quinta-feira, 12 de julho de 2012

Clareando as idéias para ser feliz




Tenho escutado constantemente que isto e aquilo é preconceito. Mas, basta fazer uma pergunta e não consigo uma resposta tão rápida: Afinal, como você distingue que uma resposta é um conceito ou um preconceito? Se você realmente buscar a verdade e a justiça, verá que discernir isso não é tarefa tão fácil e nem pode ser feito de modo tão descuidado como tem sido feito, pois suas implicações são muito sérias para a nossa vida e a vida da sociedade.

A palavra conceito só aparece uma vez no novo testamento, na versão atualizada, quando Jesus fala sobre os princípios que regem o casamento. O texto diz: “Jesus, porém, lhes respondeu: nem todos são aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles a quem é dado.” (Mateus 19:11).  O dicionário Houaiss (2009, p. 1) traz as seguintes definições de conceito que fazem paralelo com o sentido que Jesus usa na frase citada:

1 faculdade intelectiva e cognoscitiva do ser humano; mente, espírito, pensamento. [...]; 2 compreensão que alguém tem de uma palavra; noção, concepção, idéia. Ex.: seu c. de moral é antiquado. 3 Derivação: por extensão de sentido. opinião, ponto de vista, convicção. Ex.: em seu c., qual é o melhor dos dois?

No original, é utilizada a palavra Logos, tendo o sentido de algo que personifica um pensamento e uma atitude expressos numa palavra. Jesus é o Logos de Deus, é a expressão de Deus, é o conceito de Deus. Um conceito, portanto, é a idéia que se move por trás da palavra dita.

Preconceito, por sua vez, é uma palavra derivada da anterior. Mas, com a preposição “pre”, ela ganhou um significado negativo. Assim, preconceito significa:

1 qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico.
1.1       ideia, opinião ou sentimento desfavorável formado sem conhecimento abalizado, ponderação ou razão.
2          sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância. Ex.: p. contra um grupo religioso, nacional ou racial.
3          conjunto de tais atitudes. Ex.: combater o p. (HOUAIS, 2009, p.2)

Você pode perceber que, mesmo baseado em conceitos, o pré-conceito abre mão da nobreza de examinar-se e de examinar a ideia que abraça para ver se de fato é assim. A bíblia conta desse tipo de nobreza: “ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim.” (Atos 17:11).

Parece haver uma ilusão generalizada de que alguém possa examinar qualquer situação ou idéia proposta sem levar em conta um referencial pessoal, mas isso é simplesmente impossível. O nosso cérebro não funciona assim. Todos nós vemos a vida através de uma lente de conceitos entrelaçados, mas nem sempre coerentes entre si e com nossas ações. Tanto a expressão do que pensamos é falha como a nossa compreensão é limitada ao que conhecemos.

Isso é comprovado pelas pesquisas em Psicologia Cognitiva: “embora tanto as palavras como as figuras possam ser usadas para representar coisas e idéias, nenhuma forma de representação mantém realmente todas as características daquilo que está sendo representado.” (STERNBERG, 2000, p. 151). Por extensão, se não expressamos perfeitamente o que está dentro de nós, tudo o que é dito pode ser mal entendido. E este ainda não é o problema total. Então, entre conceito e preconceito, qual é a diferença? Concorda comigo que não é uma resposta fácil? Que tal pensar sobre isso hoje? Porque certamente isso influencia fortemente sua vida e seus relacionamentos.




Uma lente para cada pessoa

Lemos o mundo a partir de uma rede individual de significados e seleções de significados. Sternberg (2000) apresenta quatro teorias para explicar como nós compreendemos o que vemos:


1 A Teoria do Modelo diz que armazenamos modelos nas nossas mentes, que estabelecem padrões de comparação pelos quais lemos o mundo.
2 A Teoria do Protótipo já propõe que comparamos o mundo com classes de padrões e objetos internalizados. Nós também somos capazes de perceber o padrão por trás de uma série de semelhanças.

