Palavras de Vida, Palavras de Deus

Você já parou para pensar nisso: nós, humanos, somos os únicos seres que podem criar algo novo através da palavra? Animais não fazem de conta ou criam realidades possíveis a partir do pensamento, eles comunicam o que querem, o que está acontecendo, antecipam o que já aconteceu, mas nós, seres humanos podemos criar algo novo através dos nossos pensamentos (formados por palavras) e, através da palavra lançada, semear novas possibilidades e construções reais para nós mesmos e para outras pessoas. Somos à semelhança de Deus. Deus criou o mundo com a Palavra. No nível espiritual, a palavra tem poder e no nível da alma (mente, vontade e emoções), também.

Um tipo de fala tem passado muito no meu coração esses dias, é a fala crítica. E aí o termo merece um esclarecimento. Não estou aqui falando do que se chama de “capacidade crítica”, que é a capacidade de analisar e elaborar um juízo a respeito de uma situação, e nem mesmo da crítica que se chama construtiva, como a correção e a admoestação, que é feita no sentido de levantar o outro e ajudá-lo a melhorar. Estou falando de lançar palavras como setas, de uma postura que só visa exaltar falhas e imperfeições, ressaltar defeitos e fraquezas, depreciar gostos e hábitos, servindo e sendo frutos de agressão, rejeição, zombaria, ironia, rebeldia, condenação e menosprezo.

Infelizmente, muitos de nós estão presos a este estilo de olhar para o outro e, por mais doloroso que tenha sido para si mesmo, repete a atitude consigo e com quem com quem está à volta, retroalimentando o ciclo de destruição. Os versículos seguintes dão um ponto de equilibro importante entre o que é apoiar alguém que amamos em um aspecto, para correção, e o que é criticá-lo (entenda-se criticar como alardear o erro do outro):

 Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo. Porque, se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana. (Gálatas 6:1-3)

Primeiro, Paulo fala de que a falta é algo comprovado. É interessante manter a postura bereana e saber se realmente a coisa é assim. Muitas vezes, vimos apenas uma parte de uma situação, ouvimos de uma fonte tendenciosa,etc.  É preciso duvidar do mal, apesar de sabermos que ele é sempre possível. A primeira parte diz: informe-se com segurança máxima ou não caia na armadilha calúnia e da difamação. Não tomar cuidado com a fonte da informação é como a moça que recebeu uma carta do amor de sua vida que começava: “Hoje eu tenho uma coisa importantíssima para lhe dizer...”. Ansiosa, ela correu para as últimas linhas da carta e leu a última frase: “Por isso eu preciso lhe dizer que não posso mais. Não posso continuar isso. Termina aqui.” Ela teve uma crise, entrou em depressão, queimou todos os presentes e quando uma amiga mais ponderada chegou ela estava aos frangalhos. Então, mostrou-lhe a carta dizendo que todos os homens eram iguais. A amiga leu a carta e deu uma sonora gargalhada. Pensando que tinha perdido uma amiga e o amor de sua vida ela disse revoltada: “Como é que você tem coragem? Você sabe o quanto eu o amava. Então, a amiga leu a carta inteira:” “Hoje eu tenho uma coisa importantíssima para lhe dizer: tomei consciência de quanto lhe amo, de quanto me sinto sem você. Sinto-me incapaz, sem forças de prosseguir sem você do meu lado. Não posso mais viver sem você e preciso lhe pedir que case comigo.  Por isso eu preciso lhe dizer que não posso mais. Essa solidão termina aqui. Não posso continuar isso. Termina aqui.” Precipitar-se é algo muito perigoso. Pode destruir muito mais do que você imagina e essa é a primeira dose da cura da crítica.

Segundo: sejamos espirituais

Logo em seguida, o texto de Gálatas 6:1, medicando contra os olhares críticos diz que precisamos ser espirituais para corrigir. A bíblia explica em que se baseiam as pessoas espirituais:

Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém. (1 Coríntios 2:13-15)

Não é espiritual corrigir alguém baseado em tradição humana ou valores deste mundo, se alguém está ligado à Palavra e ao Espírito, está sempre vigilante dos Seus princípios.

