Hoje, eu fui incomodada profundamente pela minha ignorância. Se você faz
um curso bíblico, alguém certamente vai lhe ensinar que graça é o favor
imerecido dado por Deus. Mas, hoje, me dei conta de que nunca tinha realmente
me aprofundado ou checado se esse conceito era esse mesmo “só isso". Nós
estamos acostumados a ministrar a graça na bênção apostólica, geralmente, ao
final dos cultos. Mas, percebi o quanto tinha se transformado em um “até logo”,
“foi bom ver vocês”, “até o próximo culto”. Fiquei envergonhada com a
confrontação do Espírito da Graça à minha ignorância disfarçada.
A maioria das cartas do novo testamento começam e terminam ministrando a
graça do Senhor sobre seus leitores. A Palavra de Deus não perde tempo com
jargões, frases de efeito ou costumes. Se essa ministração é tão frequente é
porque ela é necessária. Então, sinceramente, eu perguntei ao Espírito Santo o
porquê e encontrei uma revelação tremenda.
Thayer define graça (“karis”) a partir de quatro aspectos: o que ela
concede; como age em nós; o que ela provoca na nossa vida e a e como nós a
devolvemos a Deus.
A graça e sua Fonte
O primeiro aspecto que Thayer (2012) define na graça, fala do que
derivou o termo “estado de graça”. A revelação da aceitação de Deus e da
sua presença graciosa na nossa vida provoca “alegria, prazer, deleite, doçura,
encanto, amabilidade e graça de falar” (Thayer, 2012, tradução nossa). Isso
acontecia com Jesus. As pessoas que o conheciam desde a infância se encantavam
com Ele: “todos lhe davam testemunho, e se
maravilhavam das palavras de graça que lhe saíam dos lábios, e
perguntavam: não é este o filho de José?” (Lucas 4:22).
Essa manifestação da aceitação de Deus e do seu favor crescia em
consciência e força cobrindo Jesus: “crescia o
menino e se fortalecia, enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus
estava sobre ele.” (Lucas 2:40) e isso era observável: “e crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça,
diante de Deus e dos homens.” (Lucas 2:50). Se você compreender
realmente e viver a graça do Senhor, isso se tornará visível para quem estiver
á sua volta. O que é possível ver da graça? A alegria, o prazer, o deleite, a
doçura, o encanto, a amabilidade e a graça de falar.
Mas, compreender a graça significa compreender a aceitação, o favor de
Deus, e depois esses aspectos desejáveis que citei brotarão. Isso pode nos
explicar porque a alegria é parte do fruto do Espírito Santo (Gálatas 5:21).
O Espírito Santo é o Espírito da graça. Ele nos desvenda a graça:
E sobre a casa de Davi e sobre
os habitantes de Jerusalém derramarei o espírito da graça e de
súplicas; olharão para aquele a quem traspassaram [Jesus]; pranteá-lo-ão como quem pranteia por um unigênito e
chorarão por ele como se chora amargamente pelo primogênito [entenderão
que Ele é o Primogênito de Deus e se arrependerão]. (Zacarias
12:10, comentário nosso).
A obra de Jesus na cruz já lhe dá tudo o que você necessita para ser
perdoado e aproximar-se livremente de Deus. A única condição é crer que
precisa e pode receber o perdão de graça. Quando o seu coração aceita isso, ele
recebeu a revelação da graça, que é o primeiro passo.
Recebemos a salvação de presente, isto é, pela graça: “8 Porque pela graça
sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie.” (Efésios
2:8-9). Querido Espírito Santo, por favor, mostre aos nossos corações o que é a
graça... em nome de Jesus!...
A graça que nos toca, nos
transforma
A alegria, o prazer, o deleite, a doçura, o encanto, a amabilidade e a
graça no falar são fruto da revelação da graça de Deus. A graça que nos toca,
nos transforma em obra de arte de Deus:
Pois nós somos a própria obra de arte de Deus (Sua arte), recriados em
Cristo Jesus, [nascidos de novo] para que nós façamos boas obras as quais Deus
predestinou (planejou de antemão) para nós [tomando caminhos que Ele preparou antecipadamente],
para que nós caminhássemos neles [vivendo a boa vida que Ele preordenou e
preparou para que nós vivêssemos]. (Efésios 2:10 – Bíblia Amplificada).
Esse é o motivo de as pessoas terem cunhado a expressão “estado de
graça”. Jesus sabia que agradava a Deus, que Deus tinha prazer nele e se alegrava
em fazer a vontade de Deus. Jesus nos trouxe a plenitude da graça: “porque todos
nós temos recebido da sua plenitude e graça sobre graça.
[...]; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo.”
(João 1:16-17).
A graça que se mostrou a nós...
A boa vontade, a ternura e o favor de Deus sobre as nossas vidas é a
graça manifesta de Deus. Apesar de o pecado ser contrário à própria
natureza de Deus, Ele se aproximou de nós, gratuitamente, sem que tivéssemos
nada a não ser as nossas limitações para oferecer-lhe e nos deu seu filho, se
derramando a sai mesmo por nós.
