sábado, 31 de agosto de 2013

A escolha de Maria



Tenho sido muito movida sobre a história narrada na Bíblia sobre Maria, irmã de Lázaro. Uma mulher que é apresentada em três momentos importantíssimos na vida de um cristão: o encontro com o poder do amor de Deus, a sua entrega pessoal ao Amor de Deus e  a sua escolha pelo caminho do Amor de Deus. A narrativa da última experiência está em Lucas 10:38-42, como segue:

Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa.  (39)  Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos.  (40)  Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse:
- Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me.  (41) 
Respondeu-lhe o Senhor:
- Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas.  (42)  Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada. (Lucas 10:38-42)

Observe as três pessoas nessa cena: todas estão convencidas de que estão fazendo o que Deus quer, mas uma delas está enganada. Marta está tão certa de que tem a razão, que chega a dar ordens ao próprio Senhor Jesus. Mas, Jesus não concorda com Marta. Marta é a dona da casa, mas não é dona do hóspede. Você pode até ter controle de bens materiais de que a igreja necessita, mas o Senhor da igreja é o Senhor Jesus. Ele tem a última palavra sobre seus servos. O que leva uma pessoa a tentar dar ordens a Deus feito homem? Uma visão distorcida do que é servir a Deus. Jesus não veio para que corrêssemos de um lado para o outro fazendo coisas para Ele, mas para que ouvíssemos e fôssemos transformados pela sua Palavra.

Um problema comum de família



Ali havia um problema de religiosidade, mas também havia um problema de família. Maria tinha vivido como uma pecadora há até  bem pouco tempo. Marta a tratava como se ainda fosse a antiga Maria. A bíblia diz que o profeta não tem honra a não ser em sua própria casa. Essa convivência criou uma imagem cristalizada de uma Maria má. Além disso, por muito tempo, Marta foi a correta, a religiosa, a dedicada, mas agora, Maria estava na postura certa e Marta não. 

Maria havia descoberto a melhor parte. Imagine que a irmã quis constrange-la diante de seu mestre... Há pais e mães que fazem isso, procuram expor os defeitos dos filhos diante dos estranhos para tentar mudá-los  sob coação. Marta tentou expor Maria a Jesus. Maria, a preguiçosa, a vagabunda... Ainda havia amargura no coração de Marta a respeito da irmã. Ela mudara diante de Jesus, mas Marta não via. Ao invés de comemorar o interesse da irmã pela palavra ao invés do pecado, ela reclamava da dedicação da irmã. Das pessoas que se convertem e que ajudo, a família tem mostrado a maior dificuldade para reconhecer a mudança.

Daí, podemos perceber isso na frase de resposta de Maria... Que frase? Maria não diz nada... Quem responde por ela é Jesus. Não há como convencermos alguém das nossas intenções. Principalmente, se a pessoa já decidiu que somos e seremos sempre culpados e maus. Só Jesus pode convencer disso. Não há argumento humano para provar que mudamos, que amamos, que a nossa intenção é boa... Uma pessoa amargurada decide que você é o que ela determinou que é e que sempre será assim. Maria teve essa consciência no seu coração e calou-se. Jesus a defendeu e testemunhou a seu respeito. Se o testemunho de Jesus não for suficiente, nada do que fizermos será.

Lembre-se de que a missão de Jesus na terra foi provar que Deus nos amou a ponto de trocar o seu filho por nós e, mesmo assim, muitos sequer acreditam que Ele existe. Nenhuma prova de amor será aceita por um coração descrente do Amor. Nós precisamos mudar por causa do Senhor, para nos aproximarmos dEle, mas nunca esperar que as pessoas sejam o nosso espelho. O nosso espelho é a Palavra. Observe o que disse Tiago: “(23) Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que contempla, num espelho, o seu rosto natural;  (24)  pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua aparência.” (Tiago 1:23-24). A Palavra de Deus é o nosso espelho, a nossa identidade. Não somos nada além da Palavra, nem menos do que ela diz que somos; não temos e nem podemos além ou aquém do que ela declara sobre nós.

Dois tipos de serviço a Deus


Nós temos dois tipos de serviço a Deus nesse texto: O serviço na carne, que estabelece padrões humanos de fazer e fazer, e o padrão espiritual, onde a presença do Senhor para tudo. Receber do Senhor é a essência da adoração. Jesus veio na terra para conquistar adoradores. Na sua trajetória, Maria aprendeu o valor de adorar, a estar na presença do Senhor. Ela tinha toda uma vida para reaprender. Ela não se achava certa e suficiente como Marta. Ela queria usufruir da presença de Deus. Estar com o Senhor não é somente encher-se de tarefas e prazos a cumprir, mas ouvi-lo, estar a seus pés... Estar com Ele, fonte de todo o Amor que a vida destroçada de Maria carecia para se reconstruir era tudo oque ela mais queria e dedicou-se a isso.

