domingo, 23 de junho de 2013

Eu sou do tamanho da minha fé



Há uma história registrada na Bíblia que é pouco conhecida. A história de Raabe. Raabe fez parte da genealogia de Jesus, sendo esse tipo de registro raríssimo, pois as mulheres não eram listadas pelas genealogias na época de Cristo (Mateus 1:5). Ela não só foi parte da genealogia de Cristo, mas foi bisavó do pai de Davi. Uma sequência de pessoas abençoadas pela vida dessa mulher de fé, inclusive nós, que recebemos Jesus.

Mas Raabe não seria vista assim do ponto de vista da sociedade de sua época. Ela não tinha posses, marido ou morava em uma boa vizinhança. Sua profissão, a desvalorizava tanto melhor e mais competente fosse. Raabe não tinha nada, não valia nada e nada do que fazia tinha valor. Você talvez a desprezasse se a visse na rua e mudasse de calçada, mas em seu coração estava algo tão precioso que a levou a uma mudança na sua história, na história da sua cidade e na história do povo de Deus.

Raabe era moradora da cidade de Jericó. Essa cidade foi o primeiro desafio do povo judeu para conquistar a terra prometida. Uma estrangeira, pobre, mal vista pelo seu povo, foi o canal de Deus para seu povo conquistar as promessas. Tudo aconteceu quando Josué enviou dois espiões para serem batedores à frente do exército para que ele estabelecesse a estratégia de combate contra a cidade. Ela era conhecida por seus muros de pedra altos, intransponíveis (da largura de uma avenida de quatro carros). Jericó foi vencida de dentro para fora. Foi implodida pela fé de uma mulher.

Uma prostituta na cidade... Onde ninguém via mais do que isso, Deus viu uma bomba poderosa de fé para destruir os inimigos. Raabe recebeu os dois espiões enviados por Josué contra a sua cidade e os escondeu dos homens do rei. Quando estavam a salvo, disse-lhes da sua fé:

Antes que os espias se deitassem, foi ela ter com eles ao eirado e lhes disse: Bem sei que o SENHOR vos deu esta terra, e que o pavor que infundis caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra estão desmaiados. Porque temos ouvido que o SENHOR secou as águas do mar Vermelho diante de vós, quando saíeis do Egito; e também o que fizestes aos dois reis dos amorreus, Seom e Ogue, que estavam além do Jordão, os quais destruístes. Ouvindo isto, desmaiou-nos o coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o SENHOR, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra. Agora, pois, jurai-me, vos peço, pelo SENHOR que, assim como usei de misericórdia para convosco, também dela usareis para com a casa de meu pai; e que me dareis um sinal certo de que conservareis a vida a meu pai e a minha mãe, como também a meus irmãos e a minhas irmãs, com tudo o que têm, e de que livrareis a nossa vida da morte. (Josué 2:8-13)

Ela ouviu sobre os feitos do Senhor para seu povo, contra os seus inimigos e viu que Deus liberta aqueles com quem tem aliança e, por outro lado, também viu que não adiantava ser contra Deus. Ela recebeu fé pelo ouvir da Palavra. Ela reconheceu Deus como Senhor e seu coração o temeu e se rendeu a Ele.
Aquela prostituta na sua miséria, tinha misericórdia para dar aos espias. Ela arriscou sua vida por crer. O rei a trataria como traidora, mas ela considerou o Deus de Israel mais poderoso que o rei de Jericó. Ela estava confiando sua vida e a vida da sua família aos servos daquele Deus todo poderoso, libertador, confiando em Jeová para salvá-la, como tinha salvo o seu povo do Egito. Ele não a trataria como estrangeira porque ela tinha a mesma fé que estava no coração de Abraão. Ela estava disposta, assim como Abraão a deixar tudo o que conhecia e seguir a Deus.  Ela desejava a mesma libertação do povo judeu. Aquela mulher vivia em escravidão mesmo estando livre. Era estrangeira em sua própria cidade, sua identidade não valia nada. Ela buscava refúgio no Deus Redentor dos judeus e o encontraria.

Raabe usou a única coisa que tinha: sua fé. A bíblia diz porque ela acolheu os espias: pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os desobedientes, porque acolheu com paz aos espias.” (Hebreus 11:31). A fé a fez tomar o rumo da obediência à Palavra. A fé mostrou quem ela realmente poderia ser em Deus. A fé mudou sua vida completamente e a salvou: “Mas Josué conservou com vida a prostituta Raabe, e a casa de seu pai, e tudo quanto tinha; e habitou no meio de Israel até ao dia de hoje, porquanto escondera os mensageiros que Josué enviara a espiar Jericó.”  (Josué 6:25).

A conquista de Raabe



O que Deus diz sobre Raabe? ¶ “Dentre os que me conhecem, farei menção de Raabe e da Babilônia;[...].”(Salmos 87:4a).  Sim, ela conheceu Deus e se reconheceu nele. A prostituta que morava em Jericó, tornou-se esposa e mãe em Israel. A mãe de um homem de bem, generoso, que tomou Rute por esposa sem se importar que seu primeiro filho fosse receber o nome de outro homem. Raabe soube ensinar sobre a graça e o verdadeiro tamanho de uma pessoa e seu espelho em Deus. Nós seríamos todos mais generosos se nos olhássemos segundo os olhos do Senhor.

