Ontem, tivemos um faxinão na igreja. Uma oportunidade
maravilhosa de por as mãos na obra juntos. Não pude cooperar fisicamente
porque ainda estava fraca por causa da luta da enfermidade, mas estive lá no
final da reunião para ver os rostinhos mais cansados e felizes que já vi e o resultado
mais lindo do que o amor pode concretizar. Após o término, tivemos essa
foto acima e você pode ver a alegria nas expressões e no ânimo de quem após
passar o dia no pincel, na enxada e na força, queria cantar e compartilhar.
Tudo foi fotografado e ficou registrado no face da Missão
Filadélfia. Era quase meia noite quando as fotos foram postadas e os
comentários choviam por todos os lados, quando os braços cansados não queriam
deixar os abraços vividos para irem dormir.
Então, acordei hoje, pensando sobre o virtual e o real vivido.
Lembrei-me de pessoas que falam sobre a possibilidade de
viver a igreja apenas virtualmente. Interessante porque há pregadores não pouco
importantes que consideram essa idéia definitiva. Pessoas participantes de
igrejas apenas pela internet ou pela TV. Não estou falando em pessoas em países
onde o evangelho é proibido ou pessoas impossibilitadas por doenças ou em
hospitais, pessoas sem tantas opções de encontro, mas algumas pessoas defendem um corpo de Cristo puramente virtual.
Fico pensando em algumas impossibilidades. Como o que
aconteceu ontem. Tenho certeza de que o resultado virtual teria sido completamente
diferente do que houve ontem. Cada pessoa que esteve lá deixou a sua marca
naquilo que é de Deus e na vida daquele com que participou do trabalho.
Trabalhar juntos é construir juntos. Somos proprietários e responsáveis daquilo
que construímos. Dar risadas juntos, perceber as limitações e os talentos
juntos, apoiar-se, aprender algo novo, comer juntos não tem preço.
Essa é a diferença entre chegar na igreja e ver o portão
pintado e saber que seu cabelo estará para sempre registrado como parte da
tinta. O corpo de Cristo não pode ser apenas virtual e ser completo porque
onde ficaria o “[...] todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as
juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para
sua edificação em amor.” (Efésios 4:16)?
O amor e o espaço-tempo virtual
O amor não pode ser apenas virtual porque você não pode
amar e colocar seu filho para dormir todos os dias pela internet ou pelo
telefone ou pela TV. Não pode amar
virtualmente seu esposo ou esposa e vai ter problemas se quiser amar somente assim seus
amigos. “Amigo virtual” é um termo estranho, mas “irmão virtual” só é aceitável
se você não puder encontrá-lo fisicamente.
Não deixe o tempo e o espaço da sua vida ser consumido
afastando você das pessoas. Cultivar apenas a proximidade estritamente virtual é
enganosa. Não é só a sua necessidade de amar que será penalizada, mas também a
sua necessidade de ser amado. A internet pode ser uma extensão do amor, mas
nunca um substituto para ele. Amor precisa de abraço, olhar, copo d’água
entregue na mão, presença.
Imagine que você fosse proibido de aproximar-se
fisicamente, abraçar ou tocar qualquer pessoa por uma semana. Talvez você
precisasse desse exercício só para valorizar a presença de outras pessoas. Se
você não sentisse nada, eu diria que há problemas a tratar. Por favor, não estou
falando de conhecer pessoas à distância e amá-las, estou falando em fixar-se
apenas ou na maior parte do tempo em manter as pessoas à distância. Enquanto
estamos no corpo, é para estarmos com as pessoas. Paulo sabia disso:
22
Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que
deva escolher. 23 Mas de ambos os lados
estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é
ainda muito melhor. 24 Mas julgo mais
necessário, por amor de vós, ficar na carne. (Filipenses 1:22-24)
Estive um tempo nos EUA. Foi um tempo extremamente
difícil em que Deus só havia me revelado que eu devia ir. Mas não sabia se iria
permanecer lá. É uma experiência tremenda não adiantar saber o endereço onde
mora porque você não sabe ir para casa, não entender o que as pessoas dizem e
elas não se importarem em lhe ajudar ou lhe ouvir, não ter nenhuma referência a não ser que
foi enviada para lá, mas não sabe por quanto tempo. O único consolo era falar
com meus pais e amigos pela internet ou pelo telefone. Mas não era o
suficiente. Viver o virtual como extensão do real é uma coisa, se isso é o que
lhe resta e é temporário, mas não assuma isso como definitivo ou sua vida
perderá o chão.
