sábado, 27 de abril de 2013

As três conquistas da integridade




Nós conseguimos conquistar a integridade quando distinguimos o verdadeiro, nos tornamos sinceros e percebemos o mentiroso. Como você pode imaginar é uma batalha diária e contínua de conhecimento, sabedoria, prudência e, acima de tudo, coerência. Inclui conhecimento e prática nos relacionamentos.

A palavra "sincera" é de origem latina, nasceu no comércio de cerâmica na Espanha, quando se usava largamente a prática dos negociantes desonestos de preencher as rachaduras das panelas de cerâmica com cera de abelha para ocultá-las dos olhos dos fregueses. Ao colocar a panela no fogo, a cera se derretia e a panela se rachava, tornando-se imprestável. Isso fez com que os fregueses começassem a pedir e procurar panelas “sin cera”, sem cera, sem disfarces, que ocultassem que estavam sendo vendidas pelo preço de uma panela boa para o uso, mas que na realidade não tinham valor algum. A sinceridade está ligada diretamente à confiabilidade para um investimento.

Paulo desafiava os cristãos a serem sinceros: “quanto a vós outros, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne com temor e tremor, na sinceridade do vosso coração, como a Cristo,” (Efésios 6:5). Essa palavra no grego significa: “singeleza, simplicidade, honestidade mental; a virtude daquele que é livre de pretensão e hipocrisia; não é egoísta, coração aberto demonstrado pela generosidade.” (THAYER, 2012, p.1).

Mas podemos questionar o seguinte:

O que é a verdade?
Todo aquele que é sincero é também verdadeiro?
Existem mentiras sinceras?
O que distingue uma pessoa mentirosa de uma sincera?
Alguém consegue dizer somente a verdade o tempo todo?

Há muitas questões que precisamos resolver antes de seguir em frente dizendo que somos ou não somos sinceros como pessoas, cristãos, ou em qualquer papel social. Há também um modelo ideal de que a sinceridade por si só resolva tudo, mas será assim mesmo? E se estivermos sinceramente enganados ou enganadas?

Vale uma reflexão...





Não estou em um espaço dedicado à filosofia, senão estaria em um cruzamento da estrada: de um lado, aqueles pensadores que estabelecem que a verdade é o que pode ser provado experimentalmente; de outro, aqueles que, por compreenderem a capacidade do homem enganar e ser enganado, afirmam que a verdade não existe em sentido absoluto, somente é uma interpretação do real assumida por uma pessoa ou grupo social. Pilatos, líder da província de Jerusalém, não sabia a resposta. E o fato de não ter resposta para essa pergunta o fez participar de uma injustiça terrível:

Então, lhe disse Pilatos: Logo, tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que sou rei. Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? Tendo dito isto, voltou aos judeus e lhes disse: Eu não acho nele crime algum. (João 18:37-38)

A missão de Jesus era dar testemunho da verdade, atrair a ele os que são da verdade, mas Pilatos não conseguia sequer distinguir a verdade. Por isso, não fazia parte dela. A definição de verdade no dicionário é

propriedade de estar conforme com os fatos ou a realidade; [...] fidelidade de uma representação em relação ao modelo ou original [...] Derivação: por extensão de sentido: coisa, fato ou evento real; [...] qualquer ideia, princípio ou julgamento aceito como autêntico; axioma [...] procedimento sincero, pureza de intenções; [...] Rubrica: filosofia. correspondência, adequação ou harmonia passível de ser estabelecida, por meio de um discurso ou pensamento, entre a subjetividade cognitiva do intelecto humano e os fatos, eventos e seres da realidade objetiva (HOUAISS, 2009, p. 3).

Pilatos tinha dificuldade em lidar com tantas versões da verdade. Já imaginou quantas versões de uma mesma história ele escutava e contava? Ele tinha autoridade de julgar uma província conflituosa em um país dominado pela guerra, onde várias culturas e interesses se digladiavam diariamente por um pouco mais ou para sofrer um pouco menos. A injustiça, a deslealdade eram impostas pelos próprios conterrâneos uns aos outros em troca de algum favor dos romanos dominadores. Nesse contexto turbulento, onde cada um dizia e ouvia o que mais lhe interessava, onde estaria ou o que seria a verdade? Mas a verdade estava ali, de pé, à sua frente: respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” (João 14:6). E a verdade continua sendo Jesus, aqui, de pé à sua frente.

O prerrequisito da verdade


Entretanto, há um prerrequisito para compreender a verdade:  se alguém quiser fazer a vontade dele [de Deus], conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se eu falo por mim mesmo.” (João 7:17). Então, para saber se Jesus é a verdade ou não (porque Ele mesmo é seu discurso, Ele é a Palavra de Deus encarnada - João 1:1,14), o nosso coração precisa abandonar seus interesses de ouvir e conseguir o que deseja e buscar saber qual é a vontade Deus, na intenção de cumpri-la. Então, é preciso um coração sincero de servo de Deus para conseguir conhecer a verdade.

