Comunicação é uma arte que poucos dominam. Ela exige
perceber aquilo que pode interromper a troca de informações e a clareza de
expressar-se de uma forma que o outro entenda aquilo que realmente se quer
dizer. Mas, na realidade, o outro entende o que quer e o que pode entender. Às
vezes, precisamos de instrumentos de comunicação para contornar a montanha do
querer/poder entender do outro. Hoje, essa habilidade é estudada pela
Psicologia como Inteligência Interrelacional. A ilustração a seguir nos ajudará
a compreender o princípio da compreensão:
A Verdade visitava os homens;
sem roupa e sem adornos, tão nua quanto o seu nome.
E todos os que a viam
viravam-lhe as costas de vergonha ou de medo e ninguém lhe dava as boas vindas.
Assim a Verdade percorria os
confins da Terra, rejeitada e desprezada.
Numa tarde, muito desolada e
triste, encontrou a Parábola que passeava alegremente, num traje belo e muito
colorido.
— Verdade, porque estás tão
abatida? - perguntou a Parábola.
— Porque devo ser muito feia
já que os homens me evitam tanto!
— Que disparate - riu a
Parábola - não é por isso que os homens te evitam. Toma, veste algumas das
minhas roupas e vê o que acontece.
Então a Verdade pôs algumas
das lindas vestes da Parábola e, de repente, por toda a parte onde passava era
bem vinda.
Então a Parábola falou:
— A verdade é que os homens
não gostam de encarar a Verdade nua; eles a preferem disfarçada!
Observe a dificuldade do falar direto, claro e objetivo
que essa estória apresenta. Por vezes tenho percebido que pessoas que são muito
objetivas têm sido vistas como brutas, grosseiras, quando na verdade estão
apenas falando de forma direta aquilo que realmente pensam. Mas, há vários
motivos para procurarmos um roupa aceitável para a verdade participar da festa
dos relacionamentos. Uma delas é a relação de autoridade e o poder daquele que escuta.
O profeta Natã utilizou-se de uma parábola para falar o que precisava a Davi,
confrontando-o com seus próprios princípios morais. A parábola levou Davi a ver
situação de um ponto de vista diferente.
Davi havia desejado a mulher alheia, traído o marido
adulterando com sua esposa e deixando-o sozinho no campo de batalha para morrer
para encobrir a sua triação. Observe como o profeta Natã o confrontou:
O SENHOR enviou
Natã a Davi. Chegando Natã a Davi, disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um
rico e outro pobre. Tinha o rico ovelhas e gado em grande número; mas o pobre
não tinha coisa nenhuma, senão uma cordeirinha que comprara e criara, e que em
sua casa crescera, junto com seus filhos; comia do seu bocado e do seu copo
bebia; dormia nos seus braços, e a tinha como filha. Vindo um viajante ao homem
rico, não quis este tomar das suas ovelhas e do gado para dar de comer ao
viajante que viera a ele; mas tomou a cordeirinha do homem pobre e a preparou
para o homem que lhe havia chegado. Então, o furor de Davi se acendeu
sobremaneira contra aquele homem, e disse a Natã: Tão certo como vive o SENHOR,
o homem que fez isso deve ser morto. E pela cordeirinha restituirá quatro
vezes, porque fez tal coisa e porque não se compadeceu. Então, disse Natã a
Davi: Tu és o homem. Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre
Israel e eu te livrei das mãos de Saul; (2 Samuel 12:1-7)
As pessoas do caso que Natã contou estavam na mesma
posição de Davi e Urias (esposo de Bate-Seba) do ponto de vista de Deus. Só que
com a estória, Natã conseguiu retirar o
interesse pessoal de Davi, assim como colocou-o na posição de executor
da justiça e não como alguém que utilize o poder em benefício próprio. Retomou
os valores de um pastor cuidadoso e amoroso com seu rebanho e expôs o
egocentrismo com que ele havia agido. Em suma, Natã conseguiu desviar-se das
barreiras que iriam impedir que Davi ouvisse e fez com que ele compreendesse a
gravidade da situação a partir da empatia, colocando-se no lugar do outro.
Glória a Deus pela sabedoria que lhe foi dada. Daí, pode-se retomar o versículo
de provérbios:
“O que ama a pureza do coração e é grácil no falar terá por
amigo o rei.” (Provérbios 22:11). Observe que as duas condições são
essenciais para ter por amigo o rei: ter o coração puro e ser grácil no falar. Peça
sabedoria ao Senhor quando tiver que dizer algo. Saber como é tão importante
quanto saber o que dizer. O tempero sempre será o amor: “Ainda que eu fale as
línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa
ou como o címbalo que retine.” (1 Coríntios 13:1). O amor não se omite e
nem fala de qualquer modo. O amor transmite a mensagem da forma mais
inteligível possível porque se importa não apenas em falar e se impor, mas em
que o outro seja abençoado ao escutar.
