A astúcia sempre procurará um tolo até encontrá-lo e, nele, a oportunidade de conseguir algo que lhe sairá caro. Convivemos diariamente
num mundo, que estimula a astúcia e disfarça os astuciosos. A fábula de Esopo abaixo
mostra uma situação mais comum do que possa imaginar.
Dona Raposa ia toda faceira
em companhia do seu amigo Bode, aquele dos chifres compridos e que
não via nada além do próprio nariz. Ela era mestra em contar mentiras. Quando
a sede os obrigou a descer em um poço. Lá, cada um satisfez sua vontade. Depois
de tudo o que beberam, a raposa disse para o Bode:
-O que vamos fazer, compadre?
Beber não é tudo, precisamos sair daqui. Fique sobre as patas e deixe seus
chifres assim, contra o muro. Por suas costas, Poderei sair primeiro, pois
com a força de seu chifres e a ajuda das minhas pernas deste lugar eu
sairei. E depois a você ajudarei."
- Pela minhas barbas - diz o
outro - que bondade! Eu felicito pessoas bondosas como você. Eu nunca
teria descoberto esse segredo, pode apostar.
A raposa saiu do poço
deixando seu companheiro, e ainda fez o maior discurso do mundo para
exortar a paciência enquanto subia. Ao sair, disse:
- Se o céu tivesse dado a
você - começou dizendo - mais bom senso do que barba no queixo, você
não teria nunca na vida descido a esse poço. Portanto, adeus, estou fora: Trate
de sair daí por conta própria, porque eu, sem dúvida nenhuma, tenho
mais o que fazer do que ficar aqui parada. E o bode aprendeu a duras penas que
em cada situação é preciso considerar como ela vai acabar.
Uma necessidade em comum, alguns elogios, uma ideia, uma
promessa e todo o passado de intenções da raposa, suas mentiras e enganos foram
esquecidos. Mas, no momento em que suas necessidades individuais foram
satisfeitas, ela deixou o tolo útil no caminho, em maus lençóis.
Muitos confundem cristianismo com tolice e simplicidade
com ingenuidade. Jesus nos alertou: “Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de
lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.”
(Mateus 10:16). Aqui há três lições:
1. Nós
estamos num lugar hostil e não numa colônia de férias. Ovelhas no meio de
lobos estão em RISCO de morte. Elas só permanecerão vivas num lugar cheio de
lobos ao lado do seu pastor. O mais perto possível;
2. É necessário
ter-se prudência. Veja como o dicionário define prudência: “virtude que faz prever e procura
evitar as inconveniências e os perigos; cautela, precaução [...] calma,
ponderação, sensatez, paciência ao tratar de assunto delicado ou difícil.”
(HOUAISS, 2009, p. 2). O bode da fábula não previu a consequência de ficar
dependente de uma pessoa mentirosa e falsa, que só cuidava dos seus interesses.
Ele não pensou que a raposa nunca tinha se interessado em sua amizade até que
ele fosse necessário. Depois, ao entrar no poço, não pensou que teria que sair
e não providenciou uma solução independente da raposa ou uma solução para o
problema. Quantos bodes não conhecemos? Ou pior, quantos bodes não temos sido?
Uma serpente não entra numa toca sem antes rastrear se está segura, não sai de
dia para na ose expor, anda escondida, para não espantar a presa. Ela é
prudente;
3. Não precisamos ficar paranoicos, apenas vigilantes.
É necessário ter-se a simplicidade das pombas. Essa palavra no original é
inocente. O oposto da astúcia. Não é porque os outros são astuciosos que vamos
nos defender com astúcia. A nossa defesa é a prudência, que não nos deixa
desconfiados das más intenções, mas atentos às consequências dos atos e fatos. A
prudência é superior à desconfiança porque ela vai além da intenção de quem
age. Muitas vezes, as pessoas que tomam decisões e caminhos errados não têm más
intenções, somente não foram prudentes, ou não tem todo o conhecimento
necessário. O prudente estará atento e evitará o prejuízo tomando um caminho
diferente. Considere bem quando as possibilidades incluírem dependência total
de outra pessoa, pois a bíblia alerta: “assim diz o SENHOR:
Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o
seu coração do SENHOR!” (Jeremias 17:5).
Se o bode da estória fosse prudente...
Na ilustração, o bode segue com a raposa, uma mentirosa
conhecida, até que ela o usa e deixa em maus lençóis. Somente uma pessoa tola
anda com uma pessoa mentirosa ou que
vive desagradando a Deus. E somente uma mais tola ainda não prova o espírito daqueles
com quem se acompanha, pois está escrito: “amados, não deis crédito a qualquer
espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos
profetas têm saído pelo mundo fora.” (1 João 4:1). É preciso haver
uma nobreza tal na nossa alma que não nos deixemos encantar com a conversa sonora
dos que nos elogiam, inflam o nosso ego e se fazem parecer amigos. Temos a
Palavra como régua para medir isso: “ora, estes de
Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com
toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas
eram, de fato, assim.” (Atos 17:11).