Horizontes além da internet
Sabe, há pessoas abençoadas além da internet. Várias
pessoas que estiveram lá na igreja dando de si mesmas para o Senhor e para
todos nós não estarão no facebook ou nas redes sociais, lerão o seu e-mail com
aquela mensagem de amizade depois de uma semana ou nem a lerão porque não sabem
mexer naquilo. Ou nem têm e-mail. Todas essas pessoas que passam pelas ruas
estão esperando por mãos, braços, pernas, vozes que se aproximem delas e sejam
reais no amor.
Amor que não se concretiza não é real. Amor é aquele ingrediente
que faz com que “[...] se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que
estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante.” (Eclesiastes 4:10). A nossa estrutura física exige o real como ambiente.
Precisamos da concretude. Quando uma pessoa passa muito tempo no fundo do mar,
precisa passar por um processo de descompressão para voltar à terra. Quando
passa muito tempo no espaço, seus ossos se enfraquecem e seus músculos sofrem a
falta de gravidade. Não acredito que seja diferente quando tentamos excluir o
concreto da nossa vida e transferir os nossos relacionamentos e participações
do mundo real para o virtual.
Onde está Deus?
Se você quer encontrar a Deus, deveria procurar naqueles
que são morada do Espírito de Deus. “16 Não
sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Coríntios
3:16). Tentar transformar a igreja em virtualidade estrita não é
destruir o conceito de que nossa vida física deve carregar e compartilhar Jesus
sobre a terra? “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita
em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1 Coríntios 6:19).
Quantas coisas maravilhosas podem acontecer quando a
igreja se une... Há um poder sobrenatural na unidade:
1
«Cântico dos degraus, de Davi» Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos
vivam em união. 2 É como o óleo precioso
sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla
das suas vestes. 3 Como o orvalho de
Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o SENHOR ordena
a bênção e a vida para sempre. (Salmo 133:1-3)
Esse poder apara as arestas, cuida dos defeitos, sara os
feridos, liberta os oprimidos, ensina a paciência e o amor que queremos receber
e torna sobrenaturalmente possível conviver com diferenças que só possuem de
perfeito o desejo de serem transformados e se renderem ao Espírito do Amor e à
Palavra de Deus.
À procura uma igreja perfeita
A igreja virtual parece perfeita exatamente porque não é
real. Não tem problemas. E nem tem um amor tangível e funcional. Um amor que
pode socorrer precisa ser palpável. Não apenas virtual, apesar de também poder
ser virtual.
Algumas pessoas têm fugido de relacionamentos após serem
frustradas. A bíblia fala disso, diz que “[...] por
se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.” (Mateus 24:12),
mas também diz que “mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.” (Mateus
24:13).
O amor colocou os alicerces da igreja quando Deus entregou Jesus por todos nós
e nós vivíamos alimentando os nossos pecados:
6
Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos
ímpios. 7 Porque apenas alguém morrerá
por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. 8 Mas Deus prova o seu amor para conosco, em
que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. (Romanos 5:6-8)
Isso significa que a igreja foi fundada como
transformadora de nossas imperfeições e não como modelo de perfeição. O modelo
de perfeição é Cristo que nos mostrou o modelo perfeito do Amor e o derramou
nos nossos corações. E o amor que foi derramado pelo Espírito em nossos corações
deve manter a igreja: “e a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus
está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”
(Romanos 5:5).
Usando apenas uma medida de Amor
É triste ver que nós só lembramos que Jesus morreu pelos
imperfeitos quando consideramos o nosso caso. No caso dos outros, queremos
distância das imperfeições. Precisamos tentar trazê-los para perto. É preciso
dar-lhes uma chance:
“13
Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se
chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado; 14 Porque nos tornamos participantes de Cristo,
se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.” (Hebreus
3:13-14).
