Nós temos a tendência de atrairmos todos os nossos conceitos para o lado
físico, palpável. Mas, uma laranja madura é diferente de uma pessoa madura.
Porque uma laranja é só a sua dimensão física que importa, um ser humano possui
uma dimensão que é semelhante a Deus, portanto, invisível. Paulo dizia que, por
fora, ele envelhecia e se desgastava, mas por dentro, ele rejuvenescia a cada
dia: “[...] mesmo que o nosso homem exterior
se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia.” (2
Coríntios 4:16). O apóstolo seguia ficando mais animado a cada dia,
enquanto seu corpo envelhecia e perdia algumas características. Paulo ganhava
maturidade, enquanto conquistava a velhice. Muitos não alcançam a maturidade
enquanto os anos correm. O tempo só dá a oportunidade a quem está disposto a
aprender, mas nenhum aprendizado é automático.
A Palavra de Deus dá muita ênfase à maturidade. Ela a identifica como o
objetivo maior de todos os ministérios na igreja:
11 E ele mesmo concedeu
uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros
para pastores e mestres, 12 com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para
o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo, 13 Até
que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à
perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, 14
para que não mais sejamos como meninos, agitados de um lado para outro e
levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela
astúcia com que induzem ao erro. (Efésios 4:11-14)
Todos os recursos que Deus deu à igreja foi para nos aperfeiçoarmos para
sermos pessoas adultas, varões e varoas, na mesma qualidade da maturidade,
varonilidade, de Cristo. Pessoas maduras são firmes e não serão facilmente
abaladas e dispersadas de um lado para o outro com qualquer coisa que escutam.
Não assumirão como verdade qualquer cochicho ou suspeita. Não viverão assustados
com as novidades más ou cobiçosos, tornando-se facilmente manipuláveis pelos
seus desejos. Maturidade é um assunto que requer reflexão e esforço e sobre
isso vamos escrever hoje.
Crianças fazem birra
Faz parte do desenvolvimento infantil a fase onde a criança começa a
testar o seu controle sobre o meio. Geralmente entre três e quatro anos, a
criança contrariada chora, esbraveja, se joga no chão e faz uma cena de
arrepiar os cabelos. Isso é normal nesse momento da maturidade neuro-psicológica.
É controlado com a firmeza de um não e uma intervenção do(s) seu(s) educador(es).
O problema é fazer cenas por ter sido contrariado aos 30 anos ou mais...
Quando vejo pessoas brigando e esbravejando porque as coisas, as pessoas
ou as situações não foram como ela queria fico pensando na cena da criança
pequena. É difícil não repeti-la, realmente, mas com o passar do tempo vamos
aprendendo que nem as coisas, nem as pessoas e nem as situações são
controláveis para nós, mas nenhuma delas foge às mãos de Deus. Então, um dos
aspectos amadurecimento, segundo Deus, é o processo de crescer em fé o
suficiente para saber que Ele está no controle e nós permanecermos (ou nos
esforçamos para permanecer) calmos enquanto Ele ordena as coisas do modo dELe.
Você queria algo, lutou, fez tudo o que pôde e não conseguiu, não se
preocupe, ninguém lhe roubou, Deus tem coisa melhor para você. Não se jogue no
chão e não esbraveje contra Deus. Não diga que não vai mais fazer o que é certo
porque não recebeu a recompensa que esperava. Obter maturidade vai lhe exigir
silêncio e submissão nos momentos de angústia, assim aprendeu Jeremias:
26 Bom é aguardar a
salvação do SENHOR, e isso, em silêncio. 27 Bom é para o homem suportar o
jugo na sua mocidade. 28 Assente-se solitário e fique em silêncio;
porquanto esse jugo Deus pôs sobre ele; 29 ponha a boca no pó; talvez
ainda haja esperança. (Lamentações 3: 26-29)
As crianças espirituais se rebelam, os adultos silenciam e servem,
confiando na sabedoria e na bondade do Pai, a qualquer custo e em qualquer
situação.
A infantilidade espiritual e a carne
Paulo tinha um problema com a carne na igreja de Corinto. Eles eram tão
imaturos que Paulo não podia avançar com o ensino de princípios mais profundos da
Palavra de Deus, por isso, dizia:
1 Eu, porém, irmãos, não vos
pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo.
