Hoje, ouvi uma pessoa dizer que se sentia
muito só, pois todos na sua casa tinham a sua família e ele não tinha ninguém.
Era um rapaz bem sucedido e com vida econômica estável. Comecei, então, a
pensar em todos os que se sentem sozinhos. Nós estamos criando a sociedade do
isolamento do individualismo e, portanto, da solidão.
Responda-me: qual o
objetivo que você tem para realizar junto com algum grupo de forma voluntária?
Não inclua o grupo do trabalho, pois ele não é voluntário. Nem as famílias
estão tendo planos em conjunto. Se não há um objetivo em comum, não se
configura um grupo, mas um aglomerado de pessoas. Tudo o que fazemos é cada vez
mais individualizado. E isso afeta todos os níveis de relacionamento, gerando
uma sociedade do egoísmo. Veja o que diz a Bíblia: “busca
satisfazer seu próprio desejo aquele que se isola; ele se insurge contra toda
sabedoria.” (Provérbios 18:1).
Cria-se o
ciclo vicioso da solidão. Se, por um lado, procuramos nos satisfazer
individualmente, surge o paradoxo de que necessidades altamente importantes,
como a de afeto, só são realizadas em convivência nos grupos. Como a sociedade
vende a idéia de que seremos felizes conquistando coisas materiais, então, para
conseguir coisas, nos afastamos mais das pessoas, sentindo mais vazio... E o
ciclo se realimenta, nos afastando cada vez mais e, também, nos esvaziando por
dentro.
Quando o valor das conquistas materiais supera
tudo, qualquer preço pode ser pago para consegui-las. Assim, todos os valores
vão se deteriorando por uma satisfação que é também material. Tudo se materializa
e logo depois se desintegra... Amor vira sexo e fica apenas o tempo do
prazer, que se apaga rapidamente como todas as lembranças sem importância... A
realização profissional vira uma carreira e uma busca desenfreada por vantagens
econômicas... Bem-estar se transforma em fixação por padrões de beleza e pode
se transformar em anorexia, bulimia e milhares de procedimentos estéticos
“corretivos”, que na realidade são apenas brotos da árvore da auto-rejeição.
Pessoas viram consumíveis: pera, maçã, melancia... Só que fruta é chamado de “perecível”
no mercado. Tem o prazo de validade muito curto. Tudo e todos se tornam objetos e descartáveis. Deus tem um hall da
fama especial e não uma banca de mercado: “quanto
aos piedosos (santos) que estão na terra, são eles os excelentes, os nobres e
os gloriosos, nos quais tenho todo o meu prazer.” (Salmo 16:3 – Bíblia Amplificada).
E, se você não se rende a materialização de
tudo, será criticado por aqueles que passam correndo na maratona das conquistas
materiais passageiras. Um prêmio que deve ser rapidamente comemorado, pois estará
fora de moda ou perderá o sabor na próxima semana. E nenhum dos que lhe
incentivam a entregar a sua vida nessa corrida vai se responsabilizar pelas
conseqüências, que você terá de arcar sozinho e cada vez mais sozinho. Por
isso, o alerta: “4 Não
te fatigues para seres rico; não apliques nisso a tua inteligência. 5 Porventura, fitarás os olhos naquilo que não
é nada? Pois, certamente, a riqueza fará para si asas, como a águia que voa
pelos céus.” (Provérbios 23:4-5).
A solidão
disfarçada de grupo
E como tudo é individual, não existem pessoas
se divertindo juntas. Existem pessoas que se divertem no mesmo lugar. A solidão
e o isolamento aumentam cada vez mais, mesmo quando as pessoas andam em bandos.
Porque cada pessoa passa a ser invisível e, sendo apenas parte do
interesse material do outro, se transforma em um objeto a ser utilizado quando
for útil. Ao se relacionar com objetos para lhe darem prazer, você não terá
ninguém com você, estará só. Você não será visto por ninguém, nem vê ninguém.
Isso é deserto ou selva, mas não é companhia e nem companheirismo.
Se não houver ninguém para confiar, discordar, dizer “não” ou fazer
falta, você estará só. Quando você deseja as pessoas ao seu lado apenas para
suprir as suas necessidades, você está só. Tão absolutamente só quanto se vê
hoje em dia pessoas procurando todo o tipo de coisa, de racha (corrida ilegal
de carros) às drogas, só para saber que ainda é capaz de sentir alguma coisa. É
uma geração que cai e não há quem levante, como diz a palavra: “[...] ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não
haverá quem o levante.” (Eclesiastes 4:10).
A
habilidade para a solitude
Jeremias sabia o que era andar fora da moda...
Ele conhecia um tipo diferente de “solidão acompanhada por Deus”, o que o
dicionário chama de ‘solitude’. Um afastamento voluntário, para reflexão ou
preservação de si mesmo. Ele dizia: “nunca me assentei na assembléia dos
zombadores, nem me regozijei; por causa da tua mão me assentei solitário; pois
me encheste de indignação.” (Jeremias 15:17). Esse é um tipo de
solidão acompanhada da presença de Deus para não se submeter ao culto das
coisas e dos prazeres. Jeremias se isolou e ficou com Deus. Não é a proibição
estóica aos prazeres, mas o afastamento prudente de prazeres destrutivos, que
diminuem a nossa humanidade. Deus não é contra o prazer, é contra a destruição
que alguns deles causam.