Muitas pessoas estão achando que estão bem com o Senhor porque vão para a igreja e fazem o que têm que fazer e possuem cargos... Tudo isso é bom, mas a melhor parte, segundo o Senhor, não é essa. A melhor parte não é o que fazemos, mas o que nos impulsiona e fortalece para que façamos. É a presença e a Palavra do Senhor o principal alvo de uma vida que encontrou-se com Deus.

A transformação de Maria


Maria andava perdida e sem fé em Deus. Sua vida estava destruída e a morte a balançou. Mostrou-lhe tanto a finitude de sua vida, quanto a falta de qualidade dela. Mas, ela conheceu o Filho de Deus, que é maior do que a morte e cujo poder não se resume em dar ordens. Foi o mesmo Jesus que chorou com ela a sua dor, aquele que chamou Lázaro para fora da tumba. O poder do amor compassivo a atraíram a Jesus.

Impactada com esse amor poderoso, mais poderoso do que a sepultura, Maria derramou seus desencantos e dores aos pés daquele que poderia cuidar dela. Maria já se abandonara ao pecado, mas Ela deixou seu abandono aos pés do Senhor. “Dá-me vida!”, diziam suas lágrimas. “Muda-me, te imploro!...”, dizia aos seus pés. E Jesus a acolheu, levantando a sua oração silente diante do Pai e de todos os que eram tidos por dignos e estavam à volta de Jesus.  Ali, ela aprendeu que Jesus a defenderia e que Ele conhecia suas verdadeiras intenções. Ali, ela aprendeu que, aos seus pés, como discípula atenta, ela receberia tudo o que precisava, uma nova forma de viver e uma nova identidade, uma nova forma de ser.  

Não perca o melhor


Maria não deixou nada retirá-la da presença restauradora do Senhor. Nem a crítica dos que desconfiavam de suas intenções, nem a desconfiança deles, nem os trabalhos desse mundo, nem a sua imagem diante das pessoas, nada lhe tiraria o melhor. Observe Marta, ela pensava que estava servindo e nem estava agradando ao Senhor e nem a si mesma. Ela estava infeliz com o que fazia porque o tempo todo só olhava para a irmã e reclamava dela no seu coração. Ela estava aparentemente servindo a Deus, mas, dentro do coração, onde está o que realmente importa a Deus, estava simplesmente discutindo e criticando a irmã o tempo todo. Deus não pode aceitar esse tipo de oferta (Mateus 5: 23-24). Marta que parecia estar fazendo muito, não fazia nada para Deus; Maria que aparentava não estar fazendo nada, estava fazendo exatamente o que Deus queria. Além disso, precisamos compreender que enquanto estivermos condenado o outro, nada do que fizermos será aceito por Deus. Não é o serviço que importa a Deus, mas o servir. O serviço pode vir dos braços, das pernas, e da garganta, mas o servir vem do coração. Paulo já ensinou em 1 Coríntios 13:

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência;
ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes,
se não tiver amor, nada serei.
E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado,
se não tiver amor, nada disso me aproveitará. (1 Coríntios 13:1-3)

Observe quantas coisas se pode fazer sem amor. A falta de amor não diminui a quantidade de produção de coisas e tarefas. Ela diminui o valor e anulam o efeito daquilo que é produzido. Palavras eruditas se tornam ruído insuportável, conhecimento e poder sobrenatural se anulam e desfazem. Investimentos enormes e vultosos, inclusive da própria vida, são inúteis sem o amor que vem de Deus.

Não deixe nada lhe tirar o melhor. O melhor será sempre a presença do Senhor e ouvir para encher-se do seu amor renovador e restaurador. Não deixe que Palavras ferinas ou males desse mundo lhe façam arrefecer na sua busca. Não se perca com tarefas colocadas acima da Palavra de Deus. Algumas pessoas podem não reconhecer a sua intenção, mas Jesus sempre o fará. O profeta Isaías já dizia: “toda arma forjada contra ti não prosperará; toda língua que ousar contra ti em juízo, tu a condenarás; esta é a herança dos servos do SENHOR e o seu direito que de mim procede, diz o SENHOR.” (Isaías 54:17). Escolha estar na sua presença e o mais será acrescentado (Mateus 6:33). Essa foi a sábia escolha de Maria e Jesus deixou isso registrado na Bíblia para nós aprendermos o mesmo princípio.













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