, num perfeito controle de qualidade, encadeou os sistemas de vida até que o centro de sua atenção pudesse ser trazido para um lugar separado exclusivamente e especialmente preparado para ele. Em todas as coisas que Deus criou, Ele disse: “Faça-se...” É uma ordem que libera seu poder criativo. Mas, ao criar os seres humanos, Ele disse: “Façamos o homem...” e além de estar presente em sua plenitude, Ele foi além e disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança...” De toda a criação, o homem foi criado para ser semelhante a Deus e essa semelhança estava numa dimensão especial.

Quando Deus criou o homem, aconteceu o seguinte: “Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.”(Gênesis 2:7). Em português não fica clara a força desse texto. Mas, a palavra fôlego, no original hebraico é a mesma usada para espírito. Então, em toda a criação, Deus compartilhou com o ser humano o espírito, algo que só Ele em sua essência divina possuía. Os demais seres da criação possuem alma, mas o homem recebeu não apenas vida, recebeu a Vida de Deus. O ser humano foi a coroação da criação, Deus tinha alguém com espírito, que podia compartilhar diretamente. Ele tinha encontros diários com Adão para compartilhar e cuidar. Somente quando Deus colocou aqui alguém que podia recriar o céu na terra, Ele declarou que tudo era muito bom (Gênesis 1). 

Essencialmente, Adão e Eva estavam na terra para receberem o cuidado de Deus. Mas um dia, eles se negaram a estarem na dimensão do cuidado e resolveram voltar-se para si mesmos e seus interesses. Não deu certo. Eles perderam a ligação com a Vida de Deus e colocaram obstáculos ao seu cuidado.  Fizeram como até hoje, as crianças que aprontam alguma coisa fazem: escondem o que fizeram e, quando são descobertos, colocam a culpa no irmãozinho ou irmãzinha. Isso impede que a situação se resolva e não a alivia. Entretanto, Deus estendeu as mãos para nós em Jesus. Deus, no seu extremo amor, enviou seu único filho para nos acolher. Jesus é o abraço de Deus para a humanidade sem cuidado. Jesus é aquele que não vai embora mesmo quando todos vão, como Ele disse: “[...] eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.”(Mateus 28:20); É Aquele que toca os leprosos, cobertos de chagas, que ninguém suporta a presença, assim como ele tocou aquele leproso de que fala Mateus 8:1-3. Observe a história:

Ora, descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram. E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. (Mateus 8:1-3).

Jesus parou por Aquele homem desprezado, dirigiu-se diretamente a ele, preterindo toda a multidão que o comprimia e tocou-lhe com seu cuidar, dando-lhe a vida de volta, pois a lepra era uma sentença de morte na ápoca, além de degradação social. Jesus poderia ter dado uma ordem de cura de onde estava, sem sequer ter parado, mas demonstrou cuidado e carinho àquele homem ferido, abandonado e desenganado. Ele aproximou-se e agiu, porque não existe amor sem cuidado e nem cuidado sem ação em favor do outro. 

Além de cuidar, Jesus ainda ensinou a cuidar. Na parábola do samaritano (Lucas 10:30-35), o herói da parábola, que ensina sobre o que é ser próximo, cuida de um desconhecido ferido, com quem tem gastos e a quem supre de todas as necessidades pelo fato de que ele estava incapacitado de fazê-lo por si mesmo. Não existe amor sem cuidado e não existe cuidado sem investimento. Cuidado exige investimento, desprendimento, entrega de afeto, tempo, dinheiro, paciência, confiança e muito mais e tudo o que for necessário para que o outro esteja bem. Uma geração que adora o prazer e o individualismo é, em contrapartida, uma geração abandonada e abandonadora, porque não tem lugar para o cuidado no dicionário com que significa a vida. Se na sua vida você não tiver lugar para a ferida e a desordem do outro, também não haverá lugar para você em vida alguma. Família implica em casa desarrumada, contas a pagar, disputas a resolver, mas é um lugar de cuidado, por isso que é um lugar trabalhoso. Pessoas exigem desordem e desvios dos nossos planos originais para acudi-las. Amar pessoas inclui espaço para o perdão que sara o descuido para que a mágoa e a amargura não ocupem o lugar que seria do amor e do cuidado e os impeçam de fluir nos adoecendo.

Mudando uma geração

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