Graça no falar
Ser grácil no falar nos dá acessos às autoridades
(Provérbios 22:11). Mas o que é ser grácil no falar? É explicado nesse trecho: “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim
unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim,
transmita graça aos que ouvem.” (Efésios 4:29). Esse trecho nos dá o que não dizer (palavras torpes), o que dizer (o
que for para edificar e que for necessário). Se o nosso falar estiver nessas
três condições, estaremos falando com graça.
A missão de
converter a fala não é das mais fáceis:
Pois toda espécie de feras, de aves,
de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero humano; a
língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado
de veneno mortífero. Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela,
amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma só boca procede
bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim.
(Tiago 3:7-10)
O fato de nós,
nos limites da nossa humanidade, não podermos mudar a nossa língua, não
significa que ela não possa ser mudada. Significa que dependemos da ação do
Espírito Santo para fazê-lo. Mas, para que o Espírito Santo aja, precisamos
dar-lhe permissão e esforço no processo e então, seremos transformados:
Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde
está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. E todos nós, com o rosto
desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o
Espírito. (2 Coríntios 3:17-18)
Alguns princípios para falar com graça e poder
Primeiro, é
preciso ter suprimento de graça para falar de modo a expressá-la no falar:
Filho meu, guarda o mandamento de
teu pai e não deixes a instrução de tua mãe; ata-os perpetuamente ao teu
coração, pendura-os ao pescoço. Quando caminhares, isso te guiará; quando te
deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo. Porque o mandamento é
lâmpada, e a instrução, luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da
vida; (Provérbios 6:20-23)
Os princípios de
Deus nos instruem, falam conosco, nos ensinam a graça de Deus. Por isso, temos que
começar na intenção e ter a verdade como prerrequisito. É preciso que haja
verdade naquele que diz, para que haja verdade no que é dito:
Como vaso de
barro coberto de escórias de prata, assim são os lábios amorosos e o coração
maligno. Aquele que aborrece dissimula com os lábios, mas no íntimo encobre o
engano; quando te falar suavemente, não te fies nele, porque sete abominações
há no seu coração. Ainda que o seu ódio se encobre com engano, a sua malícia se
descobrirá publicamente. (Provérbios 26:23-26)
Essa linha tão
tênue, que discerne a manipulação da graça no falar está marcada sobre a
intenção do que fala, que é invisível, a não ser pelo tempo e no conjunto das
ações das pessoas envolvidas. Isso nos remete à necessidade de prudência ao
ouvir.
É preciso sobriedade ter uma comunicação clara
Muitas coisas nos entorpecem, tanto químicas e físicas quanto
mentais e emocionais. O nosso querer é um entorpecente dos mais terríveis. É
difícil encontrar antídoto para restringir sua ação sobre o nosso julgamento.
Nós vemos o que nos interessa, na maioria das vezes, e ouvimos aquilo que
desejamos ouvir, outras tantas vezes. Assim, dizer torna-se tocar o interesse e
o querer de outras pessoas onde e quando não sabemos. Operação complexa é
comunicar-se, um grande desafio. A sobriedade é fundamental, quando tentamos
discernir e sermos discernidos. Quando estamos entorpecidos, seja pelo que for,
química ou interesse, o desafio de se comunicar torna-se em risco de engano:
Não olhes para o vinho, quando se
mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. Pois ao cabo
morderá como a cobra e picará como o basilisco. Os teus olhos verão coisas
esquisitas, e o teu coração falará perversidades. Serás como o que se deita no
meio do mar e como o que se deita no alto do mastro e dirás: Espancaram-me, e
não me doeu; bateram-me, e não o senti; quando despertarei? Então, tornarei a
beber. (Provérbios 23:31-35)
Falando de estratégia de comunicação: a mensagem agradável
Pensando em como
falar, é preciso primeiramente procurar a forma de falar de modo que a mensagem
possa ser recebida como algo agradável. Não é a intelectualidade que resolverá as
questões, mas a sabedoria: “o sábio de coração é chamado prudente, e a doçura no falar
aumenta o saber.” (Provérbios 16:21). O inteligente é aquele que tem o raciocínio
mais rápido e aguçado, o sábio é aquele que tem o melhor compromisso. O
princípio da sabedoria é o temor do Senhor: “O temor do SENHOR é o princípio da
sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência.” (Provérbios 9:10).
Hitler era um
homem muito inteligente. Ele conseguiu conquistar seu país, anular mentes
brilhantes para que o seguissem sob um argumento absurdo de supremacia racial,
matar e torturar milhares de pessoas. Toda a sua inteligência produziu obras
enormes e, na mesma proporção, destrutivas. Essa não é a sabedoria do alto, é
terrena, animal e demoníaca. Usa a inteligência sem temer a Deus.
Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de
sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras. Se, pelo contrário,
tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos
glorieis disso, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que desce
lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca. Pois, onde há inveja e
sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins. A
sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica,
indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem
fingimento. Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que
promovem a paz. (Tiago 3:13-18)
Este é o problema como as pessoas usam certos livros de
auto-ajuda. Eles servem como livros de magia para manipular pessoas em função
de obter-se vantagem sobre elas. Mas, a graça ou doçura no falar só agrada a
Deus e resolve perfeitamente as questões se for acompanhada da pureza no
coração: “O que ama a pureza do coração e é grácil no falar terá por
amigo o rei.” (Provérbios 22:11).