Muitos assumem o caminho inverso ao de
Jeremias. Ao serem criticados por se dedicarem ao Senhor, quando as coisas
prazerosas cintilam, desistem, por não agüentarem a pressão dos que sequer se
importam com sua vida e sim com o prazer que podem usufruir dela, os quais somente
permanecerão com eles durante esse breve período de utilização. Aproximação com
prazo de validade não é amizade é interesse. Por isso, temos o alerta:
10 Ouve, filho meu, e aceita as minhas palavras,
e se te multiplicarão os anos de vida. 11
No caminho da sabedoria, te ensinei e pelas veredas da retidão te fiz
andar. 12 Em andando por elas, não se
embaraçarão os teus passos; se correres, não tropeçarás. 13 Retém a instrução e não a largues; guarda-a,
porque ela é a tua vida. (Provérbios 4:10-13)
Brincar
de ter prazer não é amar
O amor precisa de dedicação e compromisso,
precisa de enfrentar as dificuldades, precisa permanecer e não
"ficar" somente. Deus nos dá raízes, nos dá família, Ele “[...] faz
que o solitário viva em família; liberta aqueles que estão presos em grilhões;
mas os rebeldes habitam em terra seca.” (Salmo 68:6).
Observe o modelo desenvolvido pelo pecado para
os últimos tempos: “pois os homens serão egoístas, avarentos,
jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos,
irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si,
cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos
prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o
poder. Foge também destes.” (2Tm 3:2-5).
Olhe a seu
redor... Observe as redes sociais, as baladas,... Entrar e sair das vidas das
pessoas é fácil, permanecer é raro. As mulheres estão se embalando para
consumo, em embalagem de salgadinhos, pelo menos o tamanho, o brilho são os
mesmos.
Sua carreira pode não ser tão importante quanto você pensa, porque a solidão é um fardo muito maior do que você imagina. A perda de você mesmo no afastamento do outro pode ser incalculável. ‘Nós’ é sempre mais forte do que ‘eu’. E como disse a minha amiga Zulima Tozzi num e-mail:
Sua carreira pode não ser tão importante quanto você pensa, porque a solidão é um fardo muito maior do que você imagina. A perda de você mesmo no afastamento do outro pode ser incalculável. ‘Nós’ é sempre mais forte do que ‘eu’. E como disse a minha amiga Zulima Tozzi num e-mail:
Estamos é com carência de passear de mãos
dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar
performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta
e depois saber que vão "apenas" dormir abraçados. Sabe, essas coisas
simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. É ter alguém para
acordar e sonhar juntos, acordados ou dormindo.
É
essencial? Como? Se não tem essência?
Se a carreira, o dinheiro e as conquistas são
tão importantes, porque elas não aplacam essa dor no peito de quem já os tem em
quantidade? Inverter os valores é inverter as prioridades das buscas e logo impedir
que se encontre o que é buscado. Se você procurar no lugar errado, nunca vai
encontrar. É como perder uma chave na garagem e procurá-la no jardim porque é
mais agradável a busca. Procura-se a vida toda, mas a chave nunca será
encontrada. Mas, e se a chave for da paz, alegria e justiça? De que valerá
seguir a vida procurando esses elementos que constituem o reino de Deus onde eles
não estão? “Porque o reino de Deus
não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” (Romanos
14:17).
Para quê ter tanto conhecimento técnico e, no
final, dividir o apartamento maravilhoso com ninguém ou apenas com o abandono
de cada relação superficial, que lhe deixa após algumas horas, após a “troca de
usos”? Para que ser tão intelectual a ponto de não poder entregar seu coração e
sorrir de uma coisa simples? E depois de ter corrido tanto, não chegar a lugar
de encontro nenhum? O que fazer com dinheiro e diplomas no meio do Pólo Norte?
Pagar a viagem de volta para os trópicos? Prefiro não ter dinheiro ou conhecimento suficiente para me colocar
num pico tão alto no qual eu só possa ver a minha imagem refletida na neve e
ter somente as nuvens geladas por companhia. Sem falar do medo de cair ou de
morrer de frio... Nenhum alpinista competente escala sozinho.
Não seja egoísta, procure se dar alguém. Só
assim poderá receber de volta. E mesmo que não consiga dessa pessoa, você
estará abrindo espaço na sua vida, que tornará possível esse tipo de
relacionamento um dia, sem ele a vida não se renova.
Prefira estar com aquele que me diz a cada momento:
“não temas, porque eu sou contigo;
não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te
sustento com a minha destra fiel.” (Isaías 41:10)
“Assim diz o SENHOR, que te criou, e
te formou desde o ventre, e que te ajuda: Não temas, ó Jacó, servo meu, ó
amado, a quem escolhi.” (Isaías 44:2)
Espero que reflita nisso e faça a opção certa
de como estar acompanhado e como estar a sós com Deus. Nele, somos vistos,
ouvidos e cuidados e, como conseqüência, vemos ouvimos e cuidamos de outros. O
Amor de Deus é o que sara as feridas da solidão desse mundo que nos isola no
meio do nada. Nós, seres humanos que temos o eterno gravado como necessidade no
nosso coração nunca seremos felizes no vazio dos instantes de prazer, mas fomos
criados para aquilo que permanece para sempre. Nós fomos criados para viver a
eternidade do amor e da bondade de Deus.
Você pode orar assim:
Senhor, ajuda-me a viver
a tua eternidade a cada momento da minha vida. Enche-me com a tua presença e
expulsa essa solidão. Mostra-me como construir essa eternidade na minha vida,
em nome de Jesus.
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