Balança antiga, de contrapesos, em equilíbrio pela distribuição igual de pesos |
Tenho me incomodado com um
desequilíbrio na visão do povo de Deus e o foco de seu cristianismo. Vejo
alguns cristãos que apenas oram, desvalorizando a ação ou não se comprometendo
com o serviço prático. Outros, que apenas agem, mas não se preocupam em
conhecer a vontade de Deus para nortear as suas ações. Outros, ainda, que
apenas lamentam e pensam, mas não oram e nem agem...
Olhando para Jesus não
encontraríamos nada disso. Ele subia ao monte para orar e descia para fazer
milagres, ajudar os pobres e andar até cansar até onde fosse preciso ir. Argumentava
com clareza sobre os princípios de Deus, a ponto de espantar os outros com seu
conhecimento da Palavra, sentia a dor das pessoas sofrendo e se compadecia
delas até à ressurreição (caso de Lázaro) ou à sua própria cruz. Um
cristianismo sem...
... oração é inútil, tanto quanto um sem conhecimento, emoção ou ação.
... oração é inútil, tanto quanto um sem conhecimento, emoção ou ação.
Mas, por que o equilibro dessas áreas é tão importante?
É fundamental entendê-las, porque
nessas dimensões nós existimos e somos constantemente desafiados. Observe um
exemplo: “20 Queres,
pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante? [...]
26 Porque, assim como o corpo sem
espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta. ” (Tiago 2:20,
26). A fé precisa ser unida à
ação. Mas, será qualquer ação? Não, porque a fé vem “[...] pela pregação, e a pregação, pela palavra de
Cristo.” (Romanos 10:17). Então, é preciso
conhecer a Palavra de Deus para poder agir com fé.
E é possível agir pela fé, isto é, sobre a Palavra,
desprezando a oração? Bem, se a fé vem
do conhecimento da Palavra, a resposta é não. A Bíblia diz que existe um tipo
de leitura da Bíblia que mata e uma que dá vida: “o qual nos habilitou para sermos
ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata,
mas o espírito vivifica.” (2 Coríntios 3:6). E se o Espírito Santo é o nosso professor, aquele que nos ensina sobre
tudo o que é de Deus (João 14:26), então, temos que nos comunicar com Ele para
aprendermos a Palavra de Deus, que baseia a fé. Isso é oração.
É possível distinguir as diversas áreas de ação do cristianismo?
Posso responder que sim. A bíblia
diz que precisamos nos separar para uso exclusivo de Deus (santificar) em três
áreas: “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso
espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Tessalonicenses 5:23). Poucas pessoas
diferenciam alma de espírito. Penso que por influencia da filosofia, que as
considera ambas como mente. Mas, há uma diferença, pode-se notar em Hebreus
4:12: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante
do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e
espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos
do coração.” Se a Palavra discerne é porque há uma diferença.
Nós podemos ver essa diferença
na criação do homem. “Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da
terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.” (Gênesis 2:7). Deus
formou o corpo do homem do pó da terra. Então, soprou o fôlego da vida. A
palavra soprou no original hebraico é “ruach” a mesma utilizada para espírito e
Espírito. Quando os autores do velho testamente querem fazer diferença,
acrescentam algum atributo divino ao Espírito, como Santo ou de Jeová. O ponto
aqui é que a vida que veio de Deus foi compartilhada com o homem com esse
sopro, o espírito. Quando o espírito tocou o corpo, o homem tomou consciência
da sua existência na terra, e fez-se alma vivente. Aí estão as três dimensões. Com
o espírito, nos relacionamos com o mundo espiritual, com a alma, com o mundo
relacional (emoções, intelecto e vontade) e com o corpo, nós agimos.
Poderia estender bem e esmiuçar os detalhes, mas já ultrapasso muito a
paciência de leitores cibernéticos nesse espaço. A essência é que precisamos
compreender e assimilar um cristianismo que assuma essas dimensões com suas
necessidades de crescimento e atuação. Porque a nossa própria compreensão de
vida e da maturidade vai depender da dimensão em que nos focamos.
Compreendendo a vida a partir das três dimensões
Paulo colocou uma sequência em 1 Tessalonicenses 5:23 que não creio que
seja aleatória. “O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e
corpo[...]” Inicia-se no espírito, na relação com Deus, de onde vem a
vida. Então, a vida toca a alma e dá compreensão, a emoção e anima a vontade. Com
a vontade estabelecida, decisão tomada, se transforma em ação. Esse alinhamento
é coerente com o que já dissemos antes.
Observe um fenômeno interessante: nos últimos 30 anos a expectativa de
vida da população aumentou 34 anos. Entretanto, a visão da velhice não mudou
nada. É um arco côncavo que tende a decrepitude. Um início adorável, um ápice
na idade adulta e uma velhice desvalorizada. Entretanto, Paulo, que tinha a visão
espírito - alma – corpo descreve-se assim: “Por isso, não desanimamos; pelo
contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem
interior se renova de dia em dia.” (2 Coríntios 4:16). O espírito e a alma cheia da influência de
Deus não deterioram com o tempo. Se eles estão em Deus, se renovarão. Paulo recebia
aquilo que estava na Palavra de Deus:
Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem
nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas
os que esperam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias,
correm e não se cansam, caminham e não se fatigam. (Isaías 40:29-31).
Se o centro for a alma (mente, vontade e emoções)?