2 Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis
suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais. (1 Coríntios
3:1-2).
Essa imaturidade se mostrava na disputa por cargos e nas dissensões na
igreja. Havia disputas entre grupos pelo prestígio e pelo poder de uns sobre os
outros, ao invés de serviço em amor. A glória estava sendo dada e disputada
entre os homens, a igreja tinha se transformado em uma entidade filantrópica,
um clube ou algo semelhante. Veja o relato de Paulo:
3 Porquanto, havendo
entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o
homem? 4 Quando, pois, alguém diz: “Eu sou de Paulo”, e outro: “Eu, de
Apolo”, não é evidente que andais segundo os homens? 5 Quem é Apolo? E
quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor
concedeu a cada um. 6 Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de
Deus. 7 De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas
Deus, que dá o crescimento. 8 Ora, o que planta e o que rega são um; e
cada um receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho. 9 Porque
de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós. (1
Coríntios 3: 3-9)
Nada deixa uma criança mais feliz do que receber toda a atenção para si,
mas assim se gera uma criança sem limites, sem noção de alteridade. O outro nada
significa. Crianças têm muita dificuldade de abrir mão de qualquer coisa pelos
outros, por mais que os amem. A criança quer a mãe e o pai em torno de si o
máximo de tempo, choram quando eles se afastam ou dão atenção a outra pessoa e
quando seu coleguinha pega seu brinquedo; desarrumam tudo e não colocam no
lugar; não têm tempo nem hora para nada, até que tenham maturidade biológica e educadores
para lhe colocar limites no seu egocentrismo. É preciso aprender a abrir
mão, obedecer e a servir enquanto se cresce.
Ser criança até os dez onze anos de idade é uma coisa, mas além dessa
idade se torna problemático. Numa criança normal o egocentrismo deve
desaparecer em função da socialização no período dos seis aos onze anos. Uma
igreja cheia de crianças espirituais só esperando elogios, pessoas perfeitas
que as sirvam, e que tudo gire em torno das suas expectativas, não é só
impossível, é uma mentira que o diabo tem pregado a muitos para destruir as
igrejas. Qualquer decepção, choque ou limitação você “fica de mal” e diz
“também não quero mais!”. Isso é sinal de imaturidade espiritual.
Crianças agem assim, ou dizem: “Sou do grupo de louvor, eu sou o máximo,
apareço lá na frente!”. Ou “eu sou do grupo de evangelismo e trago as pessoas
para a igreja, meu grupo é que é o máximo!”. “Sou do grupo do Pastor X, ele
prega melhor que todos aqui!”. Às vezes disfarçada, às vezes não, esta
competição interna mata o maior poder da igreja que é a unidade. É isso que
transforma uma igreja num clube ou pior vários times.
Meninos nas praças
As praças eram os lugares onde os meninos se
reuniam para brincar no tempo de Jesus (Zacarias 8:5). Crianças brincando na
praça era sinal de um tempo de paz. Pensar em crianças sentadas nas praças é
até estranho. Aliás, pensar em crianças sentadas já é estranho. Quem já lidou
com grupos de crianças sabe que, raramente, eles param quietos. Jesus usa um
momento desses para exemplificar a imaturidade dessa geração:
16 Mas a quem hei de comparar esta geração? É semelhante a meninos que,
sentados nas praças, gritam aos companheiros: 17 Nós vos tocamos flauta,
e não dançastes; entoamos lamentações, e não pranteastes. 18 Pois veio
João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem demônio! 19 Veio o Filho do
Homem, que come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de
publicanos e pecadores! Mas a sabedoria é justificada por suas obras. (Mateus
11:16-19).
É um grupo de crianças tentando controlar outro. Um grupo senta e
reclama dos outros que brincam, mas não da forma como agradaria ao primeiro.
Quem nunca recebeu uma crítica de quem não está fazendo absolutamente nada,
principalmente depois que aquilo que eles não quiseram se mover para fazer está
pronto? Sentar, cruzar os braços e criticar é coisa de criança mal orientada.