Terceiro: olhemos pelos olhos da graça

O próximo ponto trata de postura em relação a dois aspectos: espírito de brandura e vigilância de si mesmo: “vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado.” (Gálatas 6:1-2).  Precisamos olhar para saber se o que está sendo dito de mal está realmente acontecendo. Então, verificamos na Palavra e a Palavra não aceita o que está acontecendo. Agora, é o momento em que a fé opera pelo amor. Espírito de brandura fica mais claro na versão amplificada:

Irmãos, se qualquer pessoa é surpreendida em má conduta ou pecado de qualquer sorte, vocês que são espirituais [que são responsivos e controlados pelo Espírito] devem corrigi-lo e restaurá-lo e recolocá-lo, sem qualquer senso de superioridade e com toda a gentileza, mantendo um olhar atento sobre si mesmo, para que vocês não sejam tentados também. (Gálatas 6:1 – Bíblia amplificada)

A intenção de quem corrige não pode ser a de quem quer se livrar do incômodo da pessoa que erra, que quer puni-la pela afronta, mas de quem quer restaurá-la ao seu relacionamento com Deus. Alguém que realmente é espiritual compreenderá que só a graça do Senhor nos sustém em pé e é ela que nos levantará quando cairmos. Pela graça, entendemos que nosso trabalho é levantar e não abater, acolher e sarar e não ferir. Trazer a Deus é trazer ao arrependimento, ao reconhecimento de que errou. A mesma aceitação da pessoa arrependida que está em Cristo, deve estar em nós:

Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe. (Lucas 17:3-4)

Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados. (Tiago 5:19-20)

E se a pessoa não se arrepender? Vale o mesmo tratamento que temos com qualquer pessoa que não tem Jesus como Senhor:

Se teu irmão pecar [contra ti], vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano. (Mateus 18:15-17)

Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão fala mal da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz. (Tiago 4:11)

E o alerta é importantíssimo: Cuidai para não serdes tentados. Isso lhe dá um princípio: tudo aquilo quanto você já repreendeu na vida pode se tornar uma tentação para você. Vigie. Peça sinceramente a graça de Deus naquela área. Não se sinta imune àquilo contra o que você exorta, pelo contrário, peça mais proteção e vigie mais. Esse alerta segue-se do seguinte no versículo de Gálatas 6:1-3: “Porque, se alguém julga ser alguma coisa, não sendo nada, a si mesmo se engana.”

Quarto passo: Lembre-se de seu tamanho

Nenhum ser humano na terra é maior ou menor do que a cruz. A cruz é nossa justa medida. Nela está o nosso retrato oficial como necessitados da graça e do perdão. Ninguém é maior nem menor do que ela de modo que ela não possa cobrir. Na cruz não está um retrato de um pobre coitado injustiçado para mostrar como os bons sofrem como alguns pensam. Na cruz está o nosso retrato, de como o pecado nos faz sofrer e como Deus vê esse sofrimento e deu seu filho para nos livrar do sofrimento causado pelo pecado para que todos possam entrar na sua presença.

Nós temos a memória curta para o bem. Sofremos o mal por vários anos e o remoemos, mas não guardamos o bem que nos foi dado por muito tempo. Jesus veio nos dar uma vida nova na sua ressurreição. Ele veio sarar, libertar, prover e nos dar Paz. Se você teve uma experiência pessoal com Jesus você terá uma vida a.C.  e d. C. Não esqueça de quem acabou o tempo do sofrimento quando estiver comemorando a vitória. Deus não será esquecido nos tempos de angústia, mas poderá ser esquecido quando a dor que você sofreu não estiver mais em você e sim nos outros.

A cruz nos irmana porque nela está o nosso retrato. A única diferença entre um e outro é o tipo de necessidade que vivemos. Uns têm um tipo de problema e outros problemas de outro tipo “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus,” (Romanos 3:23). Nós nos enganamos como se fôssemos maiores do que a cruz quando achamos que outra pessoa é pior do que nós e nos enganamos como se fôssemos menores do que a cruz quando achamos que a cruz não pode resolver os nossos problemas. A cruz é a porta para toda a humanidade, sem distinção. Se olharmos para outra pessoa com ares de superioridade, negamos a cruz.