Jesus não nos deu autorização para simplesmente
desconectar das pessoas. A vida não é uma sessão de MSN. Haverá aqueles que deveremos nos
apartar, mas depois de tentar reconquistá-los:
“Ao homem herege, depois de uma e
outra admoestaçao, evita-o,” (Tito 3:10);
“E rogo-vos, irmãos, que noteis os
que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes;
desviai-vos deles.” (Romanos 16:17);
“Mas, se alguém não obedecer à nossa
palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se
envergonhe.” (2 Tessalonicences 3:14).
Resta o princípio: a medida com que você medir a importância
da presença do seu irmão na sua vida será a medida com que será medida a importância
da sua comunhão com Jesus, que está no seu irmão. Nenhum de nós perde
importância para Jesus. Ninguém pode perder a importância para nós, ainda que
por algum momento não possamos e não devamos caminhar juntos. “Saiba que
aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte
uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.” (Tiago 5:20). Enquanto
alguém não quiser ouvir, não poderemos fazer nada a não ser nos afastar e orar.
Quando o Espírito Santo abrir seu coração para o arrependimento, vamos reerguer
e fortalecer.
Respeito à individualidade ou descompromisso?
A cultura da conexão-desconexão é também a cultura do
descompromisso sob a capa de respeito à individualidade. Se alguém o magoa ou
desagrada, simplesmente é desconectado. Mas esse não é o princípio bíblico. Aquele
que peca contra você ou contra Deus precisa ser corrigido primeiro, se ele não
se consertar é que recebe o afastamento.
15
Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só;
se te ouvir, ganhaste a teu irmão; 16
Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca
de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. 17 E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se
também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. 18 Em verdade vos digo que tudo o que ligardes
na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado
no céu. (Mateus 18:15-18)
O desligamento se dá para que a nossa fraqueza não seja
fortalecida e terminemos por cair todos juntos. Não porque sejamos superiores a
quem está em pecado, pelo contrário. “Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido
nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de
mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.” (Gálatas
6:1).
A hora de ouvir
E o movimento inverso também é verdadeiro: precisamos ser
capazes e atentos para ouvir quando nos repreenderem. O que é uma cultura que
se dissipa nesses dias. Como disse Paulo a Timóteo: “Porque virá tempo em que não
suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si
doutores conforme as suas próprias concupiscências;” (2 Timóteo 4:3).
Ser
repreendido não é coisa fácil. Ainda mais numa cultura competitiva e consumista onde todos
são ensinados que não saber, privar-se de fazer alguma coisa e estar submisso é
errado. O certo é já nascer sabendo para não precisar aprender e sair na frente
dos outros fazendo tudo o que quiser como quiser porque isso é ter sucesso e ser
vencedor. Mas a palavra fala de que crescemos em um processo contínuo até o
amor:
5
por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a
vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; 6 com o conhecimento, o domínio próprio; com o
domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; 7 com a piedade, a fraternidade; com a
fraternidade, o amor. 8 Porque estas
coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem
inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. (2
Pedro 1:5-8).
Pode perceber que há bastante trabalho aí para ser
executado. Porém se não suportarmos os espinhos, nunca nos aproximaremos das rosas.
Para tudo isso: para nos abraçarmos, ajudarmos,
alertarmos, sermos alertados, sermos fortalecidos, provarmos o amor de Deus,
crescermos e muito mais do que podemos
imaginar é que o Senhor nos colocou em uma equipe chamada igreja. Deu líderes
(Efésios 4:11) porque precisamos de liderança, deu dons porque precisamos de
cada parte e deu serviços porque precisamos de corações que movam braços e
pernas para chegarmos ao nosso destino em Cristo e esse destino é real.
A igreja é invenção de Cristo
e foi comprada por um preço alto para que nós nos fizéssemos um e não apenas uma
reunião de muitos. Agradeço a lição a todos os que fizeram parte do faxinão de
ontem 31 de março de 2012. Dia que está gravado nos céus e que foi a semente de
muitas bênção na vida daqueles que servem a Deus.
Muito legal a união e cooperação de todos!!!
ResponderExcluirBelo texto!
Que Jesus ilumine todos os corações!!!
Abraços;
Soraya.