Tem
muito bode virando churrasco porque não presta atenção com quem anda e para
onde está indo. Prove os espíritos, verifique para ver se as coisas são
de fato assim, veja o fim do seu caminho e as implicações das propostas que lhe
fazem. Veja os frutos dessas pessoas que parecem lhe apoiar e decida
conscientemente se é esse fim que você deseja para a sua vida.
Se a raposa fosse fiel e verdadeira...
Na ilustração, a raposa entra
com o bode no poço e os dois não têm como sair de lá. Então, a raposa
utiliza-se do corpo do bode como escada, sobe elogiando-o fartamente e, ao
sair, deixa-o para morrer no poço.
Se a raposa fosse fiel e
verdadeira teria considerado os perigos de entrar no poço antes de os dois se
colocarem naquela situação. Se a raposa fosse fiel e verdadeira, a despeito de
seu proveito pessoal e vantagens com a entrada do bode teria alertado e evitado
que ele se prejudicasse na empreitada no poço. Se a raposa fosse fiel e
verdadeira não teria deixado o bode lá a não ser que fosse para buscar-lhe
ajuda. Se a raposa fosse fiel e verdadeira não seria conhecida por todos como
mentirosa. Se ela fosse fiel e verdadeira não teria lubrificado o ego do bode
durante todo o processo enquanto ele lhe servia.
Pessoas que só elogiam não podem
estar corretas o tempo todo porque nós somos humanos, nós falhamos. Lembre-se: “leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os
beijos de quem odeia são enganosos.” (Provérbios 27:6). É
interessante que a bíblia diz da nossa dificuldade atual de ouvir aquilo que
não nos agrada e que discorda de nós:
Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo
contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que
sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade,
entregando-se às fábulas. (2 Timóteo 4:3-4). Mas, se seus ouvidos coçam
quando alguém lhe diz umas verdades, você está mal espiritualmente. E pior
atrairá mais raposas do que poderá dar conta. Você se encontra à beira de um
abismo chamado soberba. Porque a soberba cega e atrai o mal maior, a desobediência,
Davia temia imensamente:
Também da
soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível
e ficarei livre de grande transgressão. As palavras dos meus lábios e o meditar
do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor
meu! (Salmos 19:13-14)
O
motivo do temor de Davi é que ele sabia que “a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda.” (Provérbios
16:18).
Observe os resultados
Assim, nem tolo e nem astucioso, precisamos ser prudentes
e cuidadosos para não nos envolvermos no pecado. Precisamos valorizar os que
nos alertam e estão realmente preocupados com o nosso bem estar e não com a
utilidade que possamos ter para eles. Não se deixe ser usado por ninguém e nem
procure se relacionar de forma a tirar proveito dos relacionamentos, pois Deus
julgará a todos. Observe a influência das companhias:
As boas companhias nos guiam para Deus: “o justo serve
de guia para o seu companheiro, mas o caminho dos perversos os faz errar.” (Provérbios
12:26); nos trazem sabedoria e não maldade “quem anda com os sábios será sábio,
mas o companheiro dos insensatos se tornará mau.” (Provérbios 13:20) e “o homem
violento alicia o seu companheiro e guia-o por um caminho que não é bom.” (Provérbios
16:29). Isso é visto dentro da sua própria família “o que guarda a
lei é filho prudente, mas o companheiro de libertinos envergonha a seu pai.” (Provérbios
28:7) e naquilo que é precioso para a pessoa: “o homem que ama a sabedoria alegra
a seu pai, mas o companheiro de prostitutas desperdiça os bens.” (Provérbios
29:3).
Procure andar e dar ouvidos a alguém que lhe levante em
Cristo e não quem lhe jogue no poço da morte: “melhor é serem dois do que um,
porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se caírem, um levanta o companheiro;
ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante.” (Eclesiastes
4:9-10).
Deus sempre tem a provisão abundante onde Ele estabeleceu na sua palavra, não deixe ninguém lhe convencer de que é possível ou necessário arriscar-se para consegui-la em outro lugar. A palavra garante:
Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte. (Apocalipse 21:6-8)
Você
pode orar assim:
Querido Deus, faz-me estar
disposto e atento para ser influenciado somente por aqueles que têm compromisso
de fidelidade contigo. Ajuda-me a dar ouvidos somente a ti e às pessoas que
enviaste para a minha vida, mesmo que não me agrade, que a minha vida seja sempre
para te agradar e que eu viva para manifestar a tua glória, em nome de Jesus.
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