Há leis que independem de guardas e juízes para se
estabelecerem. Outras, sem eles são ignoradas. Outras há ainda das quais todos
somos guardas e juízes. Seja de que tribo formos, nós temos uma expectativa de
comportamento, que selecionamos como aceitável ou inaceitável seja para os habitantes locais ou para os visitantes. O grau de tolerância ao descumprimento varia de acordo com a
importância da lei. Por exemplo, os princípios de etiqueta são bastante
flexíveis em todas as culturas pelo mundo. Se você comer à mesa de um árabe e
não expelir bastante gases pela boca no final da refeição, você estará dizendo
que não gostou da comida e, consequentemente, que a acolhida não foi boa.
Eu já estou ouvindo o seu “Ai, que horror!” ocidental.
Mas, pode ser que seu hospedeiro releve a situação se você for um estrangeiro.
Entretanto, em qualquer cultura do mundo querer ficar com a esposa de alguém é
problemático, mesmo com as esquimós, cujo marido oferece para aquecer o
visitante, o viajante pode estar com ela sob permissão do marido, mas não levá-la embora.
A relação com as gerações anteriores é bastante
diferenciada em várias culturas, umas adoram os ancestrais, como os chineses e
japoneses e outros povos asiáticos; outros já precisam elaborar políticas
públicas de proteção aos idosos porque eles estão abandonados, mas o caso é que
há regras em torno desses relacionamentos em todas as culturas.
Você pode ver princípios gerais com relação às posses,
ainda que, em dado círculo, elas sejam comunitárias, mas são vedadas aos de fora.
Também com relação à religião ou práticas de culto, todas as sociedades
carregam a marca de seus deuses. Até a sociedade contemporânea aponta seus deuses: a ciência, o status do consumo, o prazer, etc. Mas, se você
observar, você vai ler no coração da humanidade o grito do eterno. Esses pontos
em comum em qualquer cultura apontam para os velhos dez mandamentos:
Princípios de
adoração:
3
Não terás outros deuses diante de mim. [...] 4 Não farás para ti imagem de escultura, nem
semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas
águas debaixo da terra. 5 Não as
adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, [...]7 Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em
vão, porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. 8 Lembra-te do dia de sábado, para o santificar [...] (Êxodo
20:3-5, 7)
Princípios de relacionamento:
“12 Honra
teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR,
teu Deus, te dá. 13 Não matarás. 14 Não adulterarás. 15 Não furtarás.” (Êxodo 20:12-15)
Princípios de postura para com o outro (alteridade):
“16 Não dirás falso testemunho contra o teu
próximo. 17 Não cobiçarás a casa do teu
próximo. Não cobiçarás [...] coisa alguma que pertença ao teu próximo.” (Êxodo
20: 16-17).
Você encontrará princípios nessas áreas em toda e qualquer
cultura, mesmo que com diretrizes diferentes. Há uma necessidade humana de construir
esses princípios dentro de si mesmo. Deus não os explicitou por acaso. Na
ausência dos princípios explícitos, o homem os deduz de uma forma ou de outra e
os emprega sofrendo e fazendo sofrer as conseqüências.
Hoje, vamos explorar um pouco esse ponto, onde Deus
deixou a sua marca e seu testemunho.
O altar ao Deus desconhecido na Grécia
O relato é o seguinte:
Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens. Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos. (Atos 17:23-31)
A história do altar ao Deus desconhecido relatado no texto acima remonta a uma praga que assolava a Grécia antes do 600 a. C. Consultado o oráculo de Pítias, foi referido que deviam chamar um sábio chamado Epimênides, da ilha de Cnossos, até Atenas para dizer como resolver o impasse, uma vez que já se havia realizado oferendas às centenas de deuses em Atenas e a praga não tinha sido resolvida. Os atenienses era famosos por sua quantidade de deuses e não satisfeitos com os que já possuíam ainda agregavam todas as divindades das culturas conquistadas e não eram poucas. Mas, não eram suficientes.
Epimênides chegou-se aos líderes da terra e, sem rodeios, disse:
"Amanhã, ao
nascer do sol, tragam um rebanho de ovelhas, um grupo de pedreiros e uma
grande quantidade de pedras e argamassa até a ladeira coberta de relva, ao pé
desta rocha sagrada. As ovelhas devem ser todas sadias e de cores diferentes -
algumas brancas, outras pretas. Vocês não devem deixá-las comer depois do
descanso noturno. É preciso que sejam ovelhas famintas! Vou agora descansar da
viagem. Acordem-me ao amanhecer.” (RICHARDSON, 1998, p. 11).
As ovelhas são ruminantes que passam a noite digerindo,
de manhã, elas estão prontas para comer um caminhão de ração. E ao começarem a
comer, nada as impede até que se sintam fartas. E assim o que foi pedido foi preparado para
Epimênides.
Sob os olhos da multidão sofrida pela praga e dos anciãos
da cidade, Epimênides mandou levar o rebanho para o campo apropriado sob três
suposições:
- Existe um deus que não é conhecido, nem está
representado em nenhum ídolo, mas que pode resolver essa praga sobre a cidade;
- Esse deus é poderoso e bondoso para poder e querer
resolver esse problema sobre essa cidade;
- “Qualquer deus suficientemente grande e bondoso para
fazer algo a respeito da praga é também poderoso e misericordioso para nos
favorecer em nossa ignorância - se reconhecermos a mesma e o invocarmos!"
