sexta-feira, 5 de abril de 2013

Colhendo a paz a alegria e a justiça!





Você de repente entra numa sala e percebe duas pessoas de rosto fechado e evitando se olharem. Mal conseguem se desviar de sua irritação para perceberem que você chegou e quando percebem, forçam um sorriso à sua chegada. O que aconteceu? Você não sabe, mas se você tiver um mínimo de consciência situacional saberá que houve alguma coisa entre aquelas duas pessoas e não foi agradável. Tudo o que vier a partir daquele momento será influenciado pelo que houve antes e você sente o “clima” pesado. Você certamente só permanecerá ali se você tiver realmente que fazê-lo. Senão, encontrará uma desculpa e se afastará.

Todos nós temos mais ou menos desenvolvidas as nossas habilidades para perceber esses “climas” nas situações. É como um tipo de leitura. Mas, existem bons leitores e leitores nem tão bons. E todos somos escritores, com essas mesmas capacidades de escrever no nosso meio. 

Observe aquele tipo de pessoa que sempre tem algo inconveniente para dizer na hora mais inconveniente. Às vezes, penso que é uma arte. Aquele outro que reclama do presente assim que recebe, sem prestar atenção no efeito da sua crítica sobre a alegria de dar do presenteador e sobre a sua futura disposição para lhe dar um novo presente. Por outro lado, há pessoas que possuem um desenvolvimento muito especial das habilidades de perceber as implicações das situações, que estão correndo e de cooperar com a paz e o bem-estar nos grupos onde convive. Por isso, Jesus disse: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. ” (Mateus 5: 9). 

Há outras pessoas que não percebem que existem outros, que vão receber suas ações ou omissões e que essas pessoas vão reagir a elas, aproximando-se ou afastando-se para um relacionamento de cooperação e convivência. Como o Velho Testamento alerta: “o solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria.” (Provérbios 18:1). O sentido original da palavra “isolado” no hebraico é “o separado, o colocado à parte”, ou seja, aquele que é colocado de lado ou que coloca a si mesmo de lado. Pessoas que não consideram a presença dos outros ou a sua interdependência dos outros vivem como se estivessem sozinhos no mundo. Interessante é que muitas vezes se queixam de que as pessoas estejam fechadas para elas. Glória a Deus que isso pode ser mudado. Essa habilidade pode ser desenvolvida: “Deus faz que o solitário more em família; tira os cativos para a prosperidade; só os rebeldes habitam em terra estéril. ” (Salmo 68:6).

Quem ama respeita. O espaço social é tudo o que diz respeito ao modo como sua presença é notada. Então, que a sua presença seja notada como bênção. O contexto nunca é individual. É sempre compartilhado. Por exemplo, seu celular é seu até tocar. Quando toca, todos os que ouvem participam do que acontece. Você passa a ter uma conversa individual sobre assuntos, que só interessam a você e à pessoa que ligou, mas não interessa aos outros, que mesmo assim escutam. Seu toque de celular já perturbou alguém no restaurante, na igreja, na sala de aula? Então, você invadiu o espaço de outras pessoas conversarem. Você fala aos gritos no celular? Escuta música alta? Conversa para a rua escutar? Assiste tv nas alturas? Coloca o som alto no carro? Sabia que Jesus nunca levantou a voz? Jesus não fazia alarido: “1 Eis aqui o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios. 2  Não clamará, nem gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça.” (Isaías 42:1-2). 

A mesma invasão de direitos ocorre sobre aquela pessoa, que sempre interrompe quando os outros falam. Ele transmite a mesma mensagem: A mim não interessa o que você tem a dizer ou o que quer. Você é quem precisa me escutar. Não me importo com o seu espaço, todo o espaço do mundo é meu. Mas, acontece que se você não dá espaço aos outros, não é uma conversa. E se não é uma conversa, a outra pessoa vai se retirar e você acabará falando sozinha.

Os espaços e suas regras 




Entretanto, cada espaço na nossa vida tem sua função e suas regras de uso. Jesus colocou ordem no templo, por respeito ao espaço que devia ser dedicado à oração. Quando ele colocou ordem e reverência, o espaço pôde ser o que Ele foi designado para ser.

