segunda-feira, 16 de julho de 2012

Vencendo a Solidão





Hoje, ouvi uma pessoa dizer que se sentia muito só, pois todos na sua casa tinham a sua família e ele não tinha ninguém. Era um rapaz bem sucedido e com vida econômica estável. Comecei, então, a pensar em todos os que se sentem sozinhos. Nós estamos criando a sociedade do isolamento do individualismo e, portanto, da solidão.

Responda-me: qual o objetivo que você tem para realizar junto com algum grupo de forma voluntária? Não inclua o grupo do trabalho, pois ele não é voluntário. Nem as famílias estão tendo planos em conjunto. Se não há um objetivo em comum, não se configura um grupo, mas um aglomerado de pessoas. Tudo o que fazemos é cada vez mais individualizado. E isso afeta todos os níveis de relacionamento, gerando uma sociedade do egoísmo. Veja o que diz a Bíblia: “busca satisfazer seu próprio desejo aquele que se isola; ele se insurge contra toda sabedoria.” (Provérbios 18:1).
Cria-se o ciclo vicioso da solidão. Se, por um lado, procuramos nos satisfazer individualmente, surge o paradoxo de que necessidades altamente importantes, como a de afeto, só são realizadas em convivência nos grupos. Como a sociedade vende a idéia de que seremos felizes conquistando coisas materiais, então, para conseguir coisas, nos afastamos mais das pessoas, sentindo mais vazio... E o ciclo se realimenta, nos afastando cada vez mais e, também, nos esvaziando por dentro.

Quando o valor das conquistas materiais supera tudo, qualquer preço pode ser pago para consegui-las. Assim, todos os valores vão se deteriorando por uma satisfação que é também material. Tudo se materializa e logo depois se desintegra... Amor vira sexo e fica apenas o tempo do prazer, que se apaga rapidamente como todas as lembranças sem importância... A realização profissional vira uma carreira e uma busca desenfreada por vantagens econômicas... Bem-estar se transforma em fixação por padrões de beleza e pode se transformar em anorexia, bulimia e milhares de procedimentos estéticos “corretivos”, que na realidade são apenas brotos da árvore da auto-rejeição. Pessoas viram consumíveis: pera, maçã, melancia... Só que fruta é chamado de “perecível” no mercado. Tem o prazo de validade muito curto. Tudo e todos se tornam  objetos e descartáveis. Deus tem um hall da fama especial e não uma banca de mercado: “quanto aos piedosos (santos) que estão na terra, são eles os excelentes, os nobres e os gloriosos, nos quais tenho todo o meu prazer.” (Salmo 16:3 – Bíblia Amplificada).   


E, se você não se rende a materialização de tudo, será criticado por aqueles que passam correndo na maratona das conquistas materiais passageiras. Um prêmio que deve ser rapidamente comemorado, pois estará fora de moda ou perderá o sabor na próxima semana. E  nenhum dos que lhe incentivam a entregar a sua vida nessa corrida vai se responsabilizar pelas conseqüências, que você terá de arcar sozinho e cada vez mais sozinho. Por isso, o alerta: “4 Não te fatigues para seres rico; não apliques nisso a tua inteligência. 5  Porventura, fitarás os olhos naquilo que não é nada? Pois, certamente, a riqueza fará para si asas, como a águia que voa pelos céus.” (Provérbios 23:4-5).



A solidão disfarçada de grupo

E como tudo é individual, não existem pessoas se divertindo juntas. Existem pessoas que se divertem no mesmo lugar. A solidão e o isolamento aumentam cada vez mais, mesmo quando as pessoas andam em bandos. Porque cada pessoa passa a ser invisível e, sendo apenas parte do interesse material do outro, se transforma em um objeto a ser utilizado quando for útil. Ao se relacionar com objetos para lhe darem prazer, você não terá ninguém com você, estará só. Você não será visto por ninguém, nem vê ninguém. Isso é deserto ou selva, mas não é companhia e nem companheirismo.

Se não houver ninguém para confiar, discordar, dizer “não” ou fazer falta, você estará só. Quando você deseja as pessoas ao seu lado apenas para suprir as suas necessidades, você está só. Tão absolutamente só quanto se vê hoje em dia pessoas procurando todo o tipo de coisa, de racha (corrida ilegal de carros) às drogas, só para saber que ainda é capaz de sentir alguma coisa. É uma geração que cai e não há quem levante, como diz a palavra: [...] ai, porém, do que estiver só; pois, caindo, não haverá quem o levante.” (Eclesiastes 4:10).

A habilidade para a solitude 

Jeremias sabia o que era andar fora da moda... Ele conhecia um tipo diferente de “solidão acompanhada por Deus”, o que o dicionário chama de ‘solitude’. Um afastamento voluntário, para reflexão ou preservação de si mesmo. Ele dizia: “nunca me assentei na assembléia dos zombadores, nem me regozijei; por causa da tua mão me assentei solitário; pois me encheste de indignação.” (Jeremias 15:17). Esse é um tipo de solidão acompanhada da presença de Deus para não se submeter ao culto das coisas e dos prazeres. Jeremias se isolou e ficou com Deus. Não é a proibição estóica aos prazeres, mas o afastamento prudente de prazeres destrutivos, que diminuem a nossa humanidade. Deus não é contra o prazer, é contra a destruição que alguns deles causam.