3 As Teorias da Característica explicam o reconhecimento do mundo a partir da comparação com aqueles padrões armazenados na memória, o que passa pela retina, é comparado a várias funções diferentes, em relação ao que está na memória e, finalmente, mas não necessariamente conscientemente, decidem o significado do que foi visto a partir do que é mais comumente encontrado naquelas situações.

4 A Teoria de reconhecimento por componentes (RPC) de Biederman, explica o reconhecimento dos objetos pelas arestas e partes geométricas simples, que remontamos mentalmente  inúmeras vezes, associando-as em conjuntos reconhecíveis.

Há uma ocorrência que se repete nessas explicações de como compreendemos o mundo à nossa volta, tudo o que vemos, tentamos entender a partir do que nós já conhecemos e isso acontece automaticamente e mecanicamente, num primeiro momento. Isso implica que somos tendenciosos por natureza ao pré-julgamento, sem exceção. Sabendo que o nosso conhecimento é limitado e que por natureza somos tendenciosos, precisamos tomar muito cuidado e sermos criteriosos para assumirmos uma posição qualquer. É necessário discernir cuidadosamente se nossa posição será um conceito que valha à pena assumir ou um preconceito danoso, não só a nós, mas para os que nos cercam. Por isso, o livro de Provérbios nos avisa: “7 não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao SENHOR e aparta-te do mal; 8  será isto saúde para o teu corpo e refrigério, para os teus ossos.” (Provérbios 3:7-8).

Observe que mantenho o padrão que eu assumi como verdade para comparar toda essa discussão, a Palavra de Deus. No final, esse padrão será uma questão de escolha. A questão é que esse padrão nunca falhou, então, opto em permanecer com esse “logos”, como base conceitual.

A dinâmica dos conceitos

Conceitos são antes de tudo padrões e modelos pelos quais não só compreendemos, mas também atribuímos valor a cada coisa. Quando atribuímos valor a um determinado padrão, ele retornará para nós. Por exemplo, se alguém tem o conceito de que o erro é algo que demonstra falta de valor, derrota e que é irrecuperável, essa pessoa se torna altamente crítica de si e dos outros. Se ela acertar, se sentirá superior aos demais; se ela errar, vai se punir e diminuir, ao invés de se recuperar ou não vai admitir erros; se outra pessoa errar, será desprezada por ela.

O problema está no conceito.  Nós vivemos sobre nossos conceitos, quer tenhamos ou não a consciência disso. Isso vai influenciar nos nossos relacionamentos uns com os outros e para com Deus: “pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.” (Mateus 7:2).  Vamos colocar em fatos concretos isso. Por exemplo, se o nosso conceito de “possibilidades de ser amado” só permite a perfeição segundo o mundo, vamos entrar em apuros. Por exemplo, se você não seguir um determinado padrão estético, intelectual, financeiro, você não tem valor para ser amado. Esse é um conjunto de preconceitos, ou seja, conceitos mal fundamentados e destrutivos.

Se você analisar bem, o que tem a ver o conceito de amor de Deus, que tudo crê, tudo suporta, tudo espera, com a estética (como você parece), a intelectualidade (o que você sabe) e as finanças (o que você possui)? Ainda que Deus tenha uma crítica moral a respeito de alguém, que algo na sua vida esteja em confronto com a natureza de Deus, Ele está contra isso porque Ele se opõe porque nos faz mal, então, no fim, Ele rejeita o mal e não a nós. É exatamente por aceitar e desejar o melhor em nós que Ele rejeita o mal. Nós é que confundimos o mal com o bem quando trocamos os nossos conceitos.

