quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Vencendo a injustiça


Há um clássico da literatura que você deve conhecer ou já ter ouvido falar. Chama-se Dom Quixote, é de Miguel de Cervantes, escritor espanhol do século XVII. Conta a estória de um barbeiro de uma pequena cidade, que, cansado de sua vida modesta e enfadonha, fixado em estórias da cavalaria da idade média, entrou em um mundo fantasioso, no qual ele mesmo tornou-se Dom Quixote de La Mancha, montado em um pangaré velho, seu alazão Rocinante, e conseguiu um seguidor, outro desencantado com a vida, Sancho Pança. Sonhando com um mundo melhor, Quixote seguiu em busca de fama e glória e Sancho Pança em promessas de prosperidade feita pelo cavaleiro. Os dois partiram em uma jornada em defesa do bem e contra inimigos imaginários, entre os quais havia gigantes poderosos, que, na realidade, eram moinhos de vento, e para conquistar o amor e a liberdade da bela Dulcinéia. No fim da vida, Dom Quixote, faz sua despedida e declara seu testamento com lucidez:

— Dai-me alvíssaras [parabéns], bons senhores, que já não sou D. Quixote de la Mancha, mas sim Alonso Quijano, que adquiri, pelos meus costumes, o apelido de Bom. Já não sou inimigo de Amadis de Gaula e da infinita caterva da sua linhagem [personagens de livros]; já me são odiosas todas as histórias profanas de cavalaria andante; já conheço a minha necedade [tolice] e o perigo em que me pôs o tê-las lido; já por misericórdia de Deus, e bem escarmentado [esclarecido], as abomino. [...]
— Os contos, que até agora têm sido verdadeiros só em meu prejuízo — respondeu D. Quixote — espero que a minha morte os mude, com o auxílio do céu, em meu proveito. Sinto, senhores, que a morte vem correndo; [...]
E, voltando-se para Sancho, disse-lhe:
— Perdoa-me, amigo, o haver dado ocasião de pareceres doido como eu, fazendo-te cair no erro, em que eu caí, de pensar que houve e há cavaleiros andantes no mundo. [...] fui louco e estou hoje em meu juízo [...]; possam o meu arrependimento e a minha verdade restituir-me a estima em que Vossas Mercês me tinham, e prossiga para diante o senhor tabelião. [...]
Item, [cláusula do testamento] suplico aos ditos senhores meus testamenteiros que se a boa sorte lhes fizer conhecer o autor que dizem que compôs uma história, que por aí corre, com o título de Segunda parte das façanhas de D. Quixote de la Mancha, lhe peçam da minha parte, o mais encarecidamente que puderem, que me perdoe a ocasião que sem querer lhe dei para escrever tantos e tamanhos disparates, porque saio desta vida com o escrúpulo de lhe ter dado motivo para que os escrevesse.

Dom Quixote vivia atrás de inimigos fictícios para vencer a batalha que só existia na sua imaginação. Terminou ferindo o amigo fiel, que o seguiu; desperdiçou a vida em tolices; e o máximo que conseguiu foi pedir perdão por tudo o que buscou e que só lhe deu prejuízo e pedir que o registro do que fez fosse apagado. Quando você trava a batalha errada, com os inimigos errados, você se torna um Quixote, no final, ainda que seu coração seja bom, sua intenção seja excelente, moinhos de vento não são inimigos reais e contra eles a luta é inglória. O triste é que essa história segue de perto a vida do autor, que partiu para servir no exército, voltou ferido e sem nada, viveu um casamento infeliz pois não desistia da ideia de aventuras e terminou em um mosteiro franciscano, esquecido, sem nada e renegando tudo em que investira a vida. Discernir o verdadeiro inimigo, assim como alvos que valham à pena, é vital.

Precisamos perceber os inimigos reais, senão seremos desgastados e prejudicados por moinhos de vento, como se fossem reais gigantes. Um moinho de vento que se coloca em nossa frente constantemente é a injustiça sofrida. Somos levados a crer que a injustiça sofrida impedirá nossa vitória e nos prendemos a ela pela mágoa, raiva e ódio de quem nos injustiçou. Mas, observe que Labão, patrão de Jacó, trocou o salário dele dez vezes, mas ele prosperou, mesmo assim:

mas vosso pai [Labão] me tem enganado e por dez vezes me mudou o salário; porém Deus não lhe permitiu que me fizesse mal nenhum. Se ele dizia: Os salpicados serão o teu salário, então, todos os rebanhos davam salpicados; e se dizia: Os listados serão o teu salário, então, os rebanhos todos davam listados. (Gênesis 31:7-8)

