No Sábado passado estava reunida com os jovens, quando de
repente disse: “Hoje, vou fazer uma revelação muito importante aqui.” Claro que
todos os olhos se arredondaram. Muito mais quando disse o seguinte: “Há alguém
aqui que não é filho legítimo, mas adotivo.” Não dá para descrever a reação no
grupo... Enquanto todos mastigavam e tentavam engolir uma revelação dessas
diante do grupo, eu disse: “Abram suas bíblias em Efésios 1:3-5...” Abriram com
uma rapidez invejável. E lemos:
Bendito o Deus
e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de
bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu
nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante
ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de
Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, (Efésios 1:3-5)
Cada um daqueles
que deseja ser abençoado por Cristo, que deseja as bênçãos espirituais em
Cristo Jesus, também precisa entender que só conseguirá isso se for adotado por
Deus. Se é preciso ser adotado, é porque ninguém nasce filho, apesar do dito
popular. Observe a condição em João 1, verso 12: “Mas, a todos quantos o receberam,
deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu
nome;” (João 1:12). Deus
moveu-se do seu trono em direção a nós com a intenção não apenas de obter
servos, mas de adotar filhos e num conceito de adoção que vem dEle mesmo.
Nós não temos noção do tamanho da revelação do que é o
amor de Deus por nós como filhos, senão falar de adoção ou supor que alguém
fosse adotado não seria possivelmente vergonhoso, mas uma honra. Alguém que é
amado é escolhido para ser amado. Essa pessoa tem certeza de ser querido. Coisa
que o filho de sangue nem sempre tem, principalmente aqueles que esperam nas
instituições para serem adotados.
A cultura da adoção no Brasil tem suas raízes no
preconceito português, que não aceitava nenhuma filiação além da biológica e
mantinha todo o tipo de restrições, inclusive (ou principalmente) religiosas
aos direitos e identidade dos filhos adotados. A legislação no Brasil é nova e
só começou a ser delineada em 1916, permeada de limites de idade e condições de
adoção. Em 1957, os filhos adotivos só tinham direito à metade da herança dos
filhos. Somente em 1979, os filhos adotivos começara a ter direitos iguais aos
filhos biológicos e as próprias crianças deixaram de ser tratadas como
propriedade dos pais. E em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente
estabeleceu direitos iguais de herança e filiação para os filhos. Porque até
bem pouco tempo o registro de filiação indicava se era pai ou mãe adotivos. A
base do próprio direito saiu da biologia para a afetividade. Hoje, legalmente,
a adoção deve ser compreendida como ato de amor, solidariedade, afetividade e
bondade.
Mas acontece algo na adoção, a quebra de todos os
vínculos do adotado com sua família de sangue, menos a restrição de casamento.
É vida nova, nova família, nova posição e nova herança, novo nome. Esses mesmos
princípios vigoravam no período em que Paulo escreveu que os que crêem em Jesus
foram predestinados para a adoção.
Na época em que Paulo escreveu o adotante não podia ter outros
filhos, deveria ser homem, mais velho que o adotado 18 anos. Existiam dois
tipos de adoção. Um que podia ser desfeito e outro definitivo. A crença de que o
filho mais velho deveria conduzir o funeral do pai deixava os romanos
acessíveis à adoção, para que o filho o conduzisse ao descanso. No caso de adoção
permanente e definitiva, um escravo era comprado para ser filho e dar
continuidade à vida do pai, honrá-lo na morte e receber sua herança. Nós fomos
adotamos por Deus para sermos portadores de sua vida, honrá-lo e receber sua
herança.
Além disso, a palavra adoção no grego não é uma agregação
do latim ‘adoptio’. É uma conjunção maravilhosa de duas palavras que lhe dão um
significado profundo. A palavra é “uiotesia”,
conjunção de Uio, filho, e tesia, colocado por Deus. Essa revelação é
maravilhosa, porque há duas palavras para filho no grego: uio, filho nascido e
criado, filho que goza da intimidade com o pai e teknon, criança, alguém que é
filho biológico de uma pessoa. Então, adoção, significa ser tomado por Deus
para ser colocado no mesmo relacionamento de um filho querido, íntimo com o
Pai, alguém que goza da presença e da amizade do Pai, e mais que foi colocado
por Deus nessa posição. Isso não é adoptio, não é romano, não é humano, é
uiotesia, vontade de Deus.
Deus tem uma vontade em seu coração para nós, que mudemos
a nossa relação de serviço, de medo, de distância, para gozarmos da intimidade
devida aos filhos. Em Jesus, não precisaremos entrar temerosos na sala do
patrão, mas podemos correr para o trono e ficar nos braços do Pai. Por esse
motivo, para nos ter como filhos amados, Ele enviou seu filho amado para morrer
na cruz e tirar os pecados dos nossos pais pecadores, e poder nos adotar,
cortando os laços com o passado e nossas heranças terrenas nos dar uma nova
família, novo status, nova herança, nova vida, nova morada a seu lado. Nós
precisamos ser adotados por Deus. Se nós quisermos continuar sendo filhos
legítimos, teremos a herança de Adão, mas se compreendermos o poder da adoção,
da escolha de Deus, poderemos ouvir com nossos corações: “Não fostes vós
que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos
designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que
tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.” (João 15:16).
