segunda-feira, 9 de abril de 2012

Amizade: distanciamentos e proximidade



A vida é um fluxo contínuo. Isso é um fato. Não podemos impedir as pessoas de irem e virem, aproximarem-se e afastarem-se tanto quanto gostaríamos. Deixar aproximar-se e permitir afastamentos, tanto quanto procurar impedi-los, depende tanto de atenção quanto de esforço.
Permitir às pessoas irem e virem requer perceber quando é tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar. 

Há um texto em Eclesiastes que diz: “tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar;” (Eclesiastes 3:5). Você pode não compreender o que quer dizer tempo de espalhar pedras, mas diz respeito ao costume de espalharem-se pedras nos campos quando estava prestes a acontecer uma invasão de inimigos, para impedir que o campo fosse usado por eles ou se tornasse desejável. À primeira vista pareceria inútil desejar aquela terra e poderia desestimular os invasores. As pedras eram ajuntadas quando havia novamente segurança e paz. Elas eram utilizadas para construir casas e muros para fazer a terra habitada.

Então, esse texto serve especialmente para iniciar a postagem de hoje.


Os vários níveis de aproximação

 Você já notou como os adolescentes têm necessidade classificar os níveis de relacionamento? Observem as postagens nas redes sociais e as conversas, muitos quadrinhos onde as pessoas são marcadas como “sorridente”, “bagunceiro”, “sem noção”, etc. A adolescência é o momento em que procuramos nos conhecer e muitas vezes queremos ser identificados pelos olhos dos outros. Mas não perdemos essa característica da socialização pelo resto da vida, apenas a deixamos mais discreta e menos permeável. É interessante perceber essas fronteiras internas que criamos nos relacionamentos. Percebê-las nos ajudará a lidar com as nossas fronteiras e com as dos outros.

O nível de maior proximidade: os “amigos mais chegados que os irmãos”

 Seria impossível nos relacionarmos com mil pessoas da mesma forma. Não é uma questão de justiça, é uma questão de física e biologia. Se você experimentar ser uma pessoa pública você experimentará isso. A questão é que quanto mais próximo, maior o nível de influência sobre a sua vida, por isso que você escolherá alguns amigos íntimos, outros tantos amigos ou aliados, alguns conhecidos, distinguirá entre conhecidos e desconhecidos e haverá os inevitáveis inimigos. Essas são as pessoas que são “[...] mais chegado do que um irmão.” (Provérbios 18:24). É na hora da adversidade que essas pessoas se mostram: “Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão.” (Provérbios 17:17). Nenhuma prova maior de que o título de irmão honorário é devido a alguém do que a prova da adversidade.

As pessoas transitam entre essas posições dependendo das experiências que você tiver. Em que me baseio? Observe a Bíblia e a vida de Jesus... Jesus orava sozinho (Marcos 6:46). Ele mantinha a sua comunhão individual com Deus. Mas, escolheu apenas três dos seus discípulos para terem uma comunhão individual com ele e uma experiência que deixou Pedro atordoado quando foi transfigurado (Marcos 9:2).

Imagine isso do ponto de vista dos outros nove discípulos. Jesus foi injusto com eles ao lhes dar aquele privilégio? Nem cogito a possibilidade de Jesus ser injusto. Mas nós conhecemos as dificuldades das pessoas em não serem escolhidas.

Se isso é uma dificuldade para você, entenda que “[...] o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.” (2 Coríntios 3:17). Amigos são tesouros, mas não são propriedades. Se confiarmos no amor de nossos amigos, daremos a eles a liberdade de terem proximidade exclusiva também com outros amigos. O que é diferente de uma exclusão constante de você. O sentimento de posse torna-se uma alfândega relacional que pode nos custar a fuga daqueles que se sentirem aprisionados numa relação sufocante e possessiva. O medo de perder do ciúme só constrói a perda que ele teme. A inveja de outro que tenha uma proximidade que você não tem, não aproxima, afasta.