Quinto passo: ajude a carregar o fardo

“Levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo.” (Gálatas 6:1-3). Todos nós sabemos como é estar sobrecarregado. Jesus disse que podíamos vir a Ele quando estivéssemos assim e receberíamos alívio (Mateus 28:11). Entretanto, aqui, Paulo diz aos gálatas que Jesus vai usar a nós mesmos para sermos os braços e pernas com que Deus vai descansar os que estão sob fardo. E, nesse caso, fala-se do fardo do pecado. É preciso haver um ambiente de cooperação e confiança para que as pessoas possam fazer o que Tiago disse:

Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo. (Tiago 5:14-16)

As pessoas realmente maduras em Cristo tornam-se confiáveis para ouvir as nossas fraquezas e ajudar-nos a superá-las. Porque a maturidade traz também a consciência da obra universal da cruz e da sua necessidade universal. As pessoas cristãs imaturas condenação, excluirão, caluniarão e difamarão os que falharem, destruindo a igreja ao invés de fortalecê-la.

Origem da crítica

Satanás é um crítico desde o começo. Ele começou criticando Deus: “Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal. “ (Gênesis 3:4-5). Do ponto de vista de Satanás, Deus estava com medo da concorrência de Adão e Eva. Satanás era um crítico. Os críticos suspeitam de todos. Satanás, por sua vez, suspeitava até de Deus e sua bondade.

Os rebeldes são críticos. Absalão permanecia criticando o rei (seu pai) até que conseguiu aliados para o derrubarem. Ele dizia que se fosse o rei não cometeria os erros de seu pai...

Levantando-se Absalão pela manhã, parava à entrada da porta; e a todo homem que tinha alguma demanda para vir ao rei a juízo, o chamava Absalão a si e lhe dizia: De que cidade és tu? Ele respondia: De tal tribo de Israel é teu servo. Então, Absalão lhe dizia: Olha, a tua causa é boa e reta, porém não tens quem te ouça da parte do rei. Dizia mais Absalão: Ah! Quem me dera ser juiz na terra, para que viesse a mim todo homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça! (2 Samuel 15:2-4)

Absalão estava prestes a tomar o trono do pai à força. Estava revoltado e isso o moveu para a infidelidade.

Paulo dizia que quem o criticava o fazia no intuito de tomar a liderança: “Tornei-me, porventura, vosso inimigo, por vos dizer a verdade? ¶ Os que vos obsequiam não o fazem sinceramente, mas querem afastar-vos de mim, para que o vosso zelo seja em favor deles. “(Gálatas 4:16-17). A crítica ferina tem o poder da destruição da unidade. Ela tem a intenção de derrubar, desvalorizar, comprovar a maldade ou incapacidade no outro. É algo terrível que precisamos arrancar do convívio de nossas vidas, famílias, convívios e principalmente da igreja.

Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus para semearmos o que Deus semeia. O que Deus diz é no sentido de levantar e fortalecer, ainda que corrija os que ama. Jamais lançará palavras como setas, só visando exaltar falhas e imperfeições, ressaltar defeitos e fraquezas, depreciar gostos e hábitos, servindo e sendo frutos de agressão, rejeição, zombaria, rebeldia, condenação e menosprezo. Precisamos destruir esse ciclo de destruição causado pela crítica ferina. Que nós possamos derrubar a precipitação no juízo, olhar com olhos de graça e misericórdia, vigiando a coerência na atitude. Pois todos nós só nos diferenciamos em uma coisa: em que área precisamos do perdão de Deus. Sabendo o quanto somos iguais, nos resta sermos a força que o outro precisa para levantar e caminhar nos caminhos do Senhor e vigiar essa armadilha que o diabo coloca aos pés da humanidade desde o Éden.

Você pode orar assim:

Senhor, ajuda-me a não me precipitar e criticar ou condenar meu semelhante, dá-me a brandura necessária para levantar e que eu perceba quando e como posso fazer isso. Que eu não deixe de perceber nunca que eu preciso da mesma cruz que o meu semelhante e que eu possa ficar livre de ser instrumento de destruição através da crítica ferina.