“12  Tendo Jesus entrado no templo, expulsou todos os que ali vendiam e compravam; também derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. 13  E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; vós, porém, a transformais em covil de salteadores. 14  Vieram a ele, no templo, cegos e coxos, e ele os curou.” (Mateus 21:12-14

Você nunca vai usufruir o máximo do convívio das pessoas em um local que não respeita e onde não se comporta adequadamente. Se você não respeita as regras do local, sempre será evitado. Muitas pessoas não possuem essa noção de espaço e adequação. São os “sem noção”. E isso será um prejuízo dentro do trabalho deles, com seus amigos, com seus vizinhos, etc. Qual a diferença entre o vizinho que atira um axé nas alturas e um evangélico que põe um hino de louvor nas alturas do ponto de vista do vizinho que quer assistir sua TV ou apenas cochilar ou dormir, numa tarde de Domingo? Cada espaço precisa ser respeitado. O antigo adágio diz: o seu direito acaba onde o direito do outro começa. 

O espaço compartilhado socialmente: fluxos e usos


No Brasil, nunca desenvolvemos muito o sentido de bem público. Mas certamente, existem pessoas que ultrapassam quaisquer limites. Por várias vezes, você pode entrar numa rua sem muito movimento na minha pequena cidade cheia de veículos e deparar-se com um motorista parado no meio da rua para cumprimentar um conhecido. Você espera um pouco, pensando que pede informações, mas a conversa se estende e você se impacienta, termina buzinando. Então, o nosso descansado amigo pode olhar para você e fazer de conta que não está vendo ou despertar-se do seu sono profundo e sair do meio da rua, onde sem que ele notasse já conquistou uma fila de carros esperando que sua conversa animada acabasse. Essas pessoas não têm ideia de onde estão e de que existem mais pessoas no planeta a não ser eles mesmos. Esses são os amigos dos caixas de banco que insistem em contar as últimas novidades barrando as filas enormes; os que insistem com a aeromoça sobre a sua mala ser de mão quando não cabe no porta-bagagem do avião; e você pode me dar muitos exemplos de pessoas que sequer enxergam a presença ou as necessidades dos outros, que elas estão preterindo.

Mas, não estamos aqui falando apenas de espaços de fluxos compartilhados em que pessoas egoístas produzem mal estares. Há pessoas que não observam a menor limitação social ou cultural. Um dia, estava na pracinha perto de casa, sentada e uma senhora com uma criança o mandou urinar em plena praça, em campo aberto. Próximo de onde estávamos, na realidade, há um metro e pouco de nós.

Essa senhora quebrou vários princípios com aquilo: expôs seu filho; sujou o ambiente que era público; e ensinou o princípio à criança. E havia um banheiro próximo em que ela poderia tê-lo levado. A questão é que os princípios que a norteavam pareciam ser: Não há problema para uma criança ficar nua em uma praça; não há problema se ela deixar o cheiro e o produto da sua urina onde as pessoas estão conversando e caminhando; não há importância se ela repetir esse comportamento em minha ausência daqui a algum tempo. Ninguém tinha importância para aquela mulher. Infelizmente, nem a criança.

Qual a nossa reação a uma situação dessas? O ser humano é programado para afastar-se imediatamente de situações de conflito. A menos que nós sejamos muito comprometidos com determinados princípios, preferimos nos afastar do que questionar determinadas atitudes.  Isso, para uma pessoa egoísta é tudo o que ela necessita para continuar com seu comportamento arbitrário. Mas, ela pagará o preço por ele. O espaço público não é espaço para o indivíduo em público, mas para o benefício do público. Precisamos discernir entre o que é de uso particular e o que é de uso compartilhado; entre o que é propriedade privada e o que é de propriedade pública. O que é bem público não é de uso particular, é de uso e cuidado do público. O bem público é de propriedade do Estado para bem do público. Portanto, digno de zelo, pois é para nosso uso, do povo, até onde todos sejam beneficiados igualmente.


Regras dos espaços de convivência



Há pessoas que são como imãs sociais, outras, como repelentes sociais. Por quê? Elas desenvolveram um tipo de inteligência, que hoje se chama de inteligência social. A habilidade de lidar com pessoas. Quem deseja desenvolver essa habilidade precisa compreender que os espaços e as pessoas possuem relações que não na maioria das vezes não são ditas em palavras, mas que são infinitamente importantes nos relacionamentos.

Quando à atitude da senhora com relação à sua criança não seria problema em um sítio na área rural do interior do Estado. Mas, a cultura de uma área urbanizada é diferente. Imagine se isso acontece em uma reunião social na casa de alguém... Causaria bastante desconforto. Há ações a atitudes convenientes e esperadas em cada situação. Não percebê-las ou de desrespeitá-las é ser arrogante, desrespeitoso, portanto, não estamos agindo no amor.