Os critérios  para os amigos “mais chegados que irmãos”


Além de estar presente no momento de adversidade, que os discípulos enfrentaram várias vezes com Jesus. Por exemplo, eles sabiam que era perigoso em Jerusalém, mas voltaram para lá arriscando-se com Jesus:

8  Disseram-lhe os discípulos: Mestre, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e voltas para lá? [...] 16 Então, Tomé, chamado Dídimo, disse aos condiscípulos: Vamos também nós para morrermos com ele. (João 11: 8, 16)

Estar com Jesus era sempre um risco e por várias vezes eles foram salvos de problemas. Mas, havia algo que Jesus precisava para ter aquele momento especial de compartilhamento e isso era a confiança na discrição daqueles discípulos. Pois Jesus precisava que eles guardassem segredo daquele plano de Deus até o momento certo. “E, descendo eles do monte, ordenou-lhes Jesus: A ninguém conteis a visão, até que o Filho do Homem ressuscite dentre os mortos.” (Mateus 17:9).

Um critério importante para dar o privilégio da intimidade é a confiabilidade, a fidelidade dos candidatos. E uma pessoa não pode ser fiel a você se não é fiel a Deus. Porque tudo o que é bom vem do Pai e ninguém pode dar o que não possui. Portanto, é preciso observar a fidelidade e a presença Deus em alguém para dar-lhe privilégios de sua intimidade. Isso só pode conquistado com os pequenos e grandes testes que acontecem na convivência com os amigos ou aliados. Mas, além da fidelidade é preciso considerar também a afinidade e o suporte que ele está disposto a lhe dar. A disponibilidade e o respeito são fundamentais.

Essas pessoas eram tão queridas e confiáveis que Jesus confiou a João (o mesmo que reclinou a cabeça sobre o peito de Jesus (João 13:21; 21:20), os cuidados com sua mãe natural, Maria (João 19:27). Pois sendo ela mulher e sem Jesus, o primogênito, e sem o esposo, ela passaria necessidades graves sem haver quem a sustentasse. Os outros irmãos não tinham a obrigação direta de fazê-lo. Era comum fazer-se isso quando havia aliança, no caso da morte de um o outro tomaria conta de sua família.

Amigos

 São as pessoas a que você pode confiar em compartilhar tarefas. Essas pessoas possuem os mesmos interesses e valores, lutam pelas mesmas causas e estão dispostos a enfrentar com você os mesmos desafios. Na realidade isso é definido também pela forma com que você está disposto em receber as pessoas na sua vida. Naquilo que você está disposto a ser para elas.

Você pode não ter muita intimidade ainda, mas há uma possibilidade de que a fidelidade e a afinidade levem a isso. Os laços afetivos e a companhia são fortes com essas pessoas. Jesus escolheu doze pessoas para estarem sempre próximos. Entre esses doze estavam aqueles que tinham mais intimidade de que já falamos antes. Eles estavam entre a numerosa multidão de discípulos que rodeavam Jesus. Mas Jesus decidiu tê-los mais perto ainda: “E, quando amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos:” (Lucas 6:13)
  
O ministério de Jesus teve duração de três anos. Penso que nossa vida vai ser maior que isso. Não entendo os números aqui citados como limitações, apenas como indicações. São características que Deus estabeleceu nos círculos de relacionamento. Mas, com a experiência de ensino, por exemplo, sei que grupos de entre 15 a 20 pessoas possuem um rendimento bem maior no ensino do que maiores que isso e quanto maior a classe, maior a dispersão do conteúdo. Jesus tinha por objetivo deixar pessoas bastante treinadas para manter a estrutura da igreja quando Ele fosse para o céu. Usou um pequeno grupo para fortalecer os demais.

