Sabe aquela pessoa boazinha? Aquela que faz tudo para todo mundo, que
fica mal se desagrada alguém e que não consegue dizer não? Se é esse seu modelo
de cristão eu quero lhe dizer que você se enganou. Ser cristão é ser como Jesus
e Jesus era dono de uma personalidade extremamente serena e forte. Ele não
precisava que ninguém dissesse quem Ele era, por isso, nunca estava ocupado em
impressionar ou agradar as pessoas, apesar de que sempre estivesse ocupado em
cuidar delas.
Jesus sabia não ser aceito e falar, mesmo quando as pessoas não queriam
escutar: “em verdade, em verdade te digo que
nós dizemos o que sabemos e testificamos o que temos visto; contudo, não
aceitais o nosso testemunho.” (João 3:11). O fato de ser mal
compreendido ou rejeitado no que dizia não o incomodava ou mudava sua
disposição. Ele sempre quis conquistar a todos, mas com aquilo que Ele era e
não se tornando mais um a cumprir os nossos caprichos. É por isso que muitas
pessoas adoram um deus para cada coisa: deus da prosperidade; o deus da saúde;
às vezes um só para visão; outro para os problemas profissionais; etc. Cada
deus serve a uma utilidade, então recebe uma oferenda específica por “benção”
alcançada.
Entretanto, Jesus é a imagem de Deus e Ele não se submete a essas regras
de sedução baratas que se veem nas revistas femininas do tipo “Como enlouquecer
o seu amado”. Uma roupa sexy, um jantar, uma noite quente e ele estará para
sempre... Enjoado de tanta facilidade e partindo para outra cama, outra mesa e
uma noite diferente na próxima semana. Jesus não se vende ou se corrompe por
qualquer coisa diferente de nosso amor, que leva à obediência, e nossa fé nas
suas promessas.
Jesus não precisa de nós para ser quem Ele é. Não somos nós quem o
definimos, pelo contrário, é Ele que nos define. Ele é o primeiro filho, nosso
modelo: “porquanto aos que de antemão
conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a
fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” (Romanos 8:29). Certamente,
não haverá ninguém mais firme nos seus propósitos e convicções do que Jesus.
Ele não ficava mudando a todo momento para que as pessoas gostassem dEle, mas
as pessoas que gostavam do que Ele era se aproximavam dEle para compartilhar
com Ele.
Quando as pessoas lhe respeitam, começam a se aproximar de você. Mas
isso só acontece quando você mesmo se respeita. Quando você não se dá valor,
você deixa de ser interessante, não importa quanto você tente agradar. Aliás,
tentando agradar com tanta força, você se torna cada vez mais desinteressante
porque nem você valoriza o que tem, se dando tão barato e fácil.
Jesus se entrega mais a quem se dá mais a Ele e Deus também. Jesus
disse: “e todo aquele que tiver deixado
casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe [ou mulher], ou filhos, ou campos,
por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais e herdará a vida eterna.”
(Mateus 19:29) e Deus já havia dito: “a
intimidade do SENHOR é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua
aliança.” (Salmo 25:14).
Você oferece um diamante, mas a pessoa quer continuar usando plástico ou
zircônio, de quem é o problema? As pessoas nunca darão valor ao que você traz
consigo se você não valorizá-lo primeiro, repito... Tudo o que você oferece
insistentemente levanta a suspeita de que não é tão bom assim. Se alguém lhe
oferecesse uma bolsa “original” Dior por cinqüenta reais, você não iria
acreditar. Uma TV de 42 polegadas por esse preço sugeriria mercadoria roubada
ou contrabando. Cada coisa deve ter seu valor real, mas a diferença entre as
coisas e você é que você pode e deve assumir o valor que realmente tem: “por preço fostes comprados; não vos torneis escravos de
homens” (1 Coríntios 7:23) e “sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como
prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos
pais vos legaram,” (1 Pedro 1:18). Se você abrir mão dos seus
princípios, opiniões e direitos por qualquer motivo ou pessoa, a qualquer hora,
quem você será? O que restará de você? Jesus não era assim. Não tente usar a
desculpa de ser cristão para ocultar o fato de que não sabe ou não atenta para
o Deus que lhe disse que você era tão precioso quanto seu Filho Amado, seu
Único Filho, Jesus, dado por você.
