Sentimento não tem cabeça

Após alguns anos ajudando às pessoas a lidarem com seu crescimento espiritual, tenho confirmado essa afirmação. Nós tendemos a lidar com nossos sentimentos como se eles estivessem submissos à lógica, mas não é possível compreender e lidar com os sentimentos com a pura lógica indutiva ou dedutiva.

Por exemplo, uma criança pode ficar com mágoa do pai e se sentir abandonada por ele porque ele morreu ou porque estava sempre ausente trabalhando para lhe dar tudo o que precisava. Emocionalmente, houve um abandono. Não é lógico porque tem uma justificativa lógica, que a razão acata. Exatamente porque é emocional. A emoção é como uma força que flui por espaços que lógica não traça. Ela flui por onde pode fluir. Por isso, temos problemas. A emoção sequer precisa se por em palavras ou mesmo passar pela consciência para existir. Ela compreende e constrói a sua própria linguagem e sistema de valores, que podem passar completamente distantes e despercebidos do nosso sistema de lógica ou consciência. Esse construído na base do “Se...então,...”. A emoção possui uma lógica própria e os fatos nos ensinam princípios de uma lógica emocional que vai nos acompanhar pela vida.

Muitos cristãos desprezam as emoções exatamente porque elas podem dominar a sua vida e porque eles não sabem lidar com elas. Mas as emoções não são nossas inimigas. Nós podemos tentar conter as emoções em um dique de racionalização do tipo “não posso sentir isso porque ele é meu pai, ou porque ela é minha mãe, ou não posso sentir aquilo porque houve um motivo real para acontecer dessa forma”. O problema é que elas são forças que vão continuar fazendo pressão para fluir e podem acabar rompendo as barragens e inundar o que as cercam, trazendo grande prejuízo. Elas não foram feitas para serem retidas. Foram feitas para estarem em fluxo nos relacionamentos. Foram feitas para serem positivas e construtivas, mas nem sempre é assim que acontece.

Ao mesmo tempo, se aprendermos a alinhá-las ao amor de Deus, nós teremos grandes aliadas para viver o evangelho de forma estável, real e sincera. O caminho é a graça de Deus. Com a graça de Deus podemos conhecer as nossas dificuldades emocionais, trazê-las à presença de Deus e receber ajuda. Então, as nossas emoções saradas, serão como as de Deus e trarão seus frutos.

Causa-lhe espanto eu dizer que Deus tem emoções? Deus se alegra: “Porque, como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposarão a ti; como o noivo se alegra da noiva, assim de ti se alegrará o teu Deus. ” (Isaías 62:5  ); Deus se irrita: “Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Uzá, e Deus o feriu ali por esta irreverência; e morreu ali junto à arca de Deus.” (2 Samuel 6:7);   sente dó, compaixão: “Tu me rejeitaste, diz o SENHOR, voltaste para trás; por isso, levantarei a mão contra ti e te destruirei; estou cansado de ter compaixão.” (Jeremias 15:6). O Espírito Santo se entristece: “E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da redenção.” (Efésios 4:30). Só para citar alguns exemplos. Deus é uma pessoa, mas não é humano. Ele tem personalidade e emoções também. Só que a personalidade e emoções dEle são santas, puras e perfeitas. E se nós temos acesso à natureza dEle, podemos também ter acesso à manifestação das emoções dEle em nós. As nossas emoções são aperfeiçoadas pela ação dEle sobre elas.

Vencendo a culpa e o medo da punição pela fé no Amor de Deus

A palavra pecado, no original grego, significa ofensa à Lei de Deus. A Bíblia nos diz que a Lei de Deus pode ser resumida em dois mandamentos: amar a Deus a cima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mateus 22:37-40). A noção de culpa está ligada ao velho testamento. A culpa é um impedimento permanente. A culpa traz o medo da punição. E nós não desistimos do pecado por causa do medo da punição. Só desistimos do pecado quando entendemos que ter vida é ter amor e isso depende de vencê-lo e cortá-lo de nossas vidas. Ela produz tormento do medo: “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. ” (1 João 4:18). Mas, culpa não é um princípio do relacionamento de Deus com o homem após Jesus.

