Vivemos numa sociedade de muitos automatismos, isto
é, do imediatismo e da facilitação. Máquina de refrigerante: uma cédula, pedido
atendido. É quase a versão do gênio de Aladim para matar a sede. Elevadores ao
toque de um botão. Portas se abrem até sem tocar botões. O carro nos carrega a
todo lugar. Sem ar-condicionado, nem pensar. As compras nos entregam em
domicílio... Então, um dia, a vida mostra sua face real. Ela não é
fácil, imediata ou automática. Não está em promoção no shopping com entrega em
domicílio. Não vem nem com ar-condicionado de fábrica, muito menos com direção
hidráulica. Cada dia tem o seu calor e cada manobra o seu peso direto. Então,
como reagir às coisas que demandam tempo, perseverança, amor, que são de
difícil acesso e não são automáticas, ou mais, as que não são compradas no
shopping ou pela internet?... Estamos preparados para isso?
Essa experiência narrada por Pierre Schurmann,
membro da família Schurmann, que passou anos navegando em um veleiro pelo
mundo, e que, hoje, é empresário, ilustra bem a reflexão que quero fazer sobre
isso:
Outro dia, tive o privilégio de fazer algo que
adoro: fui almoçar com um amigo, hoje, chegando perto de seus 70
anos. Gosto disso. São raras as chances que temos de escutar suas
histórias e absorver um pouco de sabedoria das pessoas, que já passaram por
grandes experiências nesta vida.
Depois de um almoço longo, no qual falamos bem pouco
de negócios, mas muito sobre a vida, ele me perguntou sobre meus negócios.
Contei um pouco do que estava fazendo e, meio sem querer, disse a ele:
-Pois é. Empresário, hoje, tem de matar um leão por
dia.
Sua resposta, rápida e afiada, foi:
-Não mate seu leão. Você deveria mesmo era cuidar
dele.
Fiquei surpreso com a resposta e ele provavelmente
deve ter notado minha surpresa, pois me disse:
- Deixe-me lhe contar uma história que quero
compartilhar com você.
Segue, mais ou menos, o que consegui lembrar da
conversa:
- Existe um ditado popular antigo que diz que temos
de "matar um leão por dia". E por muitos anos, eu acreditei
nisso, e acordava todos os dias querendo encontrar o tal leão. A vida foi
passando e muitas vezes me vi repetindo essa frase. Quando cheguei aos 50
anos, meus negócios já tinham crescido e precisava trabalhar um pouco menos,
mas sempre me lembrava do tal leão. Afinal, quem não se preocupa, quando
tem de matar um deles por dia?
Pois bem. Cheguei aos meus 60 e decidi que era hora
de meus filhos começarem a tocar a firma. Mas qual não foi minha surpresa ao
ver que nenhum dos três estava preparado! A cada desafio que enfrentavam,
parecia que iam desmoronar emocionalmente. Para minha tristeza, tive de voltar
à frente dos negócios, até conseguir contratar alguém, que hoje é nosso
diretor-geral. Este "fracasso" me fez pensar muito. O que fiz de
errado no meu plano de sucessão? Hoje, do alto dos meus quase 70 anos, eu tenho
uma suspeita: a culpa foi do leão.
Novamente, eu fiz cara de surpreso. O que o leão
tinha a ver com a história? Ele, olhando para o horizonte, como que
tentando buscar um passado distante, me disse:
- É. Pode ser que a culpa não seja cem por cento do
leão, mas fica mais fácil justificar dessa forma. Porque, desde quando meus
filhos eram pequenos, dei tudo para eles: Uma educação excelente,
oportunidade de morar no exterior, estágio em empresas de amigos. Mas, ao dar
tudo a eles, esqueci de dar um leão para cada, que era o mais importante. Meu
jovem, eu aprendi que somos o resultado de nossos desafios. Com grandes
desafios, nos tornamos grandes. Com pequenos desafios, nos tornamos pequenos.
Aprendi que, quanto mais bravo o leão, mais gratos temos de ser.
Por isso, aprendi não só a respeitar o leão, mas a
admirá-lo e a gostar dele. Que a metáfora é importante, mas errônea: não
devemos matar um leão por dia, mas sim cuidar do nosso. Porque o dia em que o
leão, em nossas vidas morre, começamos a morrer junto com ele.”
Depois daquele dia, decidi aprender a amar o meu
leão. E o que eram desafios se tornaram oportunidades para crescer, ser
mais forte, e "me virar" nesta selva em que vivemos. A
capacidade de luta que há em você, precisa de adversidades para
revelar-se.
A bíblia diz que “bem-aventurado o homem que suporta a tentação;
porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem
prometido aos que o amam.” (Tiago 1:12). Os leões fortaleceram grandes homens:
·
Sansão
mostrou sua força e a transformou em sabedoria a partir do ataque de um leão
(Juízes 14:5-20);
· Davi
encontrou forças para derrotar Golias, com 3,20m de altura, por ter enfrentado um
leão (1 Samuel 17:34-38);
·
Daniel
mostrou a glória de Deus ao enfrentar uma cova cheia de leões famintos (Daniel
6:16-27);
·
Benaia foi
colocado entre os valentes de Davi por ter vencido um leão em meio à neve (2
Samuel 23:20);
Quem seriam esses homens sem os seus leões? Que
histórias se contam daqueles que fugiram dos seus leões e dos que nunca os
enfrentaram? Na realidade, o leão ensina ousadia: "o leão, o mais forte entre os
animais, que não foge de nada;" (Provérbios 30: 30); "os ímpios
fogem sem que haja ninguém a persegui-los; mas os justos são ousados como
um leão." (Provérbios 28 : 1). E também ensinam respeito: "rugiu o leão, quem não temerá?
Falou o Senhor DEUS, quem não profetizará?" (Amós 3 : 8).