Jesus prezava as regras de hospitalidade e cortesia. Ele repreendeu um homem chamado Simão por não demonstrar respeito e amizade por ele ao recebê-lo e reconhece na vida de uma mulher de má fama esses princípios, pois vinham do seu coração:

44  E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; esta, porém, regou os meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. 45  Não me deste ósculo; ela, entretanto, desde que entrei não cessa de me beijar os pés. 46  Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo, ungiu os meus pés. 47  Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. (Lucas 7:44-47).

Aquilo que você demonstra na aproximação é o que está dentro de você a respeito de quem você se aproxima. Não existe respeito pelo outro que não se demonstre com atos ou palavras. E a sociedade já possui códigos por onde esses gestos e atitudes são reconhecidos. O Amor respeita os outros e demonstra respeito de uma forma que pode ser compreendida. Bater à porta, pedir licença para interromper alguém, ligar antes de aparecer na casa do outro são provas de que você se importa e respeita a presença e o espaço do outro. Isso serve para pais, mães, filhos, filhas, empregados, patrões, pessoas em qualquer posição de hierarquia, conhecidos e desconhecidos. Respeito cabe em qualquer lugar.  

Os gestos e a comunicação: linguagem de convivência


Nós brasileiros temos uma cultura que permite uma certa quantidade de toques e aproximação física. Mas, nem todas as pessoas, mesmo no Brasil, sentem-se à vontade de estarem sendo tocadas por estranhos. Há pessoas que possuem o hábito de só falar tocando em quem fala...

Em outro país, principalmente nos europeus, é mais complicado. Um inglês, por exemplo, não chega para cumprimentar uma pessoa e lhe dá dois ou três beijinhos, muito menos se despede com um abraço. A cultura inglesa não permite esse tipo de aproximação física. Como exemplo, a rainha da Inglaterra não podeser tocada em qualquer momento. Isso ofenderia a nação. Só seus parentes e servos imediatos possuem esse direito. Em outros países do Oriente Médio, homens andando de mãos dadas é sinal de profunda amizade. As mulheres andam atrás do marido em sinal de submissão. Falar olhando nos olhos ou muito próximo pode ser ofensivo em determinados lugares e com determinadas pessoas. Falar sem olhar nos olhos pode mostrar ser de pouca confiança para outras.  Precisamos estar atentos para esses detalhes porque eles serão lidos pelas pessoas que nos cercam e dosarão a sua aproximação de nós.

Esses princípios não estão só nas pessoas, contato físico, gestos, mas também nas coisas, tudo o que fazemos na nossa comunicação tem um sentido social e individual que precisa ser considerado.

Perto e longe: a linguagem da proximidade no espaço e sua mensagem


Você já observou como todas as primeiras cadeiras da igreja ficam geralmente vazias ou são ocupadas pelos ministros e principais da igreja. Ninguém quer sentar na primeira fila na sala de aula. Os alunos do final da sala não têm uma boa reputação com os professores no geral. Um teto alto nos dá impressão de sermos pequenos e intimida os presentes... A posição que ocupamos no espaço influencia a nossa leitura do lugar e das pessoas. Tudo isso influencia no nosso comportamento.

O lugar de culto não organiza as cadeiras em pequenos círculos para propor conversas paralelas, mas todas são colocadas para frente, em direção ao pregador. Isto tem uma mensagem: Escutem, não conversem. Apesar de que temos muitos que ignoram essas mensagens, elas estão aí. Fugir delas é precisar ouvir alguém as explicitando. Elas estão nos bancos, nas casas, no trabalho. O espaço é organizado para nos dar uma mensagem. Precisamos lê-la, senão sofreremos com isso.

Os símbolos que nos denunciam: os títulos de tratamento, a vestimenta 


Além da cultura de gestos, temos a cultura de fala. Eu não tenho nenhum sobrinho trabalhando em restaurante.  Mas já entrei em uma lanchonete onde o rapaz me chamou de tia. Ele simulou uma intimidade que não tinha comigo. Não me senti confortável. O tratamento precisa ser adequado a cada relação e lugar específico. Ser inadequado nisso nos tornará desrespeitosos. Cada grupo social tem seus próprios costumes e modos de comunicação. Falar alto em um restaurante pode lhe valer uns olhares de repreensão, uma queixa do gerente ou um convite a retirar-se, dependendo do nível do restaurante. Então, observe e pergunte quando estiver entrando em um ambiente pela primeira vez. Perguntar não é problema, quebrar as regras invisíveis isso sim, será.