A injustiça de seu empregador ou líder de qualquer tipo não determinará a sua prosperidade. Não se apegue a isso como se fosse sua derrota, o Senhor é tão poderoso para você quanto foi para Jacó. Clame ao Senhor pela aliança com Ele e ele responderá como fez retirando o povo da escravidão do Egito: “[...] os filhos de Israel gemiam sob a servidão e por causa dela clamaram, e o seu clamor subiu a Deus. Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó.” (Êxodo 2:23-24)

Não faça da injustiça um muro intransponível



O Senhor transforma qualquer situação em bênção. Ele transformou a infidelidade da mulher de Potifar e sua falsa acusação em oportunidade para José e todo o povo de Deus prosperarem. Ele foi preso injustamente, pagou uma pena injusta, mas prosperou durante todo o trajeto até o governo do Egito. Não importa do que lhe acusem injustamente, no final, se você ficar firme, isso o promoverá.

Assuma esse princípio de verdade como um escudo: “sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Romanos 8:28). Fuja da autocomiseração. Esse é um sentimento demoníaco, que irá levá-lo somente à depressão ou à rebeldia. Ninguém tem poder de juízo maior do que Deus. Por isso, Jesus repreendeu o próprio Satanás, quando Pedro ofereceu a Jesus oportunidade para ter pena de si mesmo:

(21) Desde o momento em que Jesus começou [claramente] a mostrar a Seus discípulos que Ele devia ir a Jerusalém e sofrer muitas coisas nas mãos dos anciãos, do sumo sacerdote e dos escribas e sejam mortos e, no terceiro dia fosse levantado dos mortos. (22) Então Pedro o tomou de lado para falar-lhe em privado e começou a reprová-lo e acusá-lo bruscamente, dizendo: Deus me livre, Senhor! Isto não deve lhe acontecer nunca! (23) Mas, Jesus voltou-se para Pedro e lhe disse: Fique atrás de mim, Satanás! Você está em meu caminho [é uma ofensa, um impedimento e um laço para mim]; para você estão cuidando do que faz parte, não da natureza e da qualidade de Deus, mas dos homens. (Mateus 16:21-23 – Bíblia Amplificada)

Não caia no laço da autopiedade. A injustiça não segurou Jacó, não impediu José e nem Jesus. Não impedirá você também, a menos que você caia na armadilha de sentar em um canto, parar a sua caminhada para ficar lambendo as feridas e tendo pena de si mesmo. Levante-se e ande, em nome de Jesus! Adapte-se para a vitória!

Quando a injustiça não é causada por você


Há muitas pessoas que ficam tentando provar o seu valor a quem é injusto. Se a intenção e o caráter de alguém não é reto diante de Deus, não é o fato de você provar, argumentar, mostrar ou fazer qualquer coisa, que mudará a conduta dela. Se alguém não procura ser justo, praticará a injustiça, independente de seus direitos, acertos e provas. Há pessoas que se movem por interesse pessoal e somente isso. Quem não tem escrúpulos não os desenvolverá porque você tem.

Não estou dizendo que não adianta ter princípios de justiça, pelo contrário, eles são a sua única segurança. Só é possível abrir um processo no céu e na terra se você tiver direito (de preferência, líquido e certo) sobre algo. É andar na justiça que lhe dá direito perante a lei do céu e da terra. Mas, o que quero dizer é que há pessoas que passam a vida tentando provar que são dignas de crédito, a pessoas que não vão aceitar esse valor nunca porque não lhes interessa aceitar. Observe a relação entre Saul e Davi. Davi sempre foi fiel, mas Saul o perseguia injustamente procurando matá-lo. Veja como Davi dava provas de que não era traidor e não adiantava nada:

Disse Davi a Saul: Por que dás tu ouvidos às palavras dos homens que dizem: Davi procura fazer-te mal? Os teus próprios olhos viram, hoje, que o SENHOR te pôs em minhas mãos nesta caverna, e alguns disseram que eu te matasse; porém a minha mão te poupou; porque disse: Não estenderei a mão contra o meu senhor, pois é o ungido de Deus. Olha, pois, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na minha mão. No fato de haver eu cortado a orla do teu manto sem te matar, reconhece e vê que não há em mim nem mal nem rebeldia, e não pequei contra ti, ainda que andas à caça da minha vida para ma tirares. Julgue o SENHOR entre mim e ti e vingue-me o SENHOR a teu respeito; porém a minha mão não será contra ti. Dos perversos procede a perversidade, diz o provérbio dos antigos; porém a minha mão não está contra ti. (1 Samuel 24:9-13)

