Nossa cultura ocidental
geralmente separa o corpo da alma atribuindo funções menos nobres ao corpo. Os
trabalhos braçais foram desvalorizados para justificar a escravidão ou a
escravidão justificou a divisão desigual do trabalho... Seja lá como for,
sofremos com essa separação e desvalorização não só no nível social, mas no
nível individual. Eu sofri terrivelmente por não conseguir manter esse
equilíbrio e ainda sofro. Finalmente, chegou o momento de compartilhar o que
aprendi no processo de retomar meu corpo.
Você conhece esses versículos: “19
(A)Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo,
(B)que está em vós, (C)o qual tendes da parte de Deus, e que (D)não
sois de vós mesmos? 20 (E)Porque
fostes comprados por preço. Agora, pois, (F)glorificai a Deus no vosso
corpo.” (1 Coríntios 6:19-20)?
Eles mostram que:
·
(A) A verdadeira identidade do corpo é ser
templo do Espírito Santo;
·
(B) A presença mais importante nele é o Espírito
Santo;
·
(C) Quem enviou o Espírito Santo foi Deus;
·
(D,E) Foi pago um preço para que o nosso corpo
fosse transformado em templo (o sangue de Jesus foi derramado na cruz) e ele é
posse de um novo dono;
·
(F) Há um imperativo de Deus ser glorificado no
nosso corpo e quem deve glorificar a Deus no nosso corpo somos nós.
A noção de templo
Há um tempo atrás, eu ficaria
assustada por pensar meu corpo como um templo, porque eu entendia um templo
como um lugar de silêncio, condenação e medo. Um lugar onde eu entendia que
Deus estava longe de mim e eu não tinha condição de alcançá-lo. Depois que eu
conheci a Palavra e encontrei Jesus como meu Salvador, eu construí outra noção
de templo, mas demoraram-se muitos anos até que eu pudesse atribuir essa nova
noção de templo ao meu corpo. Infelizmente, demorei tanto, que algumas partes
dele já haviam se tornado irrecuperáveis. Outras, a recuperação foi dolorosa e
difícil e até hoje é um desafio meu de todos os dias.
Templo é o lugar de adoração.
Adorar é dizer ao Pai do céu que o ama. Você o ama apesar de ser imperfeito. E na
adoração se comemora a recepção do seu amor por Ele e do Amor dEle, que é
perfeito. Você vai precisar de seu cérebro, suas emoções e sua vontade (alma) e
também de seu cérebro, boca, braços, pernas e tudo o mais para fazer isso. A mulher
de Samaria (João 4) aprendeu sobre adoração e saiu correndo para falar às
pessoas sobre o amor de Deus em Jesus. O corpo é a parte da nossa existência
que nos faz entrar em contato com esse mundo onde vivemos. E esse mundo precisa
de contato e ação do amor de Deus mais do que tudo.
E quanto ao sexo?
Interessante nós criarmos um problema com relação ao sexo
associando-o ao pecado. Deus instituiu o sexo antes do pecado: “27 Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. 28 E Deus os abençoou e lhes disse: Sede
fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; [...]. ” (Gênesis
1:27-28). Quanto ao prazer, a Bíblia diz: “18
Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade, 19 corça de amores e gazela graciosa. Saciem-te
os seus seios em todo o tempo; e embriaga-te sempre com as suas carícias.”
(Provérbios 5:18-19). Tudo isso cabe no templo-corpo? Sim, desde que
seja dentro dos parâmetros de Deus, estabelecidos na sua Palavra. No templo
cabe prazer, mas não cabe fornicação e nem adultério. Foi Jesus quem disse (Mateus
19:9; ver também 1 Coríntios 5:1; Judas 1:7; Apocalipse 21:8).
Eu aceito por fé que o ensino de Jesus está na Palavra de
Deus e aprendi que não adianta querer ser abençoado escolhendo só a parte mais
fácil de cumprir e o restante deixar de lado. Ou a Palavra é verdade ou é mentira.
Meias verdades não vão nos salvar e nem resolver a nossa vida.
Cuidando do templo
Hoje, na minha luta colossal para me arrastar da cama até
a pracinha para dar três voltinhas, encontrei minha amiga Djane Almeida terminando
sua caminhada de uma hora num ritmo invejável. Com seu sorriso “marca
registrada” disse: vou lhe acompanhar. Enquanto caminhávamos (estava mais para
sonambulismo do que para caminhada) uma pessoa a cumprimentou dizendo: “Aí,
mulher de ferro!”.