Deus oferece um sistema de conceitos e de moral na sua Palavra e não de preconceitos. Não são motivos impensados, dados por tradição ou por modernismo, mas são princípios pelos quais Ele estabeleceu que a Vida vai fluir em plenitude. Deus não se preocupa com moda, porque a moda é temporal, Deus está acima disso. O que era mau aos olhos de Deus ainda o é hoje, mesmo que aos olhos de alguns na igreja tenha mudado. Nós precisamos de coragem para assumir esses conceitos, ainda que alguns os apelidem de preconceitos. Pois, se como já vimos, todos vivemos de conceitos preconcebidos, seja lá quais forem as idéias que apoiemos, é preferível viver pelos conceitos preconcebidos por Deus, que é perfeito em amor e é de eternidade em eternidade.

Coerência incoerente

 O grande problema é a nossa natureza conflitante. Paulo já descrevia a luta constante pela coerência entre a idéia e a ação:

18  Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. 19  Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. 20  Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim. [...] 23  mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado que está nos meus membros. 24  Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
25  Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado.

O homem moderno não quer sentir desconforto. Muito menos consigo mesmo. Não queremos admitir conceitos pelos quais precisemos de retoques ou consertos. Mas, isso é inevitável quando nos olhamos nos conceitos justos e amorosos de Deus. Até quando nos indignamos contra a injustiça precisamos vigiar o ódio no coração. Vamos e convenhamos, é complicado...

Mas, enfrentar as incoerências é aceitar a graça restauradora de Deus, onde encontramos outra coisa que o homem moderno está sendo treinado a odiar: a dependência de Deus. Quando Paulo termina de colocar sua angústia entre o que quer e o que consegue fazer de certo, ele exclama a porta de saída que encontra: “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado.” (Romanos 7:25).

Incoerência inconsciente

Apesar de que muitos declarem que há muita hipocrisia, eu não tenho certeza de que seja hipocrisia deliberada. Uma mente enganada pode realmente acreditar que haja coerência em algumas ações odiosas a Deus. Paulo foi enganado assim: “a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade.” (1 Timóteo 1:13).  Paulo estava convicto de que estava servindo a Deus e cultuando.

Jesus já tinha avisado sobre isso: “2  Eles vos expulsarão das sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus. 3  Isto farão porque não conhecem o Pai, nem a mim.” (João 16:2-3). Por isso, Deus atendeu a oração de Estevão, que ao morrer orava pelos que o apedrejavam e perseguiam. Havia espaço na sinceridade desses corações para conhecerem os conceitos que realmente eram de Deus.

O problema real está no conceito que fazemos de nós mesmos, pois o único que tem visão clara o suficiente para nos enxergar em amor é Deus. Veja como Jesus fala da auto-imagem diante de Deus:

11  O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; 12  jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. 13  O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador! 14  Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado. (Lucas 18:11-14)

Não leve suas qualidades a Deus, porque Ele as conhece, afinal, foi Ele quem as deu. Toda boa dádiva e todo dom perfeito vem do alto. Leve seus problemas e defeitos, assim poderá sair da presença dele melhor do que entrou, levando mais da presença dEle.

O conceito da prudência

Entretanto, existem as pessoas que merecem uma atenção especial. Essas desejam se utilizar da credulidade alheia, da falta de prudência e abusar da ignorância das pessoas que querem buscar a Deus:

17  Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, 18  porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos. (Romanos 16:17-18).

Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. (Mateus 7:15)

21  tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? 22  Dizes que não se deve cometer adultério e o cometes? Abominas os ídolos e lhes roubas os templos? 23  Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? 24  Pois, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por vossa causa. (Romanos 2:21-24)

A prudência exige atenção para condições de risco e que se observem características que são indicadores de um caráter destrutivo, que nos possam causar danos.