Muitos assumem o caminho inverso ao de Jeremias. Ao serem criticados por se dedicarem ao Senhor, quando as coisas prazerosas cintilam, desistem, por não agüentarem a pressão dos que sequer se importam com sua vida e sim com o prazer que podem usufruir dela, os quais somente permanecerão com eles durante esse breve período de utilização. Aproximação com prazo de validade não é amizade é interesse. Por isso, temos o alerta:

10  Ouve, filho meu, e aceita as minhas palavras, e se te multiplicarão os anos de vida. 11  No caminho da sabedoria, te ensinei e pelas veredas da retidão te fiz andar. 12  Em andando por elas, não se embaraçarão os teus passos; se correres, não tropeçarás. 13  Retém a instrução e não a largues; guarda-a, porque ela é a tua vida. (Provérbios 4:10-13)


Brincar de ter prazer não é amar

O amor precisa de dedicação e compromisso, precisa de enfrentar as dificuldades, precisa permanecer e não "ficar" somente. Deus nos dá raízes, nos dá família, Ele “[...] faz que o solitário viva em família; liberta aqueles que estão presos em grilhões; mas os rebeldes habitam em terra seca.” (Salmo 68:6).

Observe o modelo desenvolvido pelo pecado para os últimos tempos: “pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes.” (2Tm 3:2-5).

Olhe a seu redor... Observe as redes sociais, as baladas,... Entrar e sair das vidas das pessoas é fácil, permanecer é raro. As mulheres estão se embalando para consumo, em embalagem de salgadinhos, pelo menos o tamanho, o brilho são os mesmos.

Sua carreira pode não ser tão importante quanto você pensa, porque a solidão é um fardo muito maior do que você imagina. A perda de você mesmo no afastamento do outro pode ser incalculável. ‘Nós’ é sempre mais forte do que ‘eu’. E como disse a minha amiga Zulima Tozzi num e-mail:

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormir abraçados. Sabe, essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega. É ter alguém para acordar e sonhar juntos, acordados ou dormindo.

É essencial? Como? Se não tem essência?

Se a carreira, o dinheiro e as conquistas são tão importantes, porque elas não aplacam essa dor no peito de quem já os tem em quantidade? Inverter os valores é inverter as prioridades das buscas e logo impedir que se encontre o que é buscado. Se você procurar no lugar errado, nunca vai encontrar. É como perder uma chave na garagem e procurá-la no jardim porque é mais agradável a busca. Procura-se a vida toda, mas a chave nunca será encontrada. Mas, e se a chave for da paz, alegria e justiça? De que valerá seguir a vida procurando esses elementos que constituem o reino de Deus onde eles não estão? “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.” (Romanos 14:17). 

Para quê ter tanto conhecimento técnico e, no final, dividir o apartamento maravilhoso com ninguém ou apenas com o abandono de cada relação superficial, que lhe deixa após algumas horas, após a “troca de usos”? Para que ser tão intelectual a ponto de não poder entregar seu coração e sorrir de uma coisa simples? E depois de ter corrido tanto, não chegar a lugar de encontro nenhum? O que fazer com dinheiro e diplomas no meio do Pólo Norte? Pagar a viagem de volta para os trópicos? Prefiro não ter  dinheiro ou conhecimento suficiente para me colocar num pico tão alto no qual eu só possa ver a minha imagem refletida na neve e ter somente as nuvens geladas por companhia. Sem falar do medo de cair ou de morrer de frio... Nenhum alpinista competente escala sozinho. 

Não seja egoísta, procure se dar alguém. Só assim poderá receber de volta. E mesmo que não consiga dessa pessoa, você estará abrindo espaço na sua vida, que tornará possível esse tipo de relacionamento um dia, sem ele a vida não se renova.

Prefira estar com aquele que me diz a cada momento:

“não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra fiel.” (Isaías 41:10)

“Assim diz o SENHOR, que te criou, e te formou desde o ventre, e que te ajuda: Não temas, ó Jacó, servo meu, ó amado, a quem escolhi.” (Isaías 44:2) 

Espero que reflita nisso e faça a opção certa de como estar acompanhado e como estar a sós com Deus. Nele, somos vistos, ouvidos e cuidados e, como conseqüência, vemos ouvimos e cuidamos de outros. O Amor de Deus é o que sara as feridas da solidão desse mundo que nos isola no meio do nada. Nós, seres humanos que temos o eterno gravado como necessidade no nosso coração nunca seremos felizes no vazio dos instantes de prazer, mas fomos criados para aquilo que permanece para sempre. Nós fomos criados para viver a eternidade do amor e da bondade de Deus.

Você pode orar assim:

Senhor, ajuda-me a viver a tua eternidade a cada momento da minha vida. Enche-me com a tua presença e expulsa essa solidão. Mostra-me como construir essa eternidade na minha vida, em nome de Jesus.







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