terça-feira, 27 de novembro de 2012

Falar é conquista e conquistador




Comunicação é uma arte que poucos dominam. Ela exige perceber aquilo que pode interromper a troca de informações e a clareza de expressar-se de uma forma que o outro entenda aquilo que realmente se quer dizer. Mas, na realidade, o outro entende o que quer e o que pode entender. Às vezes, precisamos de instrumentos de comunicação para contornar a montanha do querer/poder entender do outro. Hoje, essa habilidade é estudada pela Psicologia como Inteligência Interrelacional. A ilustração a seguir nos ajudará a compreender o princípio da compreensão:

A Verdade visitava os homens; sem roupa e sem adornos, tão nua quanto o seu nome.
E todos os que a viam viravam-lhe as costas de vergonha ou de medo e ninguém lhe dava as boas vindas.
Assim a Verdade percorria os confins da Terra, rejeitada e desprezada.
Numa tarde, muito desolada e triste, encontrou a Parábola que passeava alegremente, num traje belo e muito colorido.
— Verdade, porque estás tão abatida? - perguntou a Parábola.
— Porque devo ser muito feia já que os homens me evitam tanto!
— Que disparate - riu a Parábola - não é por isso que os homens te evitam. Toma, veste algumas das minhas roupas e vê o que acontece.
Então a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola e, de repente, por toda a parte onde passava era bem vinda.
Então a Parábola falou:
— A verdade é que os homens não gostam de encarar a Verdade nua; eles a preferem disfarçada!

Observe a dificuldade do falar direto, claro e objetivo que essa estória apresenta. Por vezes tenho percebido que pessoas que são muito objetivas têm sido vistas como brutas, grosseiras, quando na verdade estão apenas falando de forma direta aquilo que realmente pensam. Mas, há vários motivos para procurarmos um roupa aceitável para a verdade participar da festa dos relacionamentos. Uma delas é a relação de autoridade e o poder daquele que escuta. O profeta Natã utilizou-se de uma parábola para falar o que precisava a Davi, confrontando-o com seus próprios princípios morais. A parábola levou Davi a ver situação de um ponto de vista diferente.

Davi havia desejado a mulher alheia, traído o marido adulterando com sua esposa e deixando-o sozinho no campo de batalha para morrer para encobrir a sua triação. Observe como o profeta Natã o confrontou:

O SENHOR enviou Natã a Davi. Chegando Natã a Davi, disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. Tinha o rico ovelhas e gado em grande número; mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma cordeirinha que comprara e criara, e que em sua casa crescera, junto com seus filhos; comia do seu bocado e do seu copo bebia; dormia nos seus braços, e a tinha como filha. Vindo um viajante ao homem rico, não quis este tomar das suas ovelhas e do gado para dar de comer ao viajante que viera a ele; mas tomou a cordeirinha do homem pobre e a preparou para o homem que lhe havia chegado. Então, o furor de Davi se acendeu sobremaneira contra aquele homem, e disse a Natã: Tão certo como vive o SENHOR, o homem que fez isso deve ser morto. E pela cordeirinha restituirá quatro vezes, porque fez tal coisa e porque não se compadeceu. Então, disse Natã a Davi: Tu és o homem. Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; (2 Samuel 12:1-7)

As pessoas do caso que Natã contou estavam na mesma posição de Davi e Urias (esposo de Bate-Seba) do ponto de vista de Deus. Só que com a estória, Natã conseguiu retirar o  interesse pessoal de Davi, assim como colocou-o na posição de executor da justiça e não como alguém que utilize o poder em benefício próprio. Retomou os valores de um pastor cuidadoso e amoroso com seu rebanho e expôs o egocentrismo com que ele havia agido. Em suma, Natã conseguiu desviar-se das barreiras que iriam impedir que Davi ouvisse e fez com que ele compreendesse a gravidade da situação a partir da empatia, colocando-se no lugar do outro. Glória a Deus pela sabedoria que lhe foi dada. Daí, pode-se retomar o versículo de provérbios:
“O que ama a pureza do coração e é grácil no falar terá por amigo o rei.” (Provérbios 22:11). Observe que as duas condições são essenciais para ter por amigo o rei: ter o coração puro e ser grácil no falar. Peça sabedoria ao Senhor quando tiver que dizer algo. Saber como é tão importante quanto saber o que dizer. O tempero sempre será o amor: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.” (1 Coríntios 13:1). O amor não se omite e nem fala de qualquer modo. O amor transmite a mensagem da forma mais inteligível possível porque se importa não apenas em falar e se impor, mas em que o outro seja abençoado ao escutar.

