A vida é um fluxo contínuo. Isso é um fato. Não podemos
impedir as pessoas de irem e virem, aproximarem-se e afastarem-se tanto quanto gostaríamos.
Deixar aproximar-se e permitir afastamentos, tanto quanto procurar impedi-los,
depende tanto de atenção quanto de esforço.
Permitir às pessoas irem e virem requer perceber quando é
tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar.
Há um texto em Eclesiastes
que diz: “tempo
de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de
afastar-se de abraçar;” (Eclesiastes 3:5). Você pode não compreender o
que quer dizer tempo de espalhar pedras, mas diz respeito ao costume de
espalharem-se pedras nos campos quando estava prestes a acontecer uma invasão
de inimigos, para impedir que o campo fosse usado por eles ou se tornasse
desejável. À primeira vista pareceria inútil desejar aquela terra e poderia
desestimular os invasores. As pedras eram ajuntadas quando havia novamente
segurança e paz. Elas eram utilizadas para construir casas e muros para fazer a
terra habitada.
Então, esse texto serve especialmente para iniciar a
postagem de hoje.
Os vários níveis de aproximação
O nível de maior proximidade: os “amigos mais chegados que os irmãos”
As pessoas transitam entre essas posições dependendo das
experiências que você tiver. Em que me baseio? Observe a Bíblia e a vida de
Jesus... Jesus orava sozinho (Marcos 6:46). Ele mantinha a sua comunhão
individual com Deus. Mas, escolheu apenas três dos seus discípulos para terem
uma comunhão individual com ele e uma experiência que deixou Pedro atordoado
quando foi transfigurado (Marcos 9:2).
Imagine isso do ponto de vista dos outros nove
discípulos. Jesus foi injusto com eles ao lhes dar aquele privilégio? Nem
cogito a possibilidade de Jesus ser injusto. Mas nós conhecemos as dificuldades
das pessoas em não serem escolhidas.
Se isso é uma dificuldade para você, entenda que “[...] o Senhor
é o Espírito; e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade.” (2 Coríntios
3:17). Amigos são tesouros, mas não são propriedades. Se confiarmos no
amor de nossos amigos, daremos a eles a liberdade de terem proximidade
exclusiva também com outros amigos. O que é diferente de uma exclusão constante
de você. O sentimento de posse torna-se uma alfândega relacional que pode nos
custar a fuga daqueles que se sentirem aprisionados numa relação sufocante e
possessiva. O medo de perder do ciúme só constrói a perda que ele teme. A inveja
de outro que tenha uma proximidade que você não tem, não aproxima, afasta.
Os critérios para os amigos “mais chegados que irmãos”
Além de estar presente no momento de adversidade, que os
discípulos enfrentaram várias vezes com Jesus. Por exemplo, eles sabiam que era
perigoso em Jerusalém, mas voltaram para lá arriscando-se com Jesus:
8
Disseram-lhe os discípulos: Mestre, ainda agora os judeus procuravam
apedrejar-te, e voltas para lá? [...] 16 Então, Tomé, chamado Dídimo, disse aos
condiscípulos: Vamos também nós para morrermos com ele. (João 11: 8, 16)
Estar com Jesus era sempre um risco e por várias vezes
eles foram salvos de problemas. Mas, havia algo que Jesus precisava para ter
aquele momento especial de compartilhamento e isso era a confiança na discrição
daqueles discípulos. Pois Jesus precisava que eles guardassem segredo daquele
plano de Deus até o momento certo. “E, descendo eles do monte, ordenou-lhes Jesus: A
ninguém conteis a visão, até que o Filho do Homem ressuscite dentre os mortos.”
(Mateus 17:9).
Um critério importante para dar o privilégio da
intimidade é a confiabilidade, a fidelidade dos candidatos. E uma pessoa não
pode ser fiel a você se não é fiel a Deus. Porque tudo o que é bom vem do Pai e
ninguém pode dar o que não possui. Portanto, é preciso observar a fidelidade e
a presença Deus em alguém para dar-lhe privilégios de sua intimidade. Isso só
pode conquistado com os pequenos e grandes testes que acontecem na convivência com
os amigos ou aliados. Mas, além da fidelidade é preciso considerar também a
afinidade e o suporte que ele está disposto a lhe dar. A disponibilidade e o
respeito são fundamentais.
Essas pessoas eram tão queridas e confiáveis que Jesus confiou a João (o mesmo que reclinou a cabeça sobre o peito de Jesus (João 13:21; 21:20), os cuidados com sua mãe natural, Maria (João 19:27). Pois sendo ela mulher e sem Jesus, o primogênito, e sem o esposo, ela passaria necessidades graves sem haver quem a sustentasse. Os outros irmãos não tinham a obrigação direta de fazê-lo. Era comum fazer-se isso quando havia aliança, no caso da morte de um o outro tomaria conta de sua família.
Amigos
Você pode não ter muita intimidade ainda, mas há uma
possibilidade de que a fidelidade e a afinidade levem a isso. Os laços afetivos
e a companhia são fortes com essas pessoas. Jesus escolheu doze pessoas para
estarem sempre próximos. Entre esses doze estavam aqueles que tinham mais
intimidade de que já falamos antes. Eles estavam entre a numerosa multidão de
discípulos que rodeavam Jesus. Mas Jesus decidiu tê-los mais perto ainda: “E, quando
amanheceu, chamou a si os seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos
quais deu também o nome de apóstolos:” (Lucas 6:13)
O ministério de Jesus teve duração de três anos. Penso
que nossa vida vai ser maior que isso. Não entendo os números aqui citados como
limitações, apenas como indicações. São características que Deus estabeleceu
nos círculos de relacionamento. Mas, com a experiência de ensino, por exemplo,
sei que grupos de entre 15 a 20 pessoas possuem um rendimento bem maior no
ensino do que maiores que isso e quanto maior a classe, maior a dispersão do
conteúdo. Jesus tinha por objetivo deixar pessoas bastante treinadas para
manter a estrutura da igreja quando Ele fosse para o céu. Usou um pequeno grupo
para fortalecer os demais.