Se nos víssemos como Deus nos vê, não poderíamos negar algo que qualquer criatura humana pode dispor a seu próximo, a misericórdia. Raabe não tinha nada, mas ao usar de misericórdia, a sua vida foi transformada, a vida de sua família foi transformada e os planos de Deus foram liberados para o povo de Deus, sobre uma semente de misericórdia de quem precisava receber misericórdia. Isso mostra que, se nós olhássemos pelos olhos de Deus, não estaríamos com medo de sermos traídos, atingidos, não estaríamos confusos e procurando inimigos em todos os cantos. O amor de Deus nos deixaria firmes, inabaláveis porque estaríamos indo de encontro ao maior e não temendo os menores: “Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado.” (Romanos 5:5)

Se mantivéssemos diante de nossos olhos, que não valíamos ou tínhamos nada quando Jesus decidiu nos amar a ponto de dar sua vida pela nossa, nós nunca acharíamos que fizemos demais, demos demais, sabemos demais, somos melhores do que os outros, quer já tenham acolhido a fé ou não, porque a chance de receber o amor de Deus em Cristo é igual para todos.

Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. (Romanos 5:6-8)

Raabe não tinha o respeito da sua comunidade, não tinha dinheiro, não morava em um lugar lindo e confortável, não era uma intelectual, nem membro de boa família, mas ela tinha um coração que conhecia e reconhecia a misericórdia. E Deus tem uma promessa para os misericordiosos: “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” (Mateus 5:7). E Raabe recebeu misericórdia e salvação, não só para ela, como para sua casa.

A fé de Raabe


A fé moveu Raabe a ação e essa fé, que nos muda e nos transforma é a fé verdadeira, aprovada, reconhecida e honrada por Deus. Ela ouviu a respeito de Deus como quem precisa, não como quem já tinha tudo. Ela não estava enfadada de ouvir e nem para atender a Palavra do Senhor. Ela nunca achou que tinha, era ou sabia o suficiente. Ela ouviu o primeiro relato, ouviu o segundo e o terceiro e os guardou em seu coração e decidiu que aquele era o caminho para mudar a vida dela. A sua fé a moveu em ação, em coerência com a Palavra, e Deus honrou e ainda honra esse tipo de fé:

De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta. (Tiago 2:25-26).

A fé que faz nos vermos e movermos em Deus é a fé que Deus honra. A fé que tem sede do Deus vivo é a fé que o Deus Vivo honra. A fé que muda histórias e a história dos povos é a fé e se entrega aos planos e à Palavra de Deus. Esta é a fé que move o coração de Deus.


Vasos de misericórdia


Tudo o que Raabe conhecia era contra ela. Tudo o que Raabe fazia era realimentar o seu ciclo de derrotas diárias. Tudo o que ela tinha só era o suficiente para sobreviver. Assim, derrotada e esvaziada, Raabe tinha o tamanho que Deus precisava para abençoá-la. Muitos de nós estão grandes demais para sermos bênção ou para sermos abençoados. Vaso grande não transborda, mas vaso pequeno derrama com facilidade. Deus gosta de pequenos frascos, como o que derramou perfume aos pés de Jesus (Mateus 26:7). Vasos que se derramem aos pés do Rei dos Reis, confessando que, por mais preciosos que sejam, são pouco para presentear a sua Majestade.

Somos todos vasos formados da misericórdia do Pai: “a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?” (Romanos 9:23-24). Somos vasos formados de misericórdia para derramar graça. Quanto mais conhecermos o Deus da graça, saberemos o quanto necessitamos dela até para respirarmos. Não há nada na nossa vida de bom que venha de nós mesmos, senão da graça de Deus que opera em nós. É a graça reconhecida e operante que nos faz servir ao Senhor: “Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor.” (Hebreus 12:28-29). Porque sem a graça seríamos aquilo do que Senhor nos regatou com a própria vida.

Aquele que realmente compreendeu a graça sabe que nada do que vier a fazer para Deus será muito, nem mesmo suficiente, porque lhe devemos a nossa própria vida. Mas sabe que tudo o que fizermos com inteireza e sinceridade de coração, ainda que imperfeito, será aceito como perfeito. Deus tem um princípio para avaliar o que recebemos e damos a Ele: “acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição.” (Colossenses 3:14). Deus considera perfeito o que fazemos por amor a Ele, reconhecendo quem Ele é, o que Ele fez para nós, em gratidão. Ele sabe, assim como um pai humano sabe, que nós, como crianças diante dEle, temos  milhares de limitações, mas o fato de estarmos fazendo para Ele da nossa melhor forma, é o que importa. Ainda que seja como a criança que pede ao pai dinheiro para comprar o presente do dia dos pais. Ele se alegrará em receber de você o seu melhor.

Agora, precisamos olhar para o nosso coração e observarmos se temos o coração de fé de Raabe. O coração capaz de dar e receber misericórdia, de crer na misericórdia, de se entregar à misericórdia e de viver e fazer viver pela misericórdia. Se não temos consciência da misericórdia como instrumento da graça, se acertamos, somos maiores do que os outros, se erramos, somos menores que os outros. Em ambos os casos, nosso referencial é humano e não divino. Estamos nos julgando à imagem falha dos homens e não diante da perfeição do amor de Deus. Roubamos a glória de Deus quando a graça opera e a negamos quando nos afastamos dela pela culpa. Não podemos esquecer nunca que “toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança.” (Tiago 1:17). Então, que o Senhor seja a nossa fonte sempre. Que Ele seja para sempre louvado e exaltado em tudo o que temos, somos e pudermos e quando não formos tão bem assim, temos a sua graça para nos restaurar e sua misericórdia para nos consolar.

Você pode orar assim:

Senhor, dá-me a humildade da obediência e da compreensão de Raabe, para que eu possa saber que em ti eu sou, posso e tenho tudo o que a tua promessa diz. Ajuda-me a reconhecer-Te como fonte das minhas vitórias e consolo das minhas perdas, ajuda-me a reconhecer que tudo vem de Ti e te dar toda a honra, toda a glória e todo o louvor, somente a Ti. Que eu diminua  e que o Senhor cresça.


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