Graça no falar



Ser grácil no falar nos dá acessos às autoridades (Provérbios 22:11). Mas o que é ser grácil no falar? É explicado nesse trecho: Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem.” (Efésios 4:29). Esse trecho nos dá o que não dizer (palavras torpes), o que dizer (o que for para edificar e que for necessário). Se o nosso falar estiver nessas três condições, estaremos falando com graça.

A missão de converter a fala não é das mais fáceis:

Pois toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido domada pelo gênero humano; a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de veneno mortífero. Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas coisas sejam assim. (Tiago 3:7-10)

O fato de nós, nos limites da nossa humanidade, não podermos mudar a nossa língua, não significa que ela não possa ser mudada. Significa que dependemos da ação do Espírito Santo para fazê-lo. Mas, para que o Espírito Santo aja, precisamos dar-lhe permissão e esforço no processo e então, seremos transformados:

Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. E todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito. (2 Coríntios 3:17-18)

Alguns princípios para falar com graça e poder


Primeiro, é preciso ter suprimento de graça para falar de modo a expressá-la no falar:

Filho meu, guarda o mandamento de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe; ata-os perpetuamente ao teu coração, pendura-os ao pescoço. Quando caminhares, isso te guiará; quando te deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo. Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da vida; (Provérbios 6:20-23)

Os princípios de Deus nos instruem, falam conosco, nos ensinam a graça de Deus. Por isso, temos que começar na intenção e ter a verdade como prerrequisito. É preciso que haja verdade naquele que diz, para que haja verdade no que é dito:

Como vaso de barro coberto de escórias de prata, assim são os lábios amorosos e o coração maligno. Aquele que aborrece dissimula com os lábios, mas no íntimo encobre o engano; quando te falar suavemente, não te fies nele, porque sete abominações há no seu coração. Ainda que o seu ódio se encobre com engano, a sua malícia se descobrirá publicamente. (Provérbios 26:23-26)

Essa linha tão tênue, que discerne a manipulação da graça no falar está marcada sobre a intenção do que fala, que é invisível, a não ser pelo tempo e no conjunto das ações das pessoas envolvidas. Isso nos remete à necessidade de prudência ao ouvir.

É preciso sobriedade ter uma comunicação clara


Muitas coisas nos entorpecem, tanto químicas e físicas quanto mentais e emocionais. O nosso querer é um entorpecente dos mais terríveis. É difícil encontrar antídoto para restringir sua ação sobre o nosso julgamento. Nós vemos o que nos interessa, na maioria das vezes, e ouvimos aquilo que desejamos ouvir, outras tantas vezes. Assim, dizer torna-se tocar o interesse e o querer de outras pessoas onde e quando não sabemos. Operação complexa é comunicar-se, um grande desafio. A sobriedade é fundamental, quando tentamos discernir e sermos discernidos. Quando estamos entorpecidos, seja pelo que for, química ou interesse, o desafio de se comunicar torna-se em risco de engano:

Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. Pois ao cabo morderá como a cobra e picará como o basilisco. Os teus olhos verão coisas esquisitas, e o teu coração falará perversidades. Serás como o que se deita no meio do mar e como o que se deita no alto do mastro e dirás: Espancaram-me, e não me doeu; bateram-me, e não o senti; quando despertarei? Então, tornarei a beber. (Provérbios 23:31-35)

Falando de estratégia de comunicação: a mensagem agradável


Pensando em como falar, é preciso primeiramente procurar a forma de falar de modo que a mensagem possa ser recebida como algo agradável. Não é a intelectualidade que resolverá as questões, mas a sabedoria: “o sábio de coração é chamado prudente, e a doçura no falar aumenta o saber.” (Provérbios 16:21). O inteligente é aquele que tem o raciocínio mais rápido e aguçado, o sábio é aquele que tem o melhor compromisso. O princípio da sabedoria é o temor do Senhor: “O temor do SENHOR é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é prudência.” (Provérbios 9:10).

Hitler era um homem muito inteligente. Ele conseguiu conquistar seu país, anular mentes brilhantes para que o seguissem sob um argumento absurdo de supremacia racial, matar e torturar milhares de pessoas. Toda a sua inteligência produziu obras enormes e, na mesma proporção, destrutivas. Essa não é a sabedoria do alto, é terrena, animal e demoníaca. Usa a inteligência sem temer a Deus.

Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras. Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e demoníaca. Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins. A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento. Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz. (Tiago 3:13-18)

Este é o problema como as pessoas usam certos livros de auto-ajuda. Eles servem como livros de magia para manipular pessoas em função de obter-se vantagem sobre elas. Mas, a graça ou doçura no falar só agrada a Deus e resolve perfeitamente as questões se for acompanhada da pureza no coração: O que ama a pureza do coração e é grácil no falar terá por amigo o rei.” (Provérbios 22:11). Esse tipo de doçura atrai: “o seu falar é muitíssimo doce; sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, tal, o meu esposo, ó filhas de Jerusalém.” (Cantares de Salomão 5:16).