Saindo da mendicância
Então, de onde vem essa ideia de que devemos mendigar atenção e tudo o
mais de todas as pessoas, quando desejamos proximidade? Mulheres deveriam
prestar uma atenção especial nessa frase... Mas, vou frisar aquele momento quando
você vai falar de Jesus para alguém. Essa Palavra, que você está dando carrega a
oportunidade de receber uma bênção maravilhosa, mas, se a pessoa não quer...
Paciência. Não é você nem a Palavra, que não possuem valor é a pessoa que não
sabe atribuí-lo. Não é o caso de irritar-se ou sentir vergonha. É o caso de
seguir em frente e orar mais para que os olhos cegos possam ver o valor do
diamante, que está sendo oferecido.
Se você não der valor ao que oferece, a pessoa a quem você oferece não
terá ânimo de fazer um esforço para alcançá-lo. As pessoas iam a Jesus ou Ele
chamava a atenção delas porque Ele levava consigo algo que elas precisavam. Às
vezes as pessoas percebiam logo, como as multidões que o seguiam, a outras,
como à mulher samaritana, Ele mostrava que possuía essa preciosidade. Mas Ele
nunca insistia ou baixava o preço para elas levarem consigo uma proposta forçada
ou adaptada de Si mesmo. As concessões excessivas ou a ânsia de agradar baixam
seu valor em qualquer situação.
O poder verdadeiro da sabedoria
De nada vai adiantar você ter um doutorado, saber defender suas ideias em
uma discussão sobre política internacional ou entender de investimentos, para
realmente atrair a atenção das pessoas. Só conhecimento é insuficiente. Atenção
tem mais a ver com atitude do que com conhecimento. Jesus não respondia tudo o
que lhe perguntavam, mas dava todas as respostas que eram necessárias.
Às vezes, Jesus respondia com um gesto de aparente indiferença,
escrevendo na areia enquanto lhe propunham armadilhas (João 8); às vezes, com
uma atitude massiva de energia, derrubando o que Ele considerava inaceitável
como na derrubada da mesa dos cambistas no templo (Mateus 21:12); às vezes,
propondo uma conversa; outras, fazendo perguntas. E assim, Ele sempre estava no
controle do desfecho da situação. Mas se ele tivesse essa necessidade de
agradar e de “estar bem na fita”, que agendaram para o cristianismo de hoje,
não teria essa capacidade.
Para ter sabedoria é preciso ter uma prioridade: não desagradar a Deus: “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria; revelam
prudência todos os que o praticam. O seu louvor permanece para sempre.” (Salmo
111:10). Você pode parafrasear o sentido inverso desse versículo:
“o temor de desagradar aos homens é o princípio da tolice; revelam imprudência
todos os que o praticam. A sua vergonha permanece para sempre.” Pode crer, uma
pessoa que não demonstra medo de seguir sozinha é muito mais atraente e
interessante porque ela valoriza o seu caminho.
A síndrome do “sempre disponível”
Uma pessoa adulta tem agenda própria. Não existe um adulto sem
responsabilidades. Mas, existem pessoas que acham que devem tratá-la como
insignificante diante do menor aceno dos outros. O equilíbrio nos manda
construir a agenda e ouvir as preferências e propostas alheias e saber o que
pode ser negociado ou não. Mas, se seus amigos e seu amor fazem você rasgar a
agenda por qualquer convite, você não tem compromisso consigo mesmo, por que
alguém manteria um compromisso com você? Se você não consegue se respeitar,
como espera que alguém lhe respeite?
Mas, se você pode negociar mantendo suas prioridades, você obterá
respeito dos outros porque você assumiu esse respeito. Você existe para você,
existirá então para os outros. Se você não se tratar como acessório outras
pessoas o verão como além de um acessório. O equilíbrio está entre a
possibilidade de negociação, seus princípios e alvos e as propostas recebidas.