Assim era o coração dos bereanos, quando ouviram a pregação de Paulo e Barnabé, eles nem se fecharam nas suas tradições, e nem se entregaram de pronto à novidade por ser novidade, o que seria irresponsável, mas buscaram a verdade na Palavra:

E logo, durante a noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Beréia; ali chegados, dirigiram-se à sinagoga dos judeus. Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. (Atos 17:10-11)

É preciso equilíbrio para estarmos abertos à mudança e, ao mesmo tempo, não deixarmos para trás aquilo que é essencial. São oferecidas a nós várias versões tendenciosas de verdade todos os dias pela mídia, pelas pessoas, cada ser humano narra a vida de acordo com a sua convicção e interesse. Por isso, é preciso esse tipo de nobreza a cada oferta de sentido: “[...] ver se as coisas eram, de fato, assim”.

Mentiras sinceras


Sinceridade é coerência consigo mesmo, com seus conhecimentos e convicções. Daí o problema da sinceridade. Nossos conhecimentos são limitados, assim como podemos ter convicções, que não estejam baseadas na Verdade de Deus, que é Jesus, a Palavra encarnada. Por exemplo, uma senhora estava em um ônibus, no Afeganistão, vestida com sua burca, como a tradição exige. Quando, de repente, veio um vento do deserto e arrancou-lhe a burca, expondo-lhe o rosto. Ela foi morta por linchamento por radicais islâmicos por ter exposto o rosto em público. Essas pessoas foram sinceras, mas, considerando que a verdade é Jesus, o mesmo que recebeu e perdoou uma mulher em flagrante adultério, a sinceridade dessas pessoas passou longe da verdade de Deus.

Onde estava o limite dessa sinceridade? Na convicção que vinha do conhecimento limitado daquelas pessoas. O seu interesse, por mais que, declaradamente, fosse servir a Deus, não serviu à Vida. Nossas limitações direcionam a nossa sinceridade, o que a tornam insuficiente, se não estiver baseada na Verdade de Deus, que é Jesus. Mas, o mesmo Jesus que é a verdade, é também a Vida. Já houve uma leitura de Jesus que queimava pessoas em fogueiras. Um Jesus criado para ir ao encontro dos interesses de alguns. Precisamos encontrar a verdade, pois há uma promessa nessa verdade: “[...] Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” (João 8:31-32). Se você está convencido de algo, que não se baseia na Palavra de Deus, ou que não traz Vida, suspeite que a sua sinceridade pode estar sendo lançada sobre um alicerce fraco, que não suportará as tempestades da vida. A sinceridade que Deus busca é aquela que assume como verdade a Palavra revelada por Deus em Jesus.

Pessoas sinceras e pessoas mentirosas


A sinceridade é, como já disse, limitada pelos interesses e convicções de quem a exerce. Depende do nível de compromisso com a Verdade e da verdade que cada um reconhece. Você conhece pessoas, que só contam a parte da história que lhes favorece; outras que aumentam ou diminuem a estória; outras que criam estórias mirabolantes para se elevar ou para prejudicar outros. Mas, tudo isso está associado à intenção de quem fala e à relação que possui com a pessoa que fala.

Filhos costumam dar poucas informações a pais controladores e chegam a mentir para evitar mais controle ou reprovação. Adolescentes costumam criar para outros adolescentes um desempenho maior ou melhor em vários tipos de relacionamento. Pessoas que visitam doentes costumam exagerar na visão da recuperação deste. Aqui, a mentira é utilizada como arma de defesa sua ou do outro. Mas, sabemos que há mentiras que procuram prejudicar pessoas, essas são os falsos testemunhos, a intenção não é mais defesa, e sim de ataque. Como arma, a mentira pode ferir e provocar problemas graves. Ela traz fatores colaterais como a quebra da confiança, que leva a mais controle e perda de espaço social. Isso numa análise de causa-consequência, mas se analisarmos a origem, veremos que o problema da mentira está na raiz:

Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. (João 8:44).

Observe onde a mentira começa e onde ela quer levar: começa com o diabo e termina na morte. A mentira não é arma de defesa e nem de ataque, mas uma armadilha que lhe enlaçará nela mesma para fazer você cativo do pai da mentira, o diabo.

A manipulação da versão para construir uma “verdade conveniente”


Observe, por exemplo, os relatos televisivos sobre a guerra Israel-Palestina. É interessante o relevo que é dado para os ataques de Israel. Os palestinos iniciaram os ataques, insistiram, quebraram a paz nas negociações atacando durante o cessar fogo, mas a mídia só enfatiza quando Israel ataca. Os mísseis do palestinos são localizados nos topos de escolas, hospitais e outros locais com muitos civis, utilizando-se as pessoas, principalmente crianças e idosos, como escudos humanos. O que faz com que os ataques a esses ninhos de mísseis gerem vítimas civis, voltando a opinião pública contra Israel.