(RICHARDSON, 1998, p. 12).
Sob essas três suposições, Epimênides mandou soltar as
ovelhas famintas, nas primeiras horas do dia, quando, normalmente, elas não
parariam para descansar a não ser depois de horas comendo. As ovelhas que se deitassem seriam as escolhidas por esse Deus para serem aceitas em sacrifício. Então, aconteceu que
várias ovelhas começaram a se deitar, de repente. E, Epimênides mandou construir os
altares onde elas pararam, separou as ovelhas deitadas, que foram sacrificadas, e a praga cessou.
Para homenagear esse Deus que estava acima de todos os
deuses de Atenas, e da sua multidão de deuses, foi erigido um altar, mas como não
se queria ofender o Deus que não se conhecia o nome, foi marcado sobre ele
apenas a inscrição: as palavras agnosto theo - a um deus desconhecido -
no lado de cada altar. Este é o altar que
Paulo aponta quando inicia a sua pregação em Atenas, no Areópago:
22 Então, Paulo, levantando-se no
meio do Areópago, disse: Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente
religiosos; 23 porque, passando e
observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito:
AO DEUS DESCONHECIDO. Pois esse que adorais sem conhecer é precisamente aquele
que eu vos anuncio. (Atos 17:23-24)
A marca do Amor e da presença de um Deus bondoso e
Onipotente, ainda que desconhecido, está latente em sua necessidade no coração e na vida dos homens, ainda
que não o reconheçamos. O conhecimento desse Deus marcará e transformará quem experimentar
conhecê-lo nos seus relacionamentos e na sua postura diante da sua vida e da
vida dos outros.
A imagem de Deus só pode ser vida
Deus é mais do que podemos tocar, falar ou esperar por
nós mesmos. Não podemos contê-lo porque fomos construídos para que ele nos
abrigasse, para Ele fosse nosso lugar de morada, a nossa forma, aquele que determina quem
somos, o que temos e o que podemos. Temos insistido em conter Deus em nossas
formas e expectativas, mas a única imagem que Ele nos deu foi Jesus, vivo,
cheio de poder de vida, transbordante de amor e misericórdia andando e fazendo o
bem nunca visto antes:
como Deus ungiu a Jesus de Nazaré
com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e
curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele; (Atos 10:38).
1 Havendo Deus, outrora, falado,
muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, 2 nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a
quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo. 3 Ele, que é o resplendor da glória e a
expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu
poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da
Majestade, nas alturas, (Hebreus 1:1-3).
Jesus não foi definido por homens
Veja
como Jesus comprovou que era quem realmente devia ser:
20
Quando os homens chegaram junto dele, disseram: João Batista enviou-nos
para te perguntar: És tu aquele que estava para vir ou esperaremos outro? 21 Naquela mesma hora, curou Jesus muitos de
moléstias, e de flagelos, e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos. 22 Então, Jesus lhes respondeu: Ide e anunciai a
João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são
purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres,
anuncia-se-lhes o evangelho. (Lucas 7:20-22).
Jesus se apresentou manifestando a vida de Deus, que é maior do que qualquer coisa que o possa representar na terra. Mas nós só podemos vê-lo pela fé: “nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.” (2 Coríntios 4:4).
Nós precisamos daquele Jesus que se identificou e
apresentou na Galiléia, curando, libertando e trazendo vida e paz para os que
se aproximavam dEle. Do Jesus que traz vida e liberta da morte. É preciso viver
esse amor e essa vida intensamente nEle, como Ele mesmo se define. Quando nós
criamos uma definição para qualquer pessoa, somos limitados, mas quando criamos
essa definição para Deus somos desrespeitosos. A definição de Deus é aquela que
Ele mesmo se dá, sua imagem, a que Ele mesmo constrói em nós e na nossa vida e
através da nossa vida na vida de outros.
Os princípios e a imagem de Deus em nós
O princípio geral de adoração vai se refletir na nossa vida de relacionamentos e na nossa postura para com os outros. Deus nos deu Jesus para agir na nossa vida e essa ação é
que forma a imagem de Deus em nós:
13
Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do
Filho do seu amor, 14 no qual temos a
redenção, a remissão dos pecados. 15
Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; 16 pois, nele, foram criadas todas as coisas,
nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam
soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e
para ele. (Colossenses 1:13-16)
Você pode orar assim:
Querido Deus, mostra-me teu filho Jesus, quero conhecê-lo, sem limitá-lo aos meus conhecimentos além da tua palavra e às tradições humanas, quero conhecer o seu amor e seu poder de vida na minha vida e me tornar parte e testemunho dEle, vem em socorro à minha falta de conhecimento, tem misericórdia de mim Senhor...
Fontes consultadas:
RICHARDSON, Don. O fator Melquisedeque: o testemunho de
Deus nas culturas através do mundo. São
Paulo: Vida Nova, 1998.
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