Filho anda seguro
Se você tivesse se movido de toda a plenitude da sua
Onipotência para alcançar o amor e a intimidade dos homens e mulheres e de
repente você só encontrasse o medo, certamente estaria decepcionado. Mas muito
pior seria a condição de quem nasceu com a necessidade de ser amado e cuidado
como filho e se obriga a viver como se fosse escravo, no máximo um servo
doméstico, sofre muito mais. A servidão não precisa e nem deve fazer parte da
nossa relação com Deus. Ele é fonte de gozo e solução e não de problema e
opressão.
Foi por essa necessidade que Deus enviou o Espírito Santo
para nos fazer capazes de estar com o Pai como filhos. Ele nos dá coração de
filhos: “Porque
não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez,
atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos:
Aba, Pai.” (Romanos 8:15 ). É preciso construir essa nova noção de que
fomos renascidos como filhos. Filhos que amam servem ao Pai, mas servem porque
amam, porque querem agradá-lo e alegrá-lo e não porque o temem. Servem porque
sabem que é o melhor para si mesmos e para todos os envolvidos e não há nada
melhor, ainda que haja outras formas mais confortáveis.
Jesus veio instaurar um novo relacionamento entre Deus e
os homens. Assim, Ele estabeleceu a linha divisória entre o tempo da distância
e do medo e o tempo da filiação em amor: “E Moisés era fiel, em
toda a casa de Deus, como servo, para testemunho das coisas que haviam de ser
anunciadas; Cristo, porém, como Filho, em sua casa; a qual casa somos nós, se
guardarmos firme, até ao fim, a ousadia e a exultação da esperança.” (Hebreus
3:5-6).
A cruz gerou filhos
A cruz de Cristo não foi instrumento de levantamento de
um senso de servidão nos homens, mas da revelação da filiação:
(3)Assim, também nós, quando éramos
menores, estávamos servilmente sujeitos aos rudimentos do mundo; (4)
vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de
mulher, nascido sob a lei, (5) para resgatar os que estavam sob a lei, a fim
de que recebêssemos a adoção de filhos.
(6) E, porque vós sois filhos,
enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! (7) De
sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também herdeiro por
Deus. (Gálatas 4:3-7)
Jesus não morreu pelos empregados de Deus, mas por seus
irmãos e co-herdeiros. Todo filho que trabalha na empresa de seu pai deve ter
consciência de que trabalha para si mesmo. O que é do pai é do filho. Jesus
veio para aqueles por quem o Pai se interessa. E Deus não precisa de prédios,
livros, folhetos, trabalhos, etc. a não ser como instrumentos para alcançar
pessoas. Muitas vezes, ao cair no ativismo, trocamos os bens pelas pessoas. Mas
Jesus morreu para dar filhos a Deus. Ele negou a si mesmo e se afastou do Pai
para que tivéssemos acesso a Ele.
Certa vez estava angustiada e uma irmã muito amada me
falou: Lembre-se, antes de ser ministra, você é filha. Receba o colo do seu
Pai. Não existe independência e nem emancipação para os filhos de Deus. Temos
que nos tornar como criancinhas. Ainda que sejamos adultos, sempre deveremos e
poderemos depender dEle.
Filhos amados imitam o Pai
Não sei se vocês conhecem muitos filhos adotivos, eu
conheço apenas alguns. Mas aqueles que são amados se tornam muito parecidos com
os pais. A convivência forja neles os mesmos gestos e expressões. O caráter de
um geralmente impregna o outro. O filho uios
é o filho que se embebe do caráter do Pai pela companhia constante, como alguém
que recebeu a adoção, no sentido da uiotesia (adoção em grego do novo
testamento). O coração que ama adota para receber como filho, junto, ligado,
parte do Pai. Aquele que recebeu Jesus, recebe a filiação divina, é colocado
por Deus junto ao seu coração, como filho, para embeber-se do caráter de Filho,
imitador do Pai: “sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; (2) e
andai em amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós,
como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave.” (Efésios 5:1-2).
Nós precisamos receber de Deus o seu caráter de adotante.
Nós precisamos colocar as pessoas a nosso lado como irmãs, como quem pode
receber o privilégio de ser filho e serem amados como filhos. Deus abraçou a
humanidade no cuidado de Pai e se move todos os dias em socorro de todos. Uns
impedem que seus braços os alcancem, outros procuram tirar os braços de Deus de
volta das pessoas.
Quando sentimos a dor das pessoas como sendo nossa, nós
temos manifestado que o nosso coração foi impregnado pela adoção de Deus, pela
sua paternidade. Deus não cruza os braços ao ver o mal, Deus age contra o mal.