A estratégia de falar no momento certo


Você já viu uma partitura de uma orquestra? Cada instrumento tem a sua e o maestro fica com a geral. Cada instrumento tem sua nota a tocar, mas deve tocá-la no tempo definido para que a sinfonia não desande. Assim também deve ser uma palavra graciosa, no tempo certo deve dar seu som e trazer harmonia: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: [...] tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar;” (Eclesiastes 3:1,7).

É melhor esperar dias para dizer algo do que dizer na hora que lhe vem à cabeça e piorar a situação. É preciso considerar se o outro tem ouvidos para ouvir, quem vai estar por perto para interferir na discussão, qual é a melhor maneira para dizer, enfim, é preciso ter um ambiente e momento certos para colocar assuntos delicados. Você não pode dizer: “Nosso filho está envolvido com drogas...” da mesma forma que diz “Comprei queijo hoje no mercado, está caríssimo!”.

Pense no impacto que a informação vai ter sobre o outro, antes de descarregá-la sobre ele ou ela. Coloque-se no lugar dele e tente perceber como será menos doloroso ou difícil para ele escutar. Empatia é chave na comunicação. Ainda que você não consiga a perfeição poderá melhorá-la muito. Se você conhece a pessoa, pergunte-se: como é que Fulano ou Cicrana escutam com mais facilidade? Perceber essas nuances facilitarão muito a sua convivência em grupo. A família tem a oportunidade de aprender isso todos os dias, mas raramente a utiliza. Insiste muitas vezes em modos de comunicação que pioram os relacionamentos, sempre “batendo de frente” e atritando-se nos interesses e desejos uns dos outros. Nem sempre você tira a montanha do lugar, na maioria das vezes, você a rodeia.

A estratégia da economia é fundamental


Palavras são como munição para vencer guerras, não mate uma mosca com um tiro de canhão e nem tente derrubar um tanque com um revólver. Procure a força necessária para resolver a questão, além disso, a direção de uma palavra vinda de Deus não é aumentar a tensão ou a discussão, mas trazer paz e dissipá-la: “no muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente. Prata escolhida é a língua do justo, mas o coração dos perversos vale mui pouco. Os lábios do justo apascentam a muitos, mas, por falta de senso, morrem os tolos.” (Provérbios 10:19-21).

É preciso falar  a quantidade certa, na hora certa. Tudo o que falamos é diante de Deus, ainda que haja homens e mulheres presentes. Palavras são recursos que o Senhor nos deu e que devemos utilizar com sabedoria, com temor ao Senhor:  

Não te precipites com a tua boca, nem o teu coração se apresse a pronunciar palavra alguma diante de Deus; porque Deus está nos céus, e tu, na terra; portanto, sejam poucas as tuas palavras. Porque dos muitos trabalhos vêm os sonhos, e do muito falar, palavras néscias. (Eclesiastes 5:2-3)

Principalmente se estivermos com raiva, o silêncio é precioso:
Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus. Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma. Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. (Tiago 1:19-22)



Entendo a comunicação como o maior desafio da nossa convivência diária. Mundos que se encontram todos os dias, cheios de seus significados e interesses individuais e tentam falar a mesma língua e conseguir trocar ações e afetos de forma positiva ou não são parte da nossa luta diária. Compreender e ser compreendido é sinônimo de existir no espaço social. A palavra de Deus nos faz tradutores da sua graça no falar, no comunicar, que é mais do que falar, o Espírito Santo nos dá a o conteúdo, a quantidade, o momento e o meio corretos para falarmos. E ainda nos dá a graça do perdão quando falhamos em receber ou seguir as instruções. Em essência, dependemos da sabedoria do Senhor para isso, mas a temos por garantida, se pedirmos com fé:

Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento. Não suponha esse homem que alcançará do Senhor alguma coisa; homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos. (Tiago 1:5-8)

Você pode orar assim:

Querido Deus, ajuda-me a me comunicar com graça, a discernir minha própria intenção e a intenção de quem escuta, dá-me o conteúdo, a quantidade, o momento e o meio correto de falar o que deve ser falado e calar o que deve ser calado. Perdoa-me por todas as vezes que minha comunicação não foi como deveria e que provoquei problemas com isso, em nome de Jesus.

















Link original da ilustração: http://www.metaforas.com.br/metaforas/metaf20120623.asp

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