terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Trazidos aos braços do Pai




No Sábado passado estava reunida com os jovens, quando de repente disse: “Hoje, vou fazer uma revelação muito importante aqui.” Claro que todos os olhos se arredondaram. Muito mais quando disse o seguinte: “Há alguém aqui que não é filho legítimo, mas adotivo.” Não dá para descrever a reação no grupo... Enquanto todos mastigavam e tentavam engolir uma revelação dessas diante do grupo, eu disse: “Abram suas bíblias em Efésios 1:3-5...” Abriram com uma rapidez invejável. E lemos:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, (Efésios 1:3-5)

 Cada um daqueles que deseja ser abençoado por Cristo, que deseja as bênçãos espirituais em Cristo Jesus, também precisa entender que só conseguirá isso se for adotado por Deus. Se é preciso ser adotado, é porque ninguém nasce filho, apesar do dito popular. Observe a condição em João 1, verso 12: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome;” (João 1:12). Deus moveu-se do seu trono em direção a nós com a intenção não apenas de obter servos, mas de adotar filhos e num conceito de adoção que vem dEle mesmo.

Nós não temos noção do tamanho da revelação do que é o amor de Deus por nós como filhos, senão falar de adoção ou supor que alguém fosse adotado não seria possivelmente vergonhoso, mas uma honra. Alguém que é amado é escolhido para ser amado. Essa pessoa tem certeza de ser querido. Coisa que o filho de sangue nem sempre tem, principalmente aqueles que esperam nas instituições para serem adotados.

A cultura da adoção no Brasil tem suas raízes no preconceito português, que não aceitava nenhuma filiação além da biológica e mantinha todo o tipo de restrições, inclusive (ou principalmente) religiosas aos direitos e identidade dos filhos adotados. A legislação no Brasil é nova e só começou a ser delineada em 1916, permeada de limites de idade e condições de adoção. Em 1957, os filhos adotivos só tinham direito à metade da herança dos filhos. Somente em 1979, os filhos adotivos começara a ter direitos iguais aos filhos biológicos e as próprias crianças deixaram de ser tratadas como propriedade dos pais. E em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente estabeleceu direitos iguais de herança e filiação para os filhos. Porque até bem pouco tempo o registro de filiação indicava se era pai ou mãe adotivos. A base do próprio direito saiu da biologia para a afetividade. Hoje, legalmente, a adoção deve ser compreendida como ato de amor, solidariedade, afetividade e bondade.

Mas acontece algo na adoção, a quebra de todos os vínculos do adotado com sua família de sangue, menos a restrição de casamento. É vida nova, nova família, nova posição e nova herança, novo nome. Esses mesmos princípios vigoravam no período em que Paulo escreveu que os que crêem em Jesus foram predestinados para a adoção.

Na época em que Paulo escreveu o adotante não podia ter outros filhos, deveria ser homem, mais velho que o adotado 18 anos. Existiam dois tipos de adoção. Um que podia ser desfeito e outro definitivo. A crença de que o filho mais velho deveria conduzir o funeral do pai deixava os romanos acessíveis à adoção, para que o filho o conduzisse ao descanso. No caso de adoção permanente e definitiva, um escravo era comprado para ser filho e dar continuidade à vida do pai, honrá-lo na morte e receber sua herança. Nós fomos adotamos por Deus para sermos portadores de sua vida, honrá-lo e receber sua herança.

Além disso, a palavra adoção no grego não é uma agregação do latim ‘adoptio’. É uma conjunção maravilhosa de duas palavras que lhe dão um significado profundo. A palavra é “uiotesia”, conjunção de Uio, filho, e tesia, colocado por Deus. Essa revelação é maravilhosa, porque há duas palavras para filho no grego: uio, filho nascido e criado, filho que goza da intimidade com o pai e teknon, criança, alguém que é filho biológico de uma pessoa. Então, adoção, significa ser tomado por Deus para ser colocado no mesmo relacionamento de um filho querido, íntimo com o Pai, alguém que goza da presença e da amizade do Pai, e mais que foi colocado por Deus nessa posição. Isso não é adoptio, não é romano, não é humano, é uiotesia, vontade de Deus.

Deus tem uma vontade em seu coração para nós, que mudemos a nossa relação de serviço, de medo, de distância, para gozarmos da intimidade devida aos filhos. Em Jesus, não precisaremos entrar temerosos na sala do patrão, mas podemos correr para o trono e ficar nos braços do Pai. Por esse motivo, para nos ter como filhos amados, Ele enviou seu filho amado para morrer na cruz e tirar os pecados dos nossos pais pecadores, e poder nos adotar, cortando os laços com o passado e nossas heranças terrenas nos dar uma nova família, novo status, nova herança, nova vida, nova morada a seu lado. Nós precisamos ser adotados por Deus. Se nós quisermos continuar sendo filhos legítimos, teremos a herança de Adão, mas se compreendermos o poder da adoção, da escolha de Deus, poderemos ouvir com nossos corações: “Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.” (João 15:16).