Não desmantele sua vida somente para agradar aos outros. O que restará para
dividir com as pessoas, se na sua vida você só tem o que é dos outros? Não se
engane, Jesus só se entregou na cruz uma vez. Outras vezes, Ele se isolou para
orar, dormiu, pediu espaço à multidão subindo em um barquinho... As pessoas não
ditavam a sua entrega, a sua missão era o limite da sua entrega.
Se você sempre larga tudo o que é seu para estar com alguém ou atender alguém,
você não está fazendo como Jesus. Está alimentando alguma acomodação em alguém.
E isso não faz bem a ninguém, muito menos a você. Seu sacrifício será em vão. Pessoas
exploradoras a cercarão de elogios e de pedidos e você estará nas suas mãos
enquanto for útil, depois será material para descarte. Da mesma forma que você
se despreza, receberá desprezo. Valorize-se!
Pessoas “boazinhas” sofrem caladas, Pessoas inteiras colocam limites
Não é estando ao lado de alguém, que você está em sua companhia. Pais,
mães, esposos, esposas deviam aprender com as crianças. Quando eu era criança
tinha muitos primos. Fazíamos a roda das brincadeiras. Colocávamos na roda cada
brincadeira que queríamos. Todos podiam opinar nisso. Depois, votávamos para
decidir qual brincadeira iríamos jogar juntos. A maioria ganhava. Mas, quem não
queria jogar aquilo de maneira nenhuma, esperava a brincadeira acabar para
brincar na seguinte ou ia para outro lugar fazer outra coisa porque a
brincadeira não lhe interessava. Ninguém se sentia desrespeitado ou abandonado
porque o outro não queria aquela brincadeira. Não se escolhiam pessoas,
escolhiam-se atividades e todos eram livres para seguir ou não a maioria.
Se seu namorado quer assistir o jogo e você detesta futebol, porque você
se sente obrigada a assistir com ele? Se você gosta de balé, porque seu
namorado é obrigado a lhe acompanhar, se ele não gosta? Por que algum dos dois
deve deixar de ir aonde gosta? Ou ir aonde não tolera? Se você não morre de
amores e ainda tolera, pode ser um carinho ir até lá para fazer companhia e
deixar o parceiro ou a parceira, o amigo ou a amiga feliz, mas se não tolera,
espere a rodada seguinte e pegue a próxima brincadeira.
Isso não tem nada a ver com desamor, pelo contrário, o amor carrega
consigo o respeito. E respeito é uma coisa que se você não der a si mesmo,
ninguém mais dará. Ninguém pode amar o próximo sem amar a si mesmo. É preciso
tanto respeitar o que recebe, quanto o que não recebe do outro; o que dá e o
que não dá ao outro. Senão, seremos mascarados até que a máscara caia. Essa
postura vai ajudar a cumprir esse versículo: “Fazei
tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e
sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e
corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo,” (Filipenses 2: 14-15). Quando
uma pessoa sabe que você pode dizer que gosta ou não gosta, vai ou não vai, ela
confia que você está com ela inteiro ou inteira.
Equilíbrio é fundamental
Não estou falando do egoísta, que não cede aos desejos do outro, estou
falando do íntegro que não precisa se violentar para fazer o que o outro quer,
quando aquilo é um tédio ou até uma agressão para ele ou ela e a pessoa
permanece ali se torturando sem necessidade. Se você gosta de alguém deve
aprender a aproveitar os pontos em comum e saber respeitar os que são
diferentes porque eles são os preciosos indicadores de que existe mais de uma
pessoa na relação. Pessoas diferentes, gostos diferentes, atividades
diferentes. Nem melhores ou piores, diferentes.
Esse é o princípio do respeito que é imprescindível em qualquer tipo de
relacionamento. As pessoas podem estar juntas, mas fazendo coisas diferentes de
diferentes formas. Quando Jesus apareceu ressuscitado, Pedro estava pescando,
mas tinha tirado a túnica (João 21:7); uns discípulos estavam em Jerusalém,
outros no caminho para Emaús, mas todos eram discípulos. A diferença na
atividade não foi problema para Jesus, não deve ser para nós. A diferença na
intenção, nos valores e no foco, essa sim, era importante para Jesus.