E assim é até hoje, os que querem deixar o pecado, recebem de Deus o
perdão e podem se aproximar dEle. Essa foi a pregação de Pedro para o povo em
Jerusalém quando o povo desejou se aproximar de Deus pelo perdão, que é dado de
graça:
32
Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o
entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas? 33 Quem intentará acusação contra os eleitos de
Deus? É Deus quem os justifica. 34 Quem
os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual
está à direita de Deus e também intercede por nós. (Romanos 8:32-34).
[...] e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos?
Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja
batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e
recebereis o dom do Espírito Santo [o Espírito da Graça]. (Atos
2:37-41).
Deus conosco
Outro aspecto da ação da graça de Deus sobre nossas vidas está evidente
na manifestação da presença graciosa de Deus conosco. O olhar cheio de boa
vontade do Deus que diz: “eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o
SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim
que desejais.” (Jeremias 29:11). Como
diz Thayer (2012, tradução nossa), essa é a “ternura misericordiosa pela qual
Deus, exercendo sua santa influência sobre nossas almas, as volta para Cristo,
mantém, fortalece, faz crescer na fé cristã, conhecimento e afetividade e as
ativa para o exercício das virtudes cristãs.”
Quando nós agradamos a Deus, Ele manifesta a sua aprovação de forma
sobrenatural. A sua graça é essa cobertura. Ela nos abre a porta do reino dos
céus e nos sustenta no caminho da salvação. Deus não só vai ao nosso encontro
com a proposta de ser o instrumento e o poder da salvação, Ele também é o
guardião do nosso depósito, nos fortalecendo e ensinando a ser como Ele é, nos
transformando pelo seu poder: “e todos nós, com o rosto desvendado, contemplando,
como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em
glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” (2
Coríntios 3:8). O Espírito
da Graça nos trará a consciência da graça e a evidência dela. Sim, Deus sabe que você precisa de mudanças;
sim, Deus irá promovê-las pela sua graça.
Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o
seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas
segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo [Espírito da Graça], que ele derramou sobre
nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que,
justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a
esperança da vida eterna. (Tito 3:4-7)
Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de
completá-la até ao Dia de Cristo Jesus. (Filipenses 1:6)
A graça que se move em nós
A graça também impulsiona pessoas a fazerem coisas para Deus. Observe
que não é o contrário: pessoas fazendo coisas para obterem o favor de Deus. Ao
desejar o favor de Deus e abrir o coração para Deus, Ele o capacitará e o
dirigirá para fazer as coisas dEle e para Ele.
Como diz Thayer (2012, tradução nossa), é devido à graça “a condição
espiritual de alguém governando pelo poder da divina graça; a representação da
ou a prova da graça, o benefício; o presente da graça; o benefício, a
recompensa”. Quando Jesus é o seu Cristo, o seu rei, o reino dEle vai se manifestar
na sua vida, trazendo essa força intangível para fazer o seu serviço e a
manifestação da recompensa de um coração aprovado por Deus. É o que a
Bíblia diz sobre Estevão: “Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e
grandes sinais entre o povo.” (Atos 6:8). Paulo e Barnabé
ministravam a Palavra da graça e Deus a confirmava: “entretanto,
demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual
confirmava a palavra da sua graça, concedendo que, por mão deles, se
fizessem sinais e prodígios.” (Atos 14:3).
Que palavra da graça era essa?
Atos 18: 27-28 mostram o teor da palavra da graça: “[...] Tendo
chegado, auxiliou muito aqueles que, mediante a graça, haviam crido;
porque, com grande poder, convencia publicamente os judeus, provando,
por meio das Escrituras, que o Cristo é Jesus.”
Parece simples, "crer que o Cristo é Jesus"... Todo mundo
parece crer nisso. Mas, não é bem assim. Os judeus esperavam um príncipe
libertador político, que os libertaria de Roma. Mas Deus enviou o Seu Príncipe
Jesus, que os libertaria dos seus pecados e de sua escravidão espiritual. A
graça atende às necessidades de quem quiser ficar livre para servir a Deus. Ela
não é anárquica, vem sob um regime monárquico. Traz um espelho das nossas limitações
e erros na cruz, que nós podemos não querer ver. A graça dá de presente o
perdão àqueles que precisarem de perdão. Ela não lhe torna senhor, ela lhe dá
um bom Senhor, um rei e um novo reino para morar. Ela lhe torna livre para
servir a quem vale à pena.
A graça transformadora
O que faria um covarde que negou Jesus pregar para uma multidão de mais
de três mil pessoas? O que poderia sustentar um homem que decepcionou a si
mesmo, aos seus companheiros e a Jesus? Foi a revelação de que Jesus não estava
esperando que ele resolvesse tudo por sua própria força ou capacidade. Esse
homem era um receptáculo e um mensageiro da GRAÇA!!!