Esse tipo de doçura atrai: “o seu falar é muitíssimo doce; sim, ele é totalmente
desejável. Tal é o meu amado, tal, o meu esposo, ó filhas de Jerusalém.” (Cantares
de Salomão 5:16).
A estratégia de falar no momento certo
Você já viu uma
partitura de uma orquestra? Cada instrumento tem a sua e o maestro fica com a
geral. Cada instrumento tem sua nota a tocar, mas deve tocá-la no tempo
definido para que a sinfonia não desande. Assim também deve ser uma palavra
graciosa, no tempo certo deve dar seu som e trazer harmonia: “Tudo tem o seu
tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: [...] tempo
de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar;” (Eclesiastes
3:1,7).
É melhor esperar
dias para dizer algo do que dizer na hora que lhe vem à cabeça e piorar a
situação. É preciso considerar se o outro tem ouvidos para ouvir, quem vai
estar por perto para interferir na discussão, qual é a melhor maneira para
dizer, enfim, é preciso ter um ambiente e momento certos para colocar assuntos
delicados. Você não pode dizer: “Nosso filho está envolvido com drogas...” da
mesma forma que diz “Comprei queijo hoje no mercado, está caríssimo!”.
Pense no impacto
que a informação vai ter sobre o outro, antes de descarregá-la sobre ele ou
ela. Coloque-se no lugar dele e tente perceber como será menos doloroso ou
difícil para ele escutar. Empatia é chave na comunicação. Ainda que você não consiga
a perfeição poderá melhorá-la muito. Se você conhece a pessoa, pergunte-se:
como é que Fulano ou Cicrana escutam com mais facilidade? Perceber essas
nuances facilitarão muito a sua convivência em grupo. A família tem a
oportunidade de aprender isso todos os dias, mas raramente a utiliza. Insiste muitas
vezes em modos de comunicação que pioram os relacionamentos, sempre “batendo de
frente” e atritando-se nos interesses e desejos uns dos outros. Nem sempre você
tira a montanha do lugar, na maioria das vezes, você a rodeia.
A estratégia da economia é fundamental
Palavras são como
munição para vencer guerras, não mate uma mosca com um tiro de canhão e nem
tente derrubar um tanque com um revólver. Procure a força necessária para
resolver a questão, além disso, a direção de uma palavra vinda de Deus não é
aumentar a tensão ou a discussão, mas trazer paz e dissipá-la: “no muito falar
não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente. Prata escolhida
é a língua do justo, mas o coração dos perversos vale mui pouco. Os lábios do
justo apascentam a muitos, mas, por falta de senso, morrem os tolos.” (Provérbios
10:19-21).
É preciso falar a
quantidade certa, na hora certa. Tudo o
que falamos é diante de Deus, ainda que haja homens e mulheres presentes.
Palavras são recursos que o Senhor nos deu e que devemos utilizar com sabedoria,
com temor ao Senhor:
Não te precipites com a tua boca,
nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque
Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras.
Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias. (Eclesiastes
5:2-3)
Principalmente se
estivermos com raiva, o silêncio é precioso:
Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois,
seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do
homem não produz a justiça de Deus. Portanto, despojando-vos de toda impureza e
acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual
é poderosa para salvar a vossa alma. Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e
não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. (Tiago 1:19-22)
Entendo a comunicação como o maior desafio da nossa
convivência diária. Mundos que se encontram todos os dias, cheios de seus
significados e interesses individuais e tentam falar a mesma língua e conseguir
trocar ações e afetos de forma positiva ou não são parte da nossa luta diária. Compreender
e ser compreendido é sinônimo de existir no espaço social. A palavra de Deus
nos faz tradutores da sua graça no falar, no comunicar, que é mais do que
falar, o Espírito Santo nos dá a o conteúdo, a quantidade, o momento e o meio
corretos para falarmos. E ainda nos dá a graça do perdão quando falhamos em
receber ou seguir as instruções. Em essência, dependemos da sabedoria do Senhor
para isso, mas a temos por garantida, se pedirmos com fé:
Se, porém, algum de vós necessita de
sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e
ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que
duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha
esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; homem de ânimo dobre,
inconstante em todos os seus caminhos. (Tiago 1:5-8)
Você pode orar assim:
Querido Deus, ajuda-me a me
comunicar com graça, a discernir minha própria intenção e a intenção de quem
escuta, dá-me o conteúdo, a quantidade, o momento e o meio correto de falar o
que deve ser falado e calar o que deve ser calado. Perdoa-me por todas as vezes
que minha comunicação não foi como deveria e que provoquei problemas com isso,
em nome de Jesus.
Link original da ilustração: http://www.metaforas.com.br/metaforas/metaf20120623.asp
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente a mensagem ou faça sua pergunta.