Ela caminha todos os dias. Os freqüentadores da pracinha
já a reconhecem. Até na chuva já a vi manter a disciplina. Mas, ela só consegue
manter sua disposição para todos os desafios do dia por causa desse exercício
diário. Ela me confessou que há dias que começa como eu, sonâmbula também. Agora,
eu estou convencida que conquistar essa dimensão é imprescindível. Mas já houve
tempo em que não era assim. E me prejudiquei muito com isso.
O preço do descuido
Houve um tempo em que eu só prestava atenção ao que era
da alma. Da mente principalmente, da vontade e das emoções. Sempre trabalhei
muito. Houve um período em que ministrava 40 a 60 horas por semana na igreja. Além
dos outros afazeres. Não prestava atenção no que comia e nem fazia exercícios.
Resultado: 1,65 m e 109 quilos. Obesidade Mórbida.
Primeiro, perdi a tireóide, em 2005. Os hormônios podem
ser repostos artificialmente, graças a Deus. Mas não é fácil passar por uma
cirurgia. Só que a obesidade pode se tornar num ciclo vicioso. Quanto mais se
come, mais o estômago se alarga, quanto mais se alarga, mais fome se tem,
quanto mais fome se tem, mais você come e mais alarga o estômago... Em dois anos
aumentei 20 quilos. Além do fato de que quanto mais gordo você estiver, menos o
seu corpo permite você baixar o peso.
O que aconteceu? Primeiro, e mais doloroso, a coluna não agüentava
mais o excesso de peso. Os remédios para as crises de coluna geraram uma
gastrite medicamentosa. Depois e continuamente, mais silenciosamente, os
hormônios se alteraram pelo excesso de gordura. Não conseguia mais trabalhar
por causa das constantes crises de coluna e os resultados dos problemas
hormonais que atingiram o que podiam.
Então, li em algum lugar que cada cinco quilos de excesso
de peso significavam a perda de um ano de expectativa de vida. Eu estava
engordando dez quilos por anos aos 44 anos. Minha vida estava encurtando dois
anos por ano. Em algum momento os marcos iriam se encontrar. Sem falar de que
eu não conseguia viver. Cheguei a ficar dois meses praticamente imobilizada por
causa da coluna. Precisava encontrar uma saída, por mais drástica que fosse.
Então, pedi perdão e socorro ao Senhor. Você pode saber sobre muitas coisas e
estar cego para alguma área na sua vida. Era o meu caso. Sempre aconselhei a
muitos, mas nunca dei ouvidos sobre o excesso de peso e seus riscos.
Encontrando uma saída estreita
A bíblia fala sobre gula, apesar de que é um ataque ao
templo que não recebe muita atenção: “1 Quando te
assentares a comer com um governador, atenta bem para o que é posto diante de
ti, 2 E se és homem de grande apetite,
põe uma faca à tua garganta. 3 Não
cobices as suas iguarias porque são comidas enganosas.” (Provérbios 23:1-3).
Ela é uma das obras da carne, daquelas
que matam (Gálatas 5:19-21).
A gula pode ser uma armadilha, e, para mim, era fatal.
Então, coloquei a faca na garganta. O que significa é que coloquei um limite,
ainda que físico, ao apetite, que estava me matando. Eu me submeti à cirurgia
de redução de estômago para salvar o que restava de vida no meu corpo. Minha
vida e não somente meu corpo estava sendo consumida pelo resultado dos meus
excessos. Foi o começo da nova batalha que demorou dois anos para estabilizar e
ainda é uma luta todos os dias.
Colocar limites exige esforço e investimento
A bíblia diz:
29
Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o
para longe de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que seja
todo o teu corpo lançado no inferno. 30
E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de
ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que seja todo o teu
corpo lançado no inferno. (Mateus 5:29-30).
Por favor, não estou aqui impondo ou propondo a doutrina
da cirurgia, seja ela qual for. Há pessoas que conseguem emagrecer os mesmos 40
quilos apenas com disciplina. O que estou alertando é que se você não cuidar de
seu corpo, ninguém poderá fazê-lo por você e você sofrerá as conseqüências.
Eu, no entanto, já estava esgotada e sem forças. Deus,
através da sua misericórdia enviou os médicos para me ajudarem. Não é o caminho
mais fácil, acreditem. Para a primeira cirurgia, além de um corte de 20 cm que
vai do externo até o umbigo e todo o tipo de riscos na própria cirurgia; o
pós-operatório caríssimo e sofrido com enfermeiras e alimentação especial em 32
copinhos de 50 gramas de meia em meia hora todos os dias durante um mês; meias
de alta compressão de início; medicação que custava 400 reais de farmácia por
mês durante quase um ano; 15 dias só de líquidos sem o menor sabor e mais 15 de
pastosos no primeiro mês; noites sem dormir com dor;... E dificuldades com
determinados alimentos até hoje. Não é um passeio à Disney, acredite. Espero
que você nunca precise disso.