Jesus ensinou a graça a Pedro através do perdão. Quando Jesus apareceu
aos discípulos, ele chamou Pedro para uma conversa. Em João 21:15-17, Jesus
pergunta três vezes a Pedro se ele o amava. Pedro responde que sim. Jesus só
pede que ele cuide das suas ovelhas. Mas, existe uma coisa escondida por trás
do original grego. Das duas primeiras vezes, Pedro diz que ama Jesus com amor ágape,
o amor perfeito. E Jesus continua insistindo, até que, na última e terceira
vez, Pedro responde que ama com amor fileo, amor humano. Pedro,
finalmente, viu que precisava e podia contar com a graça para agradar a Deus.
Finalmente sendo sinceros
A graça nos permite sermos sinceros. Quando Deus nos pede algo, ele nos
capacita. A graça nos capacita. Observe porque Paulo conseguia tanto no serviço
de Deus:
“Mas aquele que nos confirma convosco em Cristo e nos ungiu é
Deus, que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito [da
graça] em nosso coração.”(2 Co 1:21-22).
“Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que
me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais
do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus
comigo.” (1 Coríntios 15:10).
Paulo operava crendo naquilo que Deus ia fazer, dizer e operar e não
naquilo que ele merecia ou que não merecia ou no que podia fazer. Ele
ressuscitou mortos, curou enfermos, pregou o evangelho por todo o mundo
conhecido e deixou mais da metade do novo testamento registrado para nós PELA
GRAÇA DE DEUS. Paulo não merecia isso, ele havia sido perseguidor da
igreja, tinha obrigado crentes a blasfemarem e outras coisas terríveis, a ponto
de não acreditarem que ele tinha se convertido. Mas, a graça é
poderosa, ela convence da necessidade tanto quanto da possibilidade do perdão. Ela
dá poder para viver de uma forma diferente e gera vida. A graça produz vida.
Quando ministramos a graça de Deus a alguém, estamos crendo e trazendo
sobre aquelas vidas o favor de Deus manifesto nas nossas vidas, que nos
sustenta e que nos faz frutificar, para fazer o mesmo na vida de quem
abençoamos, gerar mais vida e outro transbordar mais graça. Oh! Glória! Isso é
lindo demais!
A graça que nós vemos
Escrevi certa vez uma postagem somente mostrando como a gratidão nos
leva a servir (“Um coração
que recebeu muito”). Esse é o último aspecto da graça que Thayer (2012)
cita. Dez leprosos foram curados, mas só um voltou para agradecer a Jesus, a
esse, Jesus deu mais do que a cura do corpo, deu um lugar no seu reino. Um
coração agradecido é um coração pleno de graça.
Um coração agradecido é um coração alegre. Um coração
insatisfeito é sempre um coração triste e pesado, que não tem consciência da
graça. Por conseqüência, a graça tem manifestação restrita nessa vida. Ainda
que a bondade, ternura e os planos de Deus estejam lá para nós, não
conseguiremos vê-los enquanto mantivermos os olhos fitos nas coisas que
queremos, que não queremos, que não temos, etc.
A ação da graça fica impedida, porque sem revelação não há fé e a graça
se manifesta pela fé: “justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por
meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos
igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e
gloriamo-nos na esperança da glória de Deus.” (Romanos 5:1-2).
O Espírito de Deus nos dá condições de receber o favor dEle, através do
que Jesus fez e não do que nós fazemos e isso nos dá paz e alegria. Essa bênção
é entregue mantida pelo Espírito da Graça, que nos dá revelação desse olhar
carinhoso que Deus tem para nós e da Sua presença para nos guiar. Assim, a
graça pode se manifestar em nós para alcançar aos outros. E por recebermos
tantos presentes maravilhosos, nós movemos a nossa gratidão em atos, palavras e
pensamentos para servir Àquele que nos libertou da escravidão do mal e ainda
nos abençoa e recompensa por usufruir do que Ele mesmo nos capacitou a
executar.
A graça se move para nos salvar, nos manter nela mesma, abençoar outras
pessoas e agradecer. Por isso, ao final de seu ministério, Paulo só tinha duas
recomendações: “Agora, pois, encomendo-vos ao [deixo-vos aos
cuidados do] Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos
edificar e dar herança entre todos os que são santificados. ” (Atos 20:32). Se eles realmente compreendessem e
valorizassem a graça trazida na Palavra e buscassem o Espírito da Graça, que
revela a essência da Palavra e lhe dá vida, seria o suficiente para tudo o que
eles poderiam ser.
Faça por você essa oração:
Querido Deus, me toma e me coloca
aos cuidados da Palavra da sua graça, que eu sempre dependa de ti, que possa
ver os teus olhos sobre mim com amor e expectativa, me ajuda a fazer a tua
vontade para que o Senhor se alegre e tenha prazer em mim. Que eu não esqueça
de agradecer sempre e por tudo o que tens feito de bom, a despeito de qualquer
coisa que aconteça.
Que a GRAÇA de Jesus seja sobre você e sua casa no Espírito Santo da
Graça, em nome de Jesus!
REFERÊNCIAS:
THAYER, Joseph
Henry. Thayer’s Greek Dictionaire in MEYERS, Rick (Ed). E-Sword: versão 10.2. Franklin, TN,
EUA: e-Sword, 2012. [programa de computador]
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