Deus não fica impassível diante do sofrimento, Ele fez tudo o que pôde para nos
socorrer e espera que nós façamos a mesma coisa, aprendendo dEle. Deus espera
que transbordemos.
Jesus transbordou alimento aos famintos mesmo quando
sabia que muitos estavam ali somente pelo pão. Observe a história:
No dia
seguinte, a multidão que ficara do outro lado do mar notou que ali não havia
senão um pequeno barco e que Jesus não embarcara nele com seus discípulos,
tendo estes partido sós. Entretanto, outros barquinhos chegaram de Tiberíades,
perto do lugar onde comeram o pão, tendo o Senhor dado graças. Quando, pois,
viu a multidão que Jesus não estava ali nem os seus discípulos, tomaram os
barcos e partiram para Cafarnaum à sua procura. E, tendo-o encontrado no outro
lado do mar, lhe perguntaram: Mestre, quando chegaste aqui? Respondeu-lhes
Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes
sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela
comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do
Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo. (João 6:22-27)
Jesus corrigiu a
postura daqueles que só se interessavam em suprir as suas necessidades
materiais, mas DEPOIS DE HAVER LHES DADO DE COMER, porque pessoas desmaiadas no
deserto com fome não têm interesse num amor que não as mantenha vivas e que não
lhes ajude a aplacar as necessidades básicas. Talvez você não possa fazer uma
multiplicação de pães e peixes ainda, mas com certeza haverá algo que você
possa fazer.
O menino que adotou os que tinham sede
Quero terminar com a história desse menino de seis anos
que revolucionou a vida de pessoas que ele nem conhecia na África.
Aos seis anos,
Ryan Hreljac, teve compaixão das crianças africanas que morriam de sede
e perguntou como poderia ajudar, quanto
custaria. Ela lhe contou da existência da WaterCan (ONG), que perfurava poços
artesianos e que disse que custavam 70 dólares.
Ruan correu para casa e pediu os setenta dólares
à sua mãe, que para ensinar-lhe responsabilidade comprometeu-se a pagar-lhe por
pequenos trabalhos em casa. Durante quatro meses ele fez isso.
Quando conseguiu o
dinheiro foi até à Watercan. Mas, 70 dólares era o preço somente da bomba, os
poços custavam dois mil dólares. Ryan contagiou a mãe, os vizinhos, irmãos e
amigos. Todos começaram a doar e vender produtos, fazer doações e pedi-las em nome
da causa. Conseguiram setecentos dólares, que foram complementados pela
Watercan e o poço de Ryan foi construído em Uganda em 1999, onde milhares de
pessoas se beneficiaram com água potável.
Ryan não se deu
por satisfeito. Começou a se corresponder com as crianças locais e fez uma
amizade especial com Jimmy Akana, que antes do poço andava oito quilômetros
para conseguir água de péssima qualidade.
Ryan se tornou
cada vez mais próximo da realidade africana e em 2000 foi conhecer Uganda. Na
sua chegada havia milhares de crianças aplaudindo o seu feito. Eles gritavam o
seu nome e o poço tinha o seu nome. Estava escrito no concreto: “Poço de Ryan.
Financiado por Ryan Hreljac, para a comunidade de Angolo”, dizia a placa.
Jimmy foi seqüestrado
no meio da noite para ser recrutado ainda criança para o exército rebeldo
(junto com outras 20 mil crianças), mas conseguiu fugir e entrar em contato com
a família de Ryan que o adotou, depois de muitas dificuldades. Ele hoje é o
braço direito de Ryan na Ryan’s Well Foundation (Fundação Poços do Ryan),
criada em 2001. A entidade faz apresentações e oferece conhecimento ao mundo
todo sobre questões da água.
Em 10 anos de
existência, a fundação já ajudou a construir cerca de 630 poços artesianos e
700 latrinas, levando água potável e serviços de saneamento básico para quase 1
bilhão de pessoas no continente africano. Ryan é reconhecido pela Unicef como
“Líder Global da Juventude”, Ryan hoje dá palestras em vários países, escolas e
igrejas, falando de forma apaixonada sobre a necessidade de água limpa em todo
o mundo.
Observem como a palavra-chave da vida desse rapaz é
adoção. Ele adotou o povo sedento, o menino seqüestrado da sua infância e os
que têm sede na terra. Deus no fala através das crianças e resta a nós a
pergunta que Jesus fez: “Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus:
Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito
louvor?” (Mateus 21:16).
Você pode orar assim:
Querido
Deus, ajuda-me a compreender-me como filho amado. Ajuda-me a unir-me a ti de
modo tão intenso que o teu caráter se reflita em mim. Ajuda-me Senhor a ter no
coração a grandeza de adotar o meu próximo como igual, sabendo que o Senhor me
tornou filho tão amado como seu único filho legítimo, dando a Vida dEle para
que eu vivesse tão próximo de ti quanto Ele, para que eu fosse tratado como
filho por ti. Ajuda-me a abrir o coração para receber e dar a Tua capacidade de
adotar, em nome de Jesus.
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