O critério para a amizade

Mas amizade e liderança são duas coisas diferentes apesar de serem parecidas e todas duas causarem influências. O que quero frisar aqui é que você vai precisar de pessoas com o mesmo objetivo, intenção e fidelidade a Deus e a você, se quiser chamar alguém de amigo. Mas, lembre-se, amigos não são perfeitos. Os de Jesus o deixaram nas mãos dos romanos e fugiram. Judas o traiu, mas Jesus continuou chamando-o de amigo:

48  Ora, o traidor lhes tinha dado este sinal: Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-o. 49  E logo, aproximando-se de Jesus, lhe disse: Salve, Mestre! E o beijou. 50  Jesus, porém, lhe disse: Amigo, para que vieste? Nisto, aproximando-se eles, deitaram as mãos em Jesus e o prenderam. (Mateus 26:48-50)

Então, ao trair Jesus, perdeu a oportunidade de ser chamado de amigo: “Jesus, porém, lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do Homem?” (Lucas 22:48). Os que tinham prometido fidelidade até a morte a Jesus o negaram. Amizade se baseia em confiança, mas não pode incluir a dependência. Amar a Deus acima de todas as coisas tem a ver com o céu, é eterno; amar ao próximo como a si mesmo é da terra, depende da força que vem do primeiro porque vem do Amor de Deus.

Amar o seu amigo precisa incluir tolerância e perdão porque é isso que você espera e precisa dele de volta. Jesus continuou com a mesma disposição para Judas porque o mal que estava em Judas não poderia mudar quem Jesus era em Deus. Não deixe ninguém fechar o seu coração para o próximo, não deixe nada definir você a não ser o amor de Deus. Um amigo não depende da proximidade física, mas da espiritual.
  

Os conhecidos, desconhecidos e os inimigos

Jesus tinha mais 70 pessoas que trabalhavam com Ele para Deus. Eram pessoas a quem Ele podia delegar tarefas e que o acompanhavam. Esses 70 foram enviados a pregar a quem nunca tinha ouvido falar de Jesus (os desconhecidos). Quando as pessoas ouviam de Jesus queriam aproximar-se (tornarem-se conhecidos) ou se voltavam contra ele e queriam destrui-Lo (tornavam-se inimigos).

Essa é a parte da membrana que tem que ser permeável entre os desconhecidos e conhecidos e a parte que precisa se enrijecer onde for necessário para suportar os inimigos. Não existe a possibilidade de vivermos sem oposição, “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos.” (2 Timóteo 3:12). E é nesse sentido que Jesus diz: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.” (Mateus 10:34).

Pense bem, se você trabalha de forma honesta, incomoda os que são desonestos; se você decide orar e ler mais a bíblia, incomoda os que não o fazem; se você decide deixar de fazer ou dizer determinadas coisas porque entendeu que desagradam a Deus incomodará a todos os que as fazem e dizem. Todos se sentiram reprovados e provocados ainda que você não diga nenhuma palavra. Isso incomoda no nível das relações e no nível espiritual. A questão é que a nossa luta não é contra pessoas de carne e sangue e sim contra os poderes espirituais do mal (Efésios 6:12).



Nos processos de aproximação dos desconhecidos podemos aumentar os nossos amigos ou incitar novos inimigos, mas o essencial é que não é o resultado dessa aproximação quem nos define. Quem nos define é o Senhor pelo seu Amor e pela Sua Palavra. E sendo fiéis a Ele, aqueles que são fiéis a Ele se aproximarão de nós e nos verão como somos no Senhor, se nós estivermos olhando pelos mesmos olhos de Deus, buscando ver o Senhor nos outros e nos aproximarmos de quem quer o que é bom, perfeito e agradável a Deus (Romanos 12:1-2). Assim se resumiam as avaliações de Jesus dos resultados das suas próprias tentativas de levar a vida de Deus aos homens:

20  Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. 21  Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus. 22 Depois disto, foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia; ali permaneceu com eles e batizava. (João 3:20-22)

Então, fique bem com quem faz o bem e não apenas com quem fala sobre isso e faz o inverso. Pessoas conhecidas orbitam à sua volta, mas não permita que elas influenciem sua vida, conduta e ações a menos que elas mostrem fidelidade suficiente a Deus e com isso a você, para que você possa ter nelas a proximidade de Cristo. Busque quem busca a luz e você será iluminado. “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes.” (1 Coríntios 15:33).  Uma coisa é certa, amizade nada tem a ver com o que você parece por fora, mas o que você quer lá dentro de você e com o que você faz por quem você chama de amigo. Você quer colher amigos? Plante amizade verdadeira.

  



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