Filho anda seguro 

Se você tivesse se movido de toda a plenitude da sua Onipotência para alcançar o amor e a intimidade dos homens e mulheres e de repente você só encontrasse o medo, certamente estaria decepcionado. Mas muito pior seria a condição de quem nasceu com a necessidade de ser amado e cuidado como filho e se obriga a viver como se fosse escravo, no máximo um servo doméstico, sofre muito mais. A servidão não precisa e nem deve fazer parte da nossa relação com Deus. Ele é fonte de gozo e solução e não de problema e opressão.

Foi por essa necessidade que Deus enviou o Espírito Santo para nos fazer capazes de estar com o Pai como filhos. Ele nos dá coração de filhos: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai.” (Romanos 8:15 ). É preciso construir essa nova noção de que fomos renascidos como filhos. Filhos que amam servem ao Pai, mas servem porque amam, porque querem agradá-lo e alegrá-lo e não porque o temem. Servem porque sabem que é o melhor para si mesmos e para todos os envolvidos e não há nada melhor, ainda que haja outras formas mais confortáveis.

Jesus veio instaurar um novo relacionamento entre Deus e os homens. Assim, Ele estabeleceu a linha divisória entre o tempo da distância e do medo e o tempo da filiação em amor: “E Moisés era fiel, em toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que haviam de ser anunciadas; Cristo, porém, como Filho, em sua casa; a qual casa somos nós, se guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança.” (Hebreus 3:5-6).

A cruz gerou filhos


A cruz de Cristo não foi instrumento de levantamento de um senso de servidão nos homens, mas da revelação da filiação:

(3)Assim, também nós, quando éramos menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo;  (4)  vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,  (5)  para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.  (6)  E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!  (7)  De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por Deus. (Gálatas 4:3-7)

Jesus não morreu pelos empregados de Deus, mas por seus irmãos e co-herdeiros. Todo filho que trabalha na empresa de seu pai deve ter consciência de que trabalha para si mesmo. O que é do pai é do filho. Jesus veio para aqueles por quem o Pai se interessa. E Deus não precisa de prédios, livros, folhetos, trabalhos, etc. a não ser como instrumentos para alcançar pessoas. Muitas vezes, ao cair no ativismo, trocamos os bens pelas pessoas. Mas Jesus morreu para dar filhos a Deus. Ele negou a si mesmo e se afastou do Pai para que tivéssemos acesso a Ele.

Certa vez estava angustiada e uma irmã muito amada me falou: Lembre-se, antes de ser ministra, você é filha. Receba o colo do seu Pai. Não existe independência e nem emancipação para os filhos de Deus. Temos que nos tornar como criancinhas. Ainda que sejamos adultos, sempre deveremos e poderemos depender dEle.

Filhos amados imitam o Pai


Não sei se vocês conhecem muitos filhos adotivos, eu conheço apenas alguns. Mas aqueles que são amados se tornam muito parecidos com os pais. A convivência forja neles os mesmos gestos e expressões. O caráter de um geralmente impregna o outro. O filho uios é o filho que se embebe do caráter do Pai pela companhia constante, como alguém que recebeu a adoção, no sentido da uiotesia (adoção em grego do novo testamento). O coração que ama adota para receber como filho, junto, ligado, parte do Pai. Aquele que recebeu Jesus, recebe a filiação divina, é colocado por Deus junto ao seu coração, como filho, para embeber-se do caráter de Filho, imitador do Pai: “sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados;  (2)  e andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave.” (Efésios 5:1-2).

Nós precisamos receber de Deus o seu caráter de adotante. Nós precisamos colocar as pessoas a nosso lado como irmãs, como quem pode receber o privilégio de ser filho e serem amados como filhos. Deus abraçou a humanidade no cuidado de Pai e se move todos os dias em socorro de todos. Uns impedem que seus braços os alcancem, outros procuram tirar os braços de Deus de volta das pessoas.

Quando sentimos a dor das pessoas como sendo nossa, nós temos manifestado que o nosso coração foi impregnado pela adoção de Deus, pela sua paternidade. Deus não cruza os braços ao ver o mal, Deus age contra o mal. Deus não fica impassível diante do sofrimento, Ele fez tudo o que pôde para nos socorrer e espera que nós façamos a mesma coisa, aprendendo dEle. Deus espera que transbordemos.