Às vezes, consumimos energia demais para fazer alguma coisa para alguém
quando não era necessário. Quando nos esmeramos demais para suprir os desejos
dos outros, os expressos e os imaginados por nós, só conseguimos gerar mais
desejos a serem atendidos. Geramos pessoas preparadas apenas para receber. Você
não dá chance nem para a pessoa retribuir...
Estimulando a retribuição
Espere até que a outra pessoa perceba qual é a parte dela na troca. Todo
relacionamento deve receber a contribuição de todas as partes: “de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo
auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu
próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.” (Efésios 4:16).
Mas não pense que falando horas a fio conseguirá alguma mudança. Quando
você liga a “Rádio Chorosa” e começa o programa “Reclame o quanto puder” sua
audiência cai abaixo de zero. Morar com quem gosta de discutir por tudo é pior
do que morar debaixo da biqueira: “melhor é
morar no canto do eirado do que junto com a mulher rixosa na mesma casa.”
(Provérbios 21:9; 25:24); do que no deserto “Melhor é morar numa terra deserta do que com a mulher
rixosa e iracunda.” (Provérbios 21:19); e lembra um goteira pingando
a noite toda: “o gotejar contínuo no dia de
grande chuva e a mulher rixosa são semelhantes;” (Provérbios 27:15).
O exemplo de Sara
Sara não falava frases longas, mas Abraão a escutava. Uma conversa de
Abigail com Davi (1 Samuel 28) foi suficiente para resolver o problema de toda
a sua casa. Não é a insistência ou o choro ou a sedução que convence, mas a
atitude e o argumento. Se você agir como alguém que tem importância, seu amor
lhe dará importância. Não precisará alterar a voz, bater na mesa, choramingar,
fazer chantagem, ser violento com gestos e palavras, nenhuma dessas cenas. Diga
o que aceita e o que não aceita. O que é justo e o que não é justo. Sara é
colocada como modelo e veja o que ela disse a Abraão:
Vendo Sara que o filho de Agar,
a egípcia, o qual ela dera à luz a Abraão, caçoava de Isaque, disse a Abraão:
Rejeita essa escrava e seu filho; porque o filho dessa escrava não será
herdeiro com Isaque, meu filho. Pareceu isso mui penoso aos olhos de Abraão,
por causa de seu filho. (Gênesis 21:9-11).
Se você ler o restante da história, verá que Deus fez Abraão escutar
Sara com essas poucas palavras. E se Deus não tivesse agido ela poderia falar
até ficar sem língua. E o fato de ter falado algo que Abraão não gostou de
ouvir não impediu que Sara fosse classificada como submissa ao marido, ou seja,
alguém que respeitava a liderança do marido:
5 Pois foi assim também
que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em
Deus, estando submissas a seu próprio marido, 6 como fazia Sara, que
obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos tornastes filhas,
praticando o bem e não temendo perturbação alguma. (1 Pedro 3:5-6).
Ninguém pode ser verdadeiramente respeitoso com outra pessoa sem
primeiro respeitar a Deus ou a si mesmo. Pense nisso, é o que a bíblia ensina.
Não sejamos mendigos de atenção e amor. Valorize-se no valor que Deus lhe
atribuiu: Jesus.
Além disso, saiba que só conhecimento é insuficiente. Tem mais a ver com
atitude do que com conhecimento. Pra ter a verdadeira sabedoria é preciso uma
prioridade: não desagradar a Deus. Pode crer, uma pessoa que não demonstra medo
de seguir sozinha é muito mais atraente e interessante. É preciso saber manter
o tempo e o espaço para ser na sua vida, encontrando lugar para você e para as
pessoas, mas sem a tendência de que você seja a última posição na escala de
prioridades em relação ao capricho dos outros. Se é necessidade, é óbvio que
devemos acudir, mas não estamos aqui para sermos instrumentos dos caprichos
alheios. Precisamos gerar relacionamentos recíprocos. E para isso é mais
importante a postura e o discernimento do que a ditadura do verbo.
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