Este é só um exemplo da manipulação da mídia. Sabemos da sua influência em informar, desinformar e não informar. Por exemplo, você sabe que a Irlanda decretou não pagamento da dívida aos credores externos, depôs seu governo e reestruturou toda a sua estrutura interna? Não foi noticiado. Quando os professores de 54 universidades fizeram uma greve geral no país durante quase quatro meses, a mídia televisiva se omitiu durante meses.

Isso acontece num nível macro, e acontece num nível micro, por pessoas com habilidade para fazer isso nos relacionamentos pessoais. Por isso, a conduta de Beréia, principalmente antes de tomar decisões e atitudes ou posturas, formar opiniões de importância e impacto precisa ser “[...] ver se as coisas eram, de fato, assim” (Atos 17:11b). Ver e ouvir o outro lado da história, sempre é IMPORTANTÍSSIMO!

Somente a verdade, nada mais do que a verdade...


A perfeição de caráter será sempre um ideal. Jesus nos libertou da escravidão de desejar viver em pecado, mas não da nossa fragilidade de sermos atraídos a ele, a nossa carne. Assim, queremos fazer tudo perfeito, mas nem sempre conseguimos: “porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.” (Gálatas 5:17). A carne vai nos atrair para a mentira, pode ser que escorreguemos, mas se acontecer:  “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo;” (1 João 2:1). Pedimos perdão e procuramos corrigir tudo.

Por outro lado, não somos obrigados e nem é conveniente sair dizendo tudo o que sabemos, pensamos e queremos a todo mundo. Isso não é ser sincero, é ser imprudente ou inconveniente e o amor não é assim: 

Filho meu, atende a minha sabedoria; à minha inteligência inclina os ouvidos para que conserves a discrição, e os teus lábios guardem o conhecimento;” (Provérbios 5:1-2). 

“Os sábios entesouram o conhecimento, mas a boca do néscio é uma ruína iminente.” (Provérbios 10:14); “O homem prudente oculta o conhecimento, mas o coração dos insensatos proclama a estultícia.” (Provérbios 12:23). 

“Quem retém as palavras possui o conhecimento, e o sereno de espírito é homem de inteligência.” (Provérbios 17:27). 

Além disso, há o modo de falar, que adorna o conhecimento: “A língua dos sábios adorna o conhecimento, mas a boca dos insensatos derrama a estultícia.” (Provérbios 15:2).

É preciso pensar em como, quando, onde e quanto falar em cada caso. 

A vitória da verdade


A regra da semente se aplica aqui. Não nasce limão de uma semente de laranja e nem nasce rosa de semente de coentro. Da mesma forma, a verdade não nasce da mentira e a libertação daquilo que aprisiona ou a vida daquilo que mata. Você pode até achar que a mentira é útil por um tempo, mas ela se voltará contra você como uma serpente que se volta e lhe pica o calcanhar. E você sabe disso, se tem Jesus: “e vós possuís unção que vem do Santo e todos tendes conhecimento. Não vos escrevi porque não saibais a verdade; antes, porque a sabeis, e porque mentira alguma jamais procede da verdade.” (1 João 2:20-21). Nenhuma mentira procede da verdade. O veredito da mentira é terrível: “Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras e todo aquele que ama e pratica a mentira.” (Apocalipse 22:15).

Isso também não quer dizer que não tenhamos problemas e sejamos plenamente aceitos quando dissermos a verdade que o Senhor nos mandar dizer ou ser. Paulo teve problemas com os gálatas: “tornei-me, porventura, vosso inimigo, por vos dizer a verdade?  Os que vos obsequiam não o fazem sinceramente, mas querem afastar-vos de mim, para que o vosso zelo seja em favor deles.” (Gálatas 4:16-17). Ele disse o que precisava ser dito, mas as pessoas estavam dando preferência àqueles que os agradavam e desfaziam a importância do que Paulo dizia. O fato de você dizer a verdade e ser sincero não garante que as pessoas aceitem o que você faz ou diz, somente garante que você seja aceito e reconhecido por Deus. O que para mim, é mais do que suficiente e satisfatório. E você? O que acha?

Vamos nos dedicar a uma sinceridade em verdade que venha de dentro do nosso coração, pela Palavra Viva de Jesus em nós e que flua em nossos sentimentos, pensamentos, vontade e ações, para que vivamos a liberdade que essa verdade, que é Vida pode os oferecer.

Você pode orar assim:

Querido Deus ajuda-me a distinguir o verdadeiro, tornar-me sincero(a) e perceber o mentiroso e repudiá-lo como instrumento, faz-me íntegro,  em nome de Jesus.



REFERÊNCIAS

THAYER, Joseph Henry. Thayer’s greek definitions. In: MEYERS, Rick (Ed.). e-Sword. Franklin, TN, EUA: e-Sword Association, 2012. 1 CD.


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