O critério para a amizade
Mas amizade e liderança são duas coisas diferentes apesar
de serem parecidas e todas duas causarem influências. O que quero frisar aqui é
que você vai precisar de pessoas com o mesmo objetivo, intenção e fidelidade a Deus
e a você, se quiser chamar alguém de amigo. Mas, lembre-se, amigos não são
perfeitos. Os de Jesus o deixaram nas mãos dos romanos e fugiram. Judas o traiu,
mas Jesus continuou chamando-o de amigo:
48 Ora, o traidor lhes tinha dado este sinal: Aquele
a quem eu beijar, é esse; prendei-o. 49
E logo, aproximando-se de Jesus, lhe disse: Salve, Mestre! E o beijou. 50 Jesus, porém, lhe disse: Amigo, para que
vieste? Nisto, aproximando-se eles, deitaram as mãos em Jesus e o prenderam.
(Mateus 26:48-50)
Então, ao trair Jesus, perdeu a oportunidade de ser
chamado de amigo: “Jesus, porém, lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do Homem?”
(Lucas 22:48). Os que tinham prometido fidelidade até a morte a Jesus o
negaram. Amizade se baseia em confiança, mas não pode incluir a dependência.
Amar a Deus acima de todas as coisas tem a ver com o céu, é eterno; amar ao
próximo como a si mesmo é da terra, depende da força que vem do primeiro porque
vem do Amor de Deus.
Amar o seu amigo precisa incluir tolerância e perdão
porque é isso que você espera e precisa dele de volta. Jesus continuou com a
mesma disposição para Judas porque o mal que estava em Judas não poderia mudar
quem Jesus era em Deus. Não deixe ninguém fechar o seu coração para o próximo,
não deixe nada definir você a não ser o amor de Deus. Um amigo não depende da proximidade física, mas da espiritual.
Os conhecidos, desconhecidos e os inimigos
Jesus tinha mais 70 pessoas que trabalhavam com Ele para
Deus. Eram pessoas a quem Ele podia delegar tarefas e que o acompanhavam. Esses
70 foram enviados a pregar a quem nunca tinha ouvido falar de Jesus (os
desconhecidos). Quando as pessoas ouviam de Jesus queriam aproximar-se
(tornarem-se conhecidos) ou se voltavam contra ele e queriam destrui-Lo
(tornavam-se inimigos).
Essa é a parte da membrana que tem que ser permeável entre
os desconhecidos e conhecidos e a parte que precisa se enrijecer onde for
necessário para suportar os inimigos. Não existe a possibilidade de vivermos sem
oposição, “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão
perseguidos.” (2 Timóteo 3:12). E é nesse sentido que Jesus diz: “Não penseis
que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.” (Mateus 10:34).
Pense bem, se você trabalha de forma honesta, incomoda os
que são desonestos; se você decide orar e ler mais a bíblia, incomoda os que
não o fazem; se você decide deixar de fazer ou dizer determinadas coisas porque
entendeu que desagradam a Deus incomodará a todos os que as fazem e dizem. Todos
se sentiram reprovados e provocados ainda que você não diga nenhuma palavra.
Isso incomoda no nível das relações e no nível espiritual. A questão é que a
nossa luta não é contra pessoas de carne e sangue e sim contra os poderes espirituais
do mal (Efésios 6:12).
Nos processos de aproximação dos desconhecidos podemos
aumentar os nossos amigos ou incitar novos inimigos, mas o essencial é que não
é o resultado dessa aproximação quem nos define. Quem nos define é o Senhor pelo seu Amor e pela Sua Palavra. E
sendo fiéis a Ele, aqueles que são fiéis a Ele se aproximarão de nós e nos
verão como somos no Senhor, se nós estivermos olhando pelos mesmos olhos de Deus,
buscando ver o Senhor nos outros e nos aproximarmos de quem quer o que é bom,
perfeito e agradável a Deus (Romanos 12:1-2). Assim se resumiam as avaliações
de Jesus dos resultados das suas próprias tentativas de levar a vida de Deus
aos homens:
20 Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a
luz e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras. 21 Quem pratica a verdade aproxima-se da luz, a
fim de que as suas obras sejam manifestas, porque feitas em Deus. 22 Depois
disto, foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia; ali permaneceu com
eles e batizava. (João 3:20-22)
Então, fique bem com quem faz o bem e não apenas com quem
fala sobre isso e faz o inverso. Pessoas conhecidas orbitam à sua volta, mas
não permita que elas influenciem sua vida, conduta e ações a menos que elas
mostrem fidelidade suficiente a Deus e com isso a você, para que você possa ter
nelas a proximidade de Cristo. Busque quem busca a luz e você será iluminado. “Não vos
enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes.” (1 Coríntios 15:33). Uma coisa é certa, amizade nada tem a ver com o que você parece por fora, mas o que você quer lá dentro de você e com o que você faz por quem você chama de amigo. Você quer colher amigos? Plante amizade verdadeira.
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