Estamos emaranhados nesse mundo de sentidos e precisamos notá-los e respeitá-los para não nos perdermos neles. Uma boa dica é observar primeiro como as pessoas que estão no ambiente se portam, então, adapte-se imitando o nível hierárquico ou o papel que se assemelha ao seu. Antes de ir a um lugar procure saber se há alguma regra de relacionamento envolvida. Pergunte a alguém, informe-se.

Todos nós somos lidos, praticamente revistados, todas as vezes que nos apresentamos. As pessoas se sentem inseguras com pessoas novas e precisam nos encaixar em algum perfil. A nossa apresentação nos levará a algum perfil pré-definido na mente de quem nos conhece. Ao contrário de que muitos pensam, Jesus não se vestia mal. A sua túnica era de tão boa qualidade que ao invés de rasgá-la, a sortearam (João 19:23-24).  Por favor, não pense que estou dizendo que quem não tem uma roupa de grife para vestir está perdido. Estou dizendo que você precisa pensar no que você diz com sua forma de se vestir e em que mensagem carrega. Os outros reagirão a você baseados nessa mensagem.

Nós estamos entrando numa estrada difícil e perigosa aqui. Mas, pense em uma empresa de advocacia. Os advogados são uma das profissões em que a vestimenta formal é obrigatória. O próprio fórum tem regras sobre vestimentas. Os bancos também são empresas que vendem crédito. A sua imagem precisa estar carregada de credibilidade. Eles não empregarão sequer estagiários que não apresentem essa característica e o primeiro item da imagem é a apresentação. Roupas, cabelos, unhas, símbolos que carregamos, aparência da higiene e a própria higiene pessoal serão contados quer você se importe, quer não. 

O contexto que traz o sentido: o espaço da comunicação e dos significados


Se você der uma larga risada em um filme de comédia, você está fazendo um elogio ao filme. Mas se você fizer o mesmo em um velório? Alguns vão entender como desrespeito, outros como desequilíbrio emocional. Assim, as pessoas vão reagir a você pela forma como você age em um dado contexto. 

Jesus sempre tratava o sentido de cada coisa no contexto onde se inseria na vida de cada pessoa ou tipo de pessoas. Para as donas de casa, ele falava em achar uma moeda varrendo a casa; para os pastores, falava de encontrar ovelhas e tirá-las dos fossos; para os camponeses, falava de sementes. Cada pessoa o entendia dentro da rede de significados e valores com que compreendia também a sua vida.

Por incrível que pareça, cada um de nós constrói de forma particular o modo como damos significado ao mundo, inclusive às palavras. A questão é que nós criamos uma forma de nos encontrar e usar palavras compreendendo e pactuando significados semelhantes para as mesmas coisas. Isso nos permite nos comunicarmos. 

Entretanto, estamos fadados a ter nossos desencontros vez ou outra. Por exemplo, o que significa estar em tal lugar às três horas pode diferir muito entre determinadas pessoas, mesmo que apontemos que o horário é o de Brasília. Valores diferentes dão significados diferentes. Se o valor da pontualidade não estiver dentro do coração, três horas pode significar sair de casa às três. Se você não tiver dentro do coração o conceito de verdade de Deus, ainda vai atender ao telefone e dizer: “O ônibus atrasou... Mas estou chegando...” Quando nem se dignou a sair de casa ainda.

Os princípios que dão significado a palavras e ações como amor, respeito, fidelidade, dedicação, são individuais, tanto quanto coletivos. Considerar o sentido de aspectos fundamentais nos relacionamentos são formas importantes de alinhar compreensões e trazer a paz. Você tem constantes desentendimentos em alguma área? Considere os conceitos dos envolvidos. Explicite-os e busque-os na Palavra. A Palavra deve ser o prumo da construção da nossa rede de significados. Ela constrói uma rede justa e amorosa de conceitos sobre os quais vale à pena viver.




Então, perceba o lugar, as pessoas à sua volta e os significados que são vividos por elas e procure construir um relacionamento pacífico comunicando a Paz de Cristo sobre esses princípios. Então, você será bem-aventurado (mais do que feliz e também digno de inveja). As pessoas e as bênçãos virão e te alcançarão. “Se ouvires a voz do SENHOR, teu Deus, virão sobre ti e te alcançarão todas estas bênçãos:” (DeuteroNômio 28:2).  E, lembre-se, precisamos desenvolver as nossas habilidades de cooperar com paz, a alegria e a justiça, pois esse é o reino de Deus (Romanos 14:17).






Um comentário:

  1. Excelente texto.Fiz reflexões valiosas e enriquecedoras.

    Um abraços a todos!

    Soraya

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