Vou lhe dar vários motivos que Davi tinha para matar Saul: Saul deu sua esposa a outro, profanando seu lar; Saul saiu com um exército de três mil homens de elite para perseguir Davi injustamente, tornando-se inimigo mortal; matou 82 sacerdotes porque deram de comer a Davi, sem saber que fugia de Saul, profanando o templo; Davi estava numa caverna com seiscentos homens, precisava afirmar autoridade e Saul estava totalmente indefeso sozinho na caverna; Davi tinha uma promessa de ser rei e sabia que Saul não era um bom rei e que era louco, pois o Senhor não estava mais com ele; e os homens de Davi pressionavam para atacar Saul. No entanto, por temor a Deus, Davi só tomou a prova de que não faria mal a Saul, cortou a orla do manto.

Então, Davi procurou a reaproximação e a aceitação: chamou Saul de pai e apresentou a prova, porque pensava que o problema é algum mexerico contra ele e pediu para ser reconhecido como fiel. A princípio, e depois da vergonha, Saul retira-se. Mas, como não tinha intenção de fazer justiça, volta com carga total contra Davi. Não dependia de Davi a injustiça de Saul. Só que não foi a aprovação de Saul que fez de Davi um rei. Foi a aprovação de Deus. Nem a injustiça, nem a desvalorização e nem mesmo a perseguição de Saul para com Davi o impediram de ser rei, pelo contrário.

Quando a injustiça atinge a imagem pública


Jesus foi acusado de beberrão, glutão, companheiro de meretrizes, blasfemo, e não tinha crime nenhum para ser humilhado, torturado arrastado pelas ruas e cuspido pela multidão e nem para ser morto como maldito, mas isso não impediu a glória da ressurreição. Paulo dizia das injustiças que sofria:

(9) Pois me parece que Deus fez uma mostra de nós apóstolos, expondo-nos publicamente [como homens em uma procissão triunfal, que são] sentenciados à morte [e apresentados no final da fila]. Pois nós temos nos tornado como um espetáculo para o mundo [como é mostrado no anfiteatro do mundo] tanto para homens como para anjos [como espectadores]. (10) Nós somos [vistos como] tolos por causa de Cristo e por sua causa, mas vocês são [supostamente] admiravelmente sábios e prudentes em Cristo! Nós somos fracos, mas vocês são [muito] fortes! Vocês são altamente estimados, mas nós estamos em descrédito e desprezo! (11) Até essa hora, nós tivemos tanto fome quanto sede; nós [habitualmente] vestimos apenas uma roupa íntima [e trememos no frio]; nós somos duramente batidos e vagamos desabrigados. (12) E nós ainda labutamos até a fadiga [para a nossa subsistência], trabalhando duro com nossas próprias mãos. Quando os homens nos insultam [nos ferem com um espinho amaldiçoado], nós os abençoamos. Quando nós somos perseguidos, nós temos paciência e perseveramos. (13) Quando somos caluniados e difamados, nós [tentamos] responder suavemente e tazer conforto. Nós temos sido feitos e somos agora como  lixo e a sujeira do mundo [o resto de todas as coisas, a escória da terra]. (1 Coríntios 4:9-16 – Bíblia Amplificada).

Mas a calúnia sobre a imagem pública de Jesus, de Paulo e de todos os que servem a Deus, se não tem fundamento de verdade, será desvanecida. O importante é que a injustiça praticada não pode nos tornar injustos, porque se for assim, o inimigo verdadeiro ganhou a guerra. O alvo do diabo é nos tornar como ele e nos distanciar de Deus e da nossa vitória. As injustiças, perseguições e problemas com pessoas pelo caminho são apenas moinhos de vento, a verdadeira guerra é no nível do espírito, que se expressa pela alma.

Em todas essas situações, podemos contar com o Senhor como nosso guarda e orar a mesma oração de Davi:

SENHOR, guia-me na tua justiça, por causa dos meus adversários; endireita diante de mim o teu caminho; pois não têm eles sinceridade nos seus lábios; o seu íntimo é todo crimes; a sua garganta é sepulcro aberto, e com a língua lisonjeiam. Declara-os culpados, ó Deus; caiam por seus próprios planos. Rejeita-os por causa de suas muitas transgressões, pois se rebelaram contra ti. Mas regozijem-se todos os que confiam em ti; folguem de júbilo para sempre, porque tu os defendes; e em ti se gloriem os que amam o teu nome. Pois tu, SENHOR, abençoas o justo e, como escudo, o cercas da tua benevolência, [em nome de Jesus]. (Salmos 5:8-12).





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