Ainda pode acrescentar uma vesícula que não suportou a
perda de peso e a dor de suas cólicas que me faziam rolar na cama, para
desespero de meus amigos. Além de um procedimento para corrigir a estenose da
abertura entre o esôfago e o estômago, mais duas cirurgias de emergência, entre
outras coisas... Só para não entrar em muitos detalhes.
Fiz a cirurgia bariátrica em 6 de fevereiro de 2010 e a
última cirurgia na emergência em 28 de dezembro do mesmo ano, dando entrada com
duas bolsas de sangue para uma possível transfusão. Glória a Deus pelos
doadores. Glória a Deus pelos médicos e Glória a Deus pela sua misericórdia.
Meu corpo, minha responsabilidade
Hoje, me peso todos os dias e há dias em que ainda
engordo um quilo de um dia para o outro, como também perco. Mas, a
responsabilidade de todo o mal que veio sobre a minha vida foi minha. Não
cuidei do templo e deixei entrar a destruição: “Se alguém destruir o templo de
Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.”. (1
Coríntios 3:17). Deus julga e Ele é justo. Não é porque o corpo é o nosso
que temos direito de destruí-lo ou cuidar mal. O nosso corpo também é nossa
responsabilidade, tanto quanto a nossa alma. Espero que você aprenda isso sem
precisar passar pelo que passei.
Saiba, porém, que há pessoas que não tiveram tempo de decidir
cuidar de seu corpo. Foram levadas por um pulmão, um coração ou um fígado sufocados
pela gordura antes de terem a chance de entender que respeitar seu corpo é
respeitar a si mesmo e antes de mais nada respeitar a Deus no seu corpo.
Nós gostamos de dizer que nossa vida é de Deus. Mas, se é
de Deus porque não estamos fazendo as coisas da forma que o agrada? E se não
agradamos a Ele, qual será o fim disso? E, quem terá prazer ou vitória nisso? Nós
estamos sendo assistidos em todos os lugares, nada em nossa vida passa
despercebido: “Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de
testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia,
e corramos com paciência a carreira que nos está proposta,” (Hebreus 12:1).
Quando comer é mais do que comer
Muitas pessoas tomam ao pé da letra aquele versículo que
diz: “O
que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é
o que contamina o homem. ” (Mateus 15:11). Mas, não o tire de contexto
para liberar-se para a glutonaria. Jesus estava explicando que determinadas
práticas rituais como lavar as mãos antes de comer não iriam tornar o homem
mais próximo ou distante de Deus e que o pecado vinha da intenção do coração.
Então, no mesmo princípio, se comer vem da intenção de
ter prazer com a comida a despeito da própria vida, ele tem o mesmo teor de um
vício. Um viciado não se importa com a conseqüência daquilo que cheira, fuma ou
se injeta, desde que ele sinta o prazer momentâneo daquilo em que é viciado. Eu
tenho que reconhecer que já fui viciada em comida porque era assim que eu me
comportava. Hoje, Jesus me libertou.
Na realidade, eu precisei de muita ajuda para curar a
minha relação com a comida. Precisei da ajuda de uma terapeuta, de amigos
cristãos, dos médicos e principalmente do Senhor Jesus. Muitas pessoas fazem a
cirurgia e voltam a engordar. Como eu disse, tenho muita facilidade para isso.
Mas, como a minha relação com a comida mudou, posso equilibrar o que entra no
meu corpo tanto para me fazer bem quanto para me dar prazer.
A ingestão de alimentos não pode ser o seu maior prazer,
nem sua válvula de escape, nem motivo para arriscar sua própria vida. Esse é o
lugar de Jesus. Quando colocamos algo no lugar de Jesus geramos um pecado que
vai contra o primeiro mandamento “Amar a Deus acima de todas as coisas”. O nome
desse pecado é idolatria. Isso é doentio e tem graves conseqüências destrutivas
para você e atingirá todas as áreas da sua vida. Se você não ama a Deus como
deve, não amará as pessoas também da mesma forma porque o segundo mandamento é decorrência
do primeiro.
Conquiste seu corpo para ser/estar vivo como Jesus pagou
por ele: “e,
se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós,
aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos
corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.” (Romanos 8:11). Ofereça-o
a Deus como instrumento daquilo que agrada a Deus: “nem tampouco apresenteis os vossos
membros ao pecado por instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus,
como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de
justiça.” (Romanos 6:13). E viva bem, com saúde e em Paz.
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