O medo da punição faz parte de um relacionamento do velho testamento, onde o relacionamento deDeus com o homem não era sob o princípio da graça e sim da lei de mandamentos. Assim, a culpa permanecia. No Velho Testamento, o pecado não era pago e resolvido, apenas encoberto pelas ofertas substitutivas de sangue de animais.

Na realidade, cada vez que o homem erra o alvo se distancia do amor de Deus e isso o faz perder vida, gerando uma ferida espiritual. Deus vê o homem em todas as suas faltas e imperfeições. Mas isso não o impede em nada, porque Ele nos ama. Pelo contrário, ao ver o homem ferido, ele nos enviou Vida, através do seu Filho.

A chave da graça

Mas como chegar diante de Deus com nossas piores emoções? Ele nos condenará, sendo tão Santo? Não. Essa é a chave da graça.

No trono de Deus encontramos o favor não merecido de Deus, a graça, e socorro... e não acusação: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.” (Hebreus 4:16). O diabo é que é o acusador, não Deus (Apocalispe 12:10-11).

Veja como Deus vê uma pessoa coberta de pecados:

“Por que haveis de ainda ser feridos, visto que continuais em rebeldia? Toda a cabeça está doente, e todo o coração, enfermo. Desde a planta do pé até à cabeça não há nele coisa sã, senão feridas, contusões e chagas inflamadas, umas e outras não espremidas, nem atadas, nem amolecidas com óleo.” (Isaías 1:5-6).

Se você enxergasse uma pessoa coberta de feridas do outro lado da rua, você desejaria se aproximar? Quando sentisse o cheiro das feridas, teria bastante dúvidas sobre a aproximação... A única diferença na reação seria se você reconhecesse alguém que você amasse realmente naquela situação. Se você a amasse, correria para socorrer. E foi exatamente o que Deus fez, no mesmo livro em que ele mostra o relato da situação dos homens diante dele, ele faz a maior quantidade de promessas de resgate que existe em toda a Bíblia.

No capítulo 53, de Isaías, Deus vem ao encontro de todas essas feridas. Jesus “era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso.” (Isaías 53:3).   Mas, a despeito do que parecia aos homens “certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.” (Isaías 53:4-5, ver Mateus 8:16-17).

Enfim, é assim que Deus trata com nossas feridas. Para nos dar vida e sarar nossas feridas, Jesus entregou a própria vida na cruz, pagando a dívida do nosso afastamento de Deus. E, então, com as dívidas pagas e o castigo reservado a nós aplicado sobre Jesus, podemos ser perdoados, perdoar, sermos sarados e termos paz. A culpa foi destruída pelo pagamento total da dívida.

Não tema levar as suas dores a Deus. Ele já as conhece. Elas não vão assustá-lo, não vão fazê-lo afastar-se de você, elas não são sequer novidade para Ele. Ele até estava como testemunha quando aconteceram. Ele só espera que você as leve até Ele para você autorizá-Lo a restaurá-las. E ele vai tratar cada uma para que você possa viver em paz e saúde mental e espiritual. Isso é a graça. A mão de Deus estendida para nos acolher e acudir e sarar nossos erros do alvo do Amor, em qualquer tempo ou lugar. Eu só espero que você possa usufruir o quanto antes.

Você pode orar assim:

Querido Deus, eu quero ajuda para lidar com meus sentimentos. Há tanta coisa guardada no meu coração que me faz mal, muitas que sequer entendo, outras que nem percebo. Ajuda-me, a te entregar essas dores e enche-me os vazios do Teu Amor na minha vida. Quero sentir como o Senhor sente e ser feliz, em nome de Jesus. Amém.