domingo, 1 de abril de 2012

Abrace-se quem puder!



Ontem, tivemos um faxinão na igreja. Uma oportunidade maravilhosa de por as mãos na obra juntos. Não pude cooperar fisicamente porque ainda estava fraca por causa da luta da enfermidade, mas estive lá no final da reunião para ver os rostinhos mais cansados e felizes que já vi e o resultado mais lindo do que o amor pode concretizar. Após o término, tivemos essa foto acima e você pode ver a alegria nas expressões e no ânimo de quem após passar o dia no pincel, na enxada e na força, queria cantar e compartilhar.

Tudo foi fotografado e ficou registrado no face da Missão Filadélfia. Era quase meia noite quando as fotos foram postadas e os comentários choviam por todos os lados, quando os braços cansados não queriam deixar os abraços vividos para irem dormir.

Então, acordei hoje, pensando sobre o virtual e o real vivido.





Lembrei-me de pessoas que falam sobre a possibilidade de viver a igreja apenas virtualmente. Interessante porque há pregadores não pouco importantes que consideram essa idéia definitiva. Pessoas participantes de igrejas apenas pela internet ou pela TV. Não estou falando em pessoas em países onde o evangelho é proibido ou pessoas impossibilitadas por doenças ou em hospitais, pessoas sem tantas opções de encontro, mas algumas pessoas defendem um corpo de Cristo puramente virtual.

Fico pensando em algumas impossibilidades. Como o que aconteceu ontem. Tenho certeza de que o resultado virtual teria sido completamente diferente do que houve ontem. Cada pessoa que esteve lá deixou a sua marca naquilo que é de Deus e na vida daquele com que participou do trabalho. Trabalhar juntos é construir juntos. Somos proprietários e responsáveis daquilo que construímos. Dar risadas juntos, perceber as limitações e os talentos juntos, apoiar-se, aprender algo novo, comer juntos não tem preço.

Essa é a diferença entre chegar na igreja e ver o portão pintado e saber que seu cabelo estará para sempre registrado como parte da tinta. O corpo de Cristo não pode ser apenas virtual e ser completo porque onde ficaria o “[...] todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.” (Efésios 4:16)?

O amor e o espaço-tempo virtual

O amor não pode ser apenas virtual porque você não pode amar e colocar seu filho para dormir todos os dias pela internet ou pelo telefone ou pela TV.  Não pode amar virtualmente seu esposo ou esposa e vai ter problemas se quiser amar somente assim seus amigos. “Amigo virtual” é um termo estranho, mas “irmão virtual” só é aceitável se você não puder encontrá-lo fisicamente.

Não deixe o tempo e o espaço da sua vida ser consumido afastando você das pessoas. Cultivar apenas a proximidade estritamente virtual é enganosa. Não é só a sua necessidade de amar que será penalizada, mas também a sua necessidade de ser amado. A internet pode ser uma extensão do amor, mas nunca um substituto para ele. Amor precisa de abraço, olhar, copo d’água entregue na mão, presença.

Imagine que você fosse proibido de aproximar-se fisicamente, abraçar ou tocar qualquer pessoa por uma semana. Talvez você precisasse desse exercício só para valorizar a presença de outras pessoas. Se você não sentisse nada, eu diria que há problemas a tratar. Por favor, não estou falando de conhecer pessoas à distância e amá-las, estou falando em fixar-se apenas ou na maior parte do tempo em manter as pessoas à distância. Enquanto estamos no corpo, é para estarmos com as pessoas. Paulo sabia disso:

22  Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que deva escolher. 23  Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. 24  Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne. (Filipenses 1:22-24)

Estive um tempo nos EUA. Foi um tempo extremamente difícil em que Deus só havia me revelado que eu devia ir. Mas não sabia se iria permanecer lá. É uma experiência tremenda não adiantar saber o endereço onde mora porque você não sabe ir para casa, não entender o que as pessoas dizem e elas não se importarem em lhe ajudar ou lhe ouvir, não ter nenhuma referência a não ser que foi enviada para lá, mas não sabe por quanto tempo. O único consolo era falar com meus pais e amigos pela internet ou pelo telefone. Mas não era o suficiente. Viver o virtual como extensão do real é uma coisa, se isso é o que lhe resta e é temporário, mas não assuma isso como definitivo ou sua vida perderá o chão.

Horizontes além da internet

Sabe, há pessoas abençoadas além da internet. Várias pessoas que estiveram lá na igreja dando de si mesmas para o Senhor e para todos nós não estarão no facebook ou nas redes sociais, lerão o seu e-mail com aquela mensagem de amizade depois de uma semana ou nem a lerão porque não sabem mexer naquilo. Ou nem têm e-mail. Todas essas pessoas que passam pelas ruas estão esperando por mãos, braços, pernas, vozes que se aproximem delas e sejam reais no amor. 

Amor que não se concretiza não é real. Amor é aquele ingrediente que faz com que “[...] se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante.” (Eclesiastes 4:10)A nossa estrutura física exige o real como ambiente. Precisamos da concretude. Quando uma pessoa passa muito tempo no fundo do mar, precisa passar por um processo de descompressão para voltar à terra. Quando passa muito tempo no espaço, seus ossos se enfraquecem e seus músculos sofrem a falta de gravidade. Não acredito que seja diferente quando tentamos excluir o concreto da nossa vida e transferir os nossos relacionamentos e participações do mundo real para o virtual.

Onde está Deus?

Se você quer encontrar a Deus, deveria procurar naqueles que são morada do Espírito de Deus. “16  Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Coríntios 3:16). Tentar transformar a igreja em virtualidade estrita não é destruir o conceito de que nossa vida física deve carregar e compartilhar Jesus sobre a terra? “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1 Coríntios 6:19).