Aqueles que vivem na mente,
através da intelectualidade pura e simples, a lógica filosófica ou matemática,
geralmente tendem ao ateísmo e ao agnosticismo, como também à depressão porque
a dimensão de onde vem a vida é cortada (o espírito). Se somos meros animais
racionais, porque em todas as nossas manifestações culturais, até a mais
sofisticada, existem figuras as quais os membros daquela sociedade devem
adorar? Você pode pensar que os grandes cientistas não são assim, mas tente
diminuir um milímetro o poder e a importância da ciência e você verá a reação
de um adorador diante da profanação de seu santuário pelos seus adoradores. A
diferença é que os deuses da ciência são a própria ciência e os cientistas.
O homem precisa adorar porque tem um espírito. Mas, quando esse espaço
não é ocupado por Deus, ele não fica vazio. “pois todos pecaram e carecem da
glória de Deus,” (Romanos 3:23). Há um espaço no espírito do homem, que
só pode ser bem preenchido por Jesus, Aquele que “a tudo enche em todas as coisas.”
(Efésios 1:23b).
Aqueles que vivem atropelados por suas emoções não conseguem estabilidade entre tantas alegrias e
tristezas, euforias e depressões para seguir em frente e construir algo sólido
nas suas vidas, nem estabilidade ou solidez suficiente para conseguirem sequer
credibilidade. Como Paulo dizia aos coríntios: “Não tendes limites em nós; mas
estais limitados em vossos próprios afetos.” (2 Coríntios 6:12).
A vontade é a decisão sobre quem queremos servir e não apenas aquela sensação
de conforto que sentimos sobre algo. Você pode não perceber vontade, mas se
decide fazer é porque a sua vontade foi manifesta. A vontade determina que
ações vamos empreender: “nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado,
como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos
dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça.” (Romanos 6:13).
A força para fazer o bem também
vem do nível do espírito, onde Deus está: “Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas
resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.” (Tiago 4:7). Para trazer a alma
submissa a Deus (mente, vontade, emoções) dependemos da Palavra: “Portanto,
despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a
palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.” (Tiago
1:21). E a Palavra depende do
Espírito, como já mostramos.
E se o centro for o corpo?
No nível do corpo, temos uma
divisão importante entre os desejos puramente instintivos de prazer e
gratificação física e o desejo de servir a Deus dentro de seus padrões. Surge o
conceito de carne. Essa palavra, no original, “bakar”, deu origem a palavra
bacanal. Desejos desenfreados focados apenas na sua satisfação têm destruído
civilizações, tais como a de Roma, por exemplo. Um cristão precisa estar dentro
dos limites de Cristo e para isto precisa estar sob o poder do Espírito Santo: “Porque, se
viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes
os feitos do corpo, certamente, vivereis.” (Romanos 8: 13). O corpo que não está sob poder do Espírito é carne, é danoso. Se está sob influência do Espírito é instrumento de justiça (Romanos 6:13). É um potencial de serviço que nós direcionamos a favor de Deus ou contra Ele. Novamente, a
predominância desejável é do espírito ligado a Deus sobre as demais dimensões.
Então, se nós nos concentramos
no espírito, na nossa relação com Deus e o sobrenatural através da sua Palavra
e do seu Espírito, e de lá partimos para alinhar a alma e o corpo, teremos
todas as promessas a nosso favor e o ambiente necessário para que sejam
cumpridas a nosso respeito. O corpo pode até ter uma linha descendente, mas
será menos acentuada (veja o fim de Moisés, com 120 anos e boa visão, capaz de
subir um monte – Deuteronômio 34:7, Davi, já velho, deu ordens lúcidas sobre o
governo de Israel – 1 Crônicas 23:1; José morreu com 110 anos, lúcido e
profetizando – Gênesis 50:23-26 e muitos outros exemplos). O evangelista Billy
Graham acabou de escrever um livro sobre velhice aos 93 anos de idade.
O fato é que se centrarmos a
vida no espírito cresceremos sempre. A
curva côncava descendente do envelhecimento se transformará numa reta que
aponta para o que Paulo via como alvo: “13 [...] esquecendo-me das coisas que para trás
ficam e avançando para as que diante de mim estão, 14 prossigo para o alvo, para o prêmio da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.” (Filipenses 3:13-14). Crescer
em sabedoria e em conhecimento de Deus é crescer para a honra e não para a
desvalorização e a inutilidade como prega a sociedade do foco no corpo. Entretanto,
as três dimensões precisam ser tocadas para realmente agradar a Deus: a
dimensão espiritual, com Deus, a Palavra e o Espírito Santo; a dimensão
relacional, onde trazemos o amor de Deus para nossos relacionamentos com as
pessoas e a sua Palavra para levá-los a Ele; a dimensão física, onde praticamos
atos físicos que mostram o Amor de Deus, direcionados pela Palavra e pelo Espírito.
As três dimensões se complementam e não se anulam. A fonte está no Espírito e o
leito desse fluir são as relações e ações.
Reflita sobre como você tem centrado a sua vida... Você pode orar
assim:
Querido Deus, preciso que me mostre se estou
como deveria estar nessas três dimensões. Preciso que me mostre se estou indo a
ti para me orientar e me ajudar no meu serviço a ti, nos meus relacionamentos e
nas minhas ações. Dá-me equilíbrio, para que eu possa ser o que o Senhor quer
que eu seja, em nome de Jesus.
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