O fazer com simplicidade e inteireza de coração é coisa de quem tem o
coração de criança no bom sentido: alegre, flexível e obediente. Essas crianças
no bom sentido, são os que servem ao Senhor com alegria e com o que possuem,
nas suas limitações e na graça do Senhor. A criança fora do tempo, o imaturo
espiritualmente, tem o coração crítico e ferino. Mas, a criança que o Senhor
elogia é a que age nEle com simplicidade, o filho, que nunca deixará de ser uma
criança aprendiz do Pai. Aqueles de quem Jesus falou: “3 E disse: Em verdade vos digo que, se não vos
converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no
reino dos céus. 4 Portanto, aquele que se humilhar como esta criança,
esse é o maior no reino dos céus.” (Mateus 18:3-4).
Adultos e crianças
A igreja é uma família. A família de Deus. Sempre haverá crianças e
adultos. É preciso saber conviver com todos eles. Haverá aqueles que só querem
receber e as coisas do seu jeito, para seu conforto e prazer e aqueles que
cresceram e podem servir, e portanto, reinar. Por isso, o Senhor diz para ter
paciência com as crianças espirituais:
1 Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e
não agradar-nos a nós mesmos. 2 Portanto, cada um de nós agrade ao
próximo no que é bom para edificação. 3 Porque também Cristo não se
agradou a si mesmo; antes, como está escrito: As injúrias dos que te ultrajavam
caíram sobre mim. 4 Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso
ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das
Escrituras, tenhamos esperança. 5 Ora, o Deus da paciência e da consolação vos
conceda o mesmo sentir de uns para com os outros, segundo Cristo Jesus, 6
para que concordemente e a uma voz glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo. (Romanos 15:1-6).
Enquanto os imaturos estão sempre focados no que receber, os amadurecidos
precisam estar focados no que podem dar
e como ajudar os primeiros a tornar-se servos. Vamos à Palavra para nos
fortalecer, isso vai evitar estarmos sendo, ora atraídos por um desejo, ora
expelidos por uma mágoa, nos desviando sempre dos caminhos do Senhor, que são
retos. Observe a capacidade de Jesus ficar impermeável às injúrias. Ele demonstrava
maturidade. Ele é nosso modelo de maturidade, o varão perfeito. Nada o abalou
nem o deformou porque Ele não absorvia o que a situação queria lhe dar, mas
estava cheio do compromisso com a vontade do Pai. A paciência e a consolação
das Escrituras trarão a unidade e a glória de Cristo para a igreja.
É preciso desejar crescer
Pedro nos ensina isso:
1 Despojando-vos, portanto, de
toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências,
2 desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite
espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, 3
se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso. 4 Chegando-vos para
ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e
preciosa, 5 também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa
espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios
espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. (2 Pedro 2:1-5)
É fundamental uma atitude de buscar a mudança, o desejo de crescer. Não
há nada que uma criança deseje mais do que ser “gente grande”. Como o
crescimento dela é físico, ainda que, mais tarde, ela se arrependa do desejo,
quando chegam os desafios da idade adulta, ela crescerá independentemente de
sua vontade. Já o crescimento espiritual depende de esforço sobre o desejo de
crescer e de tomar o leite espiritual genuíno, a Palavra de Deus para a sua
vida, aproximando-nos de Cristo e abrindo mão do que for preciso por esta
identidade com Ele.
Assim, buscar a
maturidade nos deixará firmes na fé e compromissados no serviço de Deus. Nós
poderemos abrir mão de nossos desejos pela vontade do Pai e poderemos lidar com
aquilo que não conseguirmos sem fazer birra. As crianças espirituais se rebelam, os
adultos silenciam e servem, confiando na sabedoria e na bondade do Pai, a
qualquer custo e em qualquer situação. A imaturidade nos fará buscar os cargos,
os elogios e as posições de destaque, a maturidade nos levará ao serviço em
amor, independentemente de qualquer status atribuído. O compromisso é com
Cristo e a recompensa vem de Deus. A maturidade faz servir, mas a imaturidade
leva à acomodação, à inveja e à crítica. Além disso, o motor da maturação
espiritual é o desejo de crescer, sem ele, estamos fadados a sermos eternas
crianças e sofreremos as consequências dessa imaturidade.
Você pode orar assim:
Senhor, ajuda-me, constrói a tua maturidade em mim.
Eu preciso que me desperte para essa necessidade de me dobrar à tua vontade,
cuidar do meu irmão e aceitar o teu guiar em todas as áreas da minha vida,
vivendo a tua Palavra em amor e em serviço, em nome de Jesus.
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