Quantas coisas maravilhosas podem acontecer quando a igreja se une... Há um poder sobrenatural na unidade:

1  «Cântico dos degraus, de Davi» Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. 2  É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. 3  Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre. (Salmo 133:1-3)

Esse poder apara as arestas, cuida dos defeitos, sara os feridos, liberta os oprimidos, ensina a paciência e o amor que queremos receber e torna sobrenaturalmente possível conviver com diferenças que só possuem de perfeito o desejo de serem transformados e se renderem ao Espírito do Amor e à Palavra de Deus.

À procura uma igreja perfeita

A igreja virtual parece perfeita exatamente porque não é real. Não tem problemas. E nem tem um amor tangível e funcional. Um amor que pode socorrer precisa ser palpável. Não apenas virtual, apesar de também poder ser virtual.

Algumas pessoas têm fugido de relacionamentos após serem frustradas. A bíblia fala disso, diz que “[...]  por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.” (Mateus 24:12), mas também diz que “mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.” (Mateus 24:13). 

O amor colocou os alicerces da igreja quando Deus entregou Jesus por todos nós e nós vivíamos alimentando os nossos pecados:

6  Porque Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. 7  Porque apenas alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse morrer. 8  Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. (Romanos 5:6-8)

Isso significa que a igreja foi fundada como transformadora de nossas imperfeições e não como modelo de perfeição. O modelo de perfeição é Cristo que nos mostrou o modelo perfeito do Amor e o derramou nos nossos corações. E o amor que foi derramado pelo Espírito em nossos corações deve manter a igreja: “e a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.” (Romanos 5:5).

Usando apenas uma medida de Amor

É triste ver que nós só lembramos que Jesus morreu pelos imperfeitos quando consideramos o nosso caso. No caso dos outros, queremos distância das imperfeições. Precisamos tentar trazê-los para perto. É preciso dar-lhes uma chance:

“13  Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado; 14  Porque nos tornamos participantes de Cristo, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim.” (Hebreus 3:13-14).

Jesus não nos deu autorização para simplesmente desconectar das pessoas. A vida não é uma sessão de MSN. Haverá aqueles que deveremos nos apartar, mas depois de tentar reconquistá-los:

“Ao homem herege, depois de uma e outra admoestaçao, evita-o,” (Tito 3:10);  

“E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles.” (Romanos 16:17);

“Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe.” (2 Tessalonicences 3:14).

Resta o princípio: a medida com que você medir a importância da presença do seu irmão na sua vida será a medida com que será medida a importância da sua comunhão com Jesus, que está no seu irmão. Nenhum de nós perde importância para Jesus. Ninguém pode perder a importância para nós, ainda que por algum momento não possamos e não devamos caminhar juntos. “Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.” (Tiago 5:20). Enquanto alguém não quiser ouvir, não poderemos fazer nada a não ser nos afastar e orar. Quando o Espírito Santo abrir seu coração para o arrependimento, vamos reerguer e fortalecer.

Respeito à individualidade ou descompromisso?

A cultura da conexão-desconexão é também a cultura do descompromisso sob a capa de respeito à individualidade. Se alguém o magoa ou desagrada, simplesmente é desconectado. Mas esse não é o princípio bíblico. Aquele que peca contra você ou contra Deus precisa ser corrigido primeiro, se ele não se consertar é que recebe o afastamento. 

15  Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; 16  Mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. 17  E, se não as escutar, dize-o à igreja; e, se também não escutar a igreja, considera-o como um gentio e publicano. 18  Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra será desligado no céu. (Mateus 18:15-18)

O desligamento se dá para que a nossa fraqueza não seja fortalecida e terminemos por cair todos juntos. Não porque sejamos superiores a quem está em pecado, pelo contrário. “Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado.” (Gálatas 6:1).

A hora de ouvir

E o movimento inverso também é verdadeiro: precisamos ser capazes e atentos para ouvir quando nos repreenderem. O que é uma cultura que se dissipa nesses dias. Como disse Paulo a Timóteo: “Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;” (2 Timóteo 4:3). 

Ser repreendido não é coisa fácil. Ainda mais numa cultura competitiva e consumista onde todos são ensinados que não saber, privar-se de fazer alguma coisa e estar submisso é errado. O certo é já nascer sabendo para não precisar aprender e sair na frente dos outros fazendo tudo o que quiser como quiser porque isso é ter sucesso e ser vencedor. Mas a palavra fala de que crescemos em um processo contínuo até o amor:

5  por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento; 6  com o conhecimento, o domínio próprio; com o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; 7  com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor. 8  Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. (2 Pedro 1:5-8).

Pode perceber que há bastante trabalho aí para ser executado. Porém se não suportarmos os espinhos, nunca nos aproximaremos das rosas.


Para tudo isso: para nos abraçarmos, ajudarmos, alertarmos, sermos alertados, sermos fortalecidos, provarmos o amor de Deus, crescermos  e muito mais do que podemos imaginar é que o Senhor nos colocou em uma equipe chamada igreja. Deu líderes (Efésios 4:11) porque precisamos de liderança, deu dons porque precisamos de cada parte e deu serviços porque precisamos de corações que movam braços e pernas para chegarmos ao nosso destino em Cristo e esse destino é real. 

A igreja é invenção de Cristo e foi comprada por um preço alto para que nós nos fizéssemos um e não apenas uma reunião de muitos. Agradeço a lição a todos os que fizeram parte do faxinão de ontem 31 de março de 2012. Dia que está gravado nos céus e que foi a semente de muitas bênção na vida daqueles que servem a Deus.




Um comentário:

  1. Muito legal a união e cooperação de todos!!!
    Belo texto!

    Que Jesus ilumine todos os corações!!!

    Abraços;

    Soraya.

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