Males do preconceito

O preconceito é destrutivo para alguém por limitar as possibilidades do que a pessoa  pode ser, ter e fazer com argumentos inválidos e associações falsas; e sempre  servem ao propósito de alguém que lucra com eles. Eles podem até fazer-se de defensores dos direitos e etc., mas na realidade, eles estão atrás dos próprios interesses. Observe a discussão entre os que lucravam com a idolatria do povo de Éfeso para derrubar o ministério de Paulo:

24  Pois um ourives, chamado Demétrio, que fazia, de prata, nichos de Diana e que dava muito lucro aos artífices, 25  convocando-os juntamente com outros da mesma profissão, disse-lhes: Senhores, sabeis que deste ofício vem a nossa prosperidade 26  e estais vendo e ouvindo que não só em Éfeso, mas em quase toda a Ásia, este Paulo tem persuadido e desencaminhado muita gente, afirmando não serem deuses os que são feitos por mãos humanas. 27  Não somente há o perigo de a nossa profissão cair em descrédito, como também o de o próprio templo da grande deusa, Diana, ser estimado em nada, e ser mesmo destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo adoram. 28  Ouvindo isto, encheram-se de furor e clamavam: Grande é a Diana dos efésios! 29  Foi a cidade tomada de confusão, e todos, à uma, arremeteram para o teatro, arrebatando os macedônios Gaio e Aristarco, companheiros de Paulo. [...] 32  Uns, pois, gritavam de uma forma; outros, de outra; porque a assembléia caíra em confusão. E, na sua maior parte, nem sabiam por que motivo estavam reunidos. [...] 34  Quando, porém, reconheceram que ele era judeu, todos, a uma voz, gritaram por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios! (Atos 19: 24-29, 32,34).

Observe que essas pessoas não sabiam nem do que realmente se tratava, mas gritaram durante duas horas e quase mataram dois homens, cuja lista de crimes era a seguinte:

1.    Levar o batismo com o Espírito Santo às pessoas que já tinham crido: “E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e tanto falavam em línguas como profetizavam.” (Atos 19:6);

2.    Curar os enfermos e livrar os oprimidos do diabo: 11  E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários, 12  a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se retiravam. (Atos 19:11 – 12).



Então, há uma grande inverdade em tentar convencer qualquer pessoa de que ela pode ter conceitos absolutamente livres de um referencial. Nenhum de nós consegue ler e escrever o mundo a partir de uma lente sem grau ou de um lápis sem tinta especial e individual. Mas, um conceito só se torna preconceito quando causa dano a alguém. Por isso, precisamos que o Senhor nos dê discernimento e sabedoria para não fazermos julgamentos errados, apressados que vão nos conduzir de forma errada na vida. Devemos desconfiar de nossas idéias até que elas sejam examinadas à luz do Senhor, para que não se tornem prejuízos a nós e aos outros.

A forma como medimos os outros retornará para nós, então, que seja aquilo que desejamos receber. Viver como se nós pudéssemos aceitar que tudo é bom e o mau não existe não vai resolver o problema da responsabilidade que temos da nossa vida e da vida dos outros. E repito: “pois, se como já vimos, todos vivemos de conceitos preconcebidos, seja lá quais forem as idéias que apoiemos, é preferível viver pelos conceitos preconcebidos por Deus, que é perfeito em amor e é de eternidade em eternidade.”

Ainda que nós desejemos acertar sempre e saibamos o que é certo diante de Deus não temos garantia de perfeição, por isso, a graça está disponível para nós. É melhor ir a Deus desconfortável, do que sem examinar-se a si mesmo. Assim voltaremos cheios dEle e não de nós mesmos. E além disso, por melhores que forem nossas intenções devem ser analisadas à luz da Palavra e não da tradição, porque podemos correr o risco de perseguir a obra de Cristo.

Todo o percurso necessita de prudência. Atenção para o caráter das pessoas e não apenas para seus sorrisos e palavras doces. O fruto os faz reconhecidos. Todo pensamento que você tiver sobre você mesmo ou sobre alguém que a limite deve ser revisado sob a luz da Palavra.

Você pode orar assim:

Querido Deus,  livra-me dos falsos conceitos e ensina-me os teus sobre todas as áreas da minha vida, em nome de Jesus.





 REFERÊNCIAS

HOUAISS, Antônio (Ed). Dicionário Houaiss Eletrônico. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
STERNBERG, Robert. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente a mensagem ou faça sua pergunta.

Web Analytics