Jesus transbordou alimento aos famintos mesmo quando sabia que muitos estavam ali somente pelo pão. Observe a história:

No dia seguinte, a multidão que ficara do outro lado do mar notou que ali não havia senão um pequeno barco e que Jesus não embarcara nele com seus discípulos, tendo estes partido sós. Entretanto, outros barquinhos chegaram de Tiberíades, perto do lugar onde comeram o pão, tendo o Senhor dado graças. Quando, pois, viu a multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípulos, tomaram os barcos e partiram para Cafarnaum à sua procura. E, tendo-o encontrado no outro lado do mar, lhe perguntaram: Mestre, quando chegaste aqui? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo. (João 6:22-27)

Jesus corrigiu a postura daqueles que só se interessavam em suprir as suas necessidades materiais, mas DEPOIS DE HAVER LHES DADO DE COMER, porque pessoas desmaiadas no deserto com fome não têm interesse num amor que não as mantenha vivas e que não lhes ajude a aplacar as necessidades básicas. Talvez você não possa fazer uma multiplicação de pães e peixes ainda, mas com certeza haverá algo que você possa fazer.

O menino que adotou os que tinham sede


Quero terminar com a história desse menino de seis anos que revolucionou a vida de pessoas que ele nem conhecia na África.

Aos seis anos, Ryan Hreljac, teve compaixão das crianças africanas que morriam de sede e perguntou como poderia ajudar, quanto custaria. Ela lhe contou da existência da WaterCan (ONG), que perfurava poços artesianos e que disse que custavam 70 dólares.
Ruan correu para casa e pediu os setenta dólares à sua mãe, que para ensinar-lhe responsabilidade comprometeu-se a pagar-lhe por pequenos trabalhos em casa. Durante quatro meses ele fez isso.
Quando conseguiu o dinheiro foi até à Watercan. Mas, 70 dólares era o preço somente da bomba, os poços custavam dois mil dólares. Ryan contagiou a mãe, os vizinhos, irmãos e amigos. Todos começaram a doar e vender produtos, fazer doações e pedi-las em nome da causa. Conseguiram setecentos dólares, que foram complementados pela Watercan e o poço de Ryan foi construído em Uganda em 1999, onde milhares de pessoas se beneficiaram com água potável.

Ryan não se deu por satisfeito. Começou a se corresponder com as crianças locais e fez uma amizade especial com Jimmy Akana, que antes do poço andava oito quilômetros para conseguir água de péssima qualidade.
Ryan se tornou cada vez mais próximo da realidade africana e em 2000 foi conhecer Uganda. Na sua chegada havia milhares de crianças aplaudindo o seu feito. Eles gritavam o seu nome e o poço tinha o seu nome. Estava escrito no concreto: “Poço de Ryan. Financiado por Ryan Hreljac, para a comunidade de Angolo”, dizia a placa.

Jimmy foi seqüestrado no meio da noite para ser recrutado ainda criança para o exército rebeldo (junto com outras 20 mil crianças), mas conseguiu fugir e entrar em contato com a família de Ryan que o adotou, depois de muitas dificuldades. Ele hoje é o braço direito de Ryan na Ryan’s Well Foundation (Fundação Poços do Ryan), criada em 2001. A entidade faz apresentações e oferece conhecimento ao mundo todo sobre questões da água.
Em 10 anos de existência, a fundação já ajudou a construir cerca de 630 poços artesianos e 700 latrinas, levando água potável e serviços de saneamento básico para quase 1 bilhão de pessoas no continente africano. Ryan é reconhecido pela Unicef como “Líder Global da Juventude”, Ryan hoje dá palestras em vários países, escolas e igrejas, falando de forma apaixonada sobre a necessidade de água limpa em todo o mundo.

Observem como a palavra-chave da vida desse rapaz é adoção. Ele adotou o povo sedento, o menino seqüestrado da sua infância e os que têm sede na terra. Deus no fala através das crianças e resta a nós a pergunta que Jesus fez: “Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?” (Mateus 21:16).

Você pode orar assim:

Querido Deus, ajuda-me a compreender-me como filho amado. Ajuda-me a unir-me a ti de modo tão intenso que o teu caráter se reflita em mim. Ajuda-me Senhor a ter no coração a grandeza de adotar o meu próximo como igual, sabendo que o Senhor me tornou filho tão amado como seu único filho legítimo, dando a Vida dEle para que eu vivesse tão próximo de ti quanto Ele, para que eu fosse tratado como filho por ti. Ajuda-me a abrir o coração para receber e dar a Tua capacidade de adotar, em nome de Jesus.



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