Não sei se você já ouviu falar ou tem ideia do que seja a
bênção de Abraão. Mas, a maioria das pessoas que eu conheço tem a ideia errada
até do que seja uma “bênção”. Bênção não é um objeto, um acontecimento ou algo
que você conseguiu e que é agradável. Bênção é a manifestação da presença de
Deus em alguma área de sua vida. A bênção é o resultado da aprovação de Deus
sobre a vida de alguém, que se manifesta de alguma forma. A mesma palavra no
grego significa piscina ou reservatório. A presença do Senhor acumulada e em
ação. É disso que estamos falando. Na presença do Senhor e sob sua aprovação,
todas as coisas são transformadas.
Quando Ezequiel foi levado em visão até o trono de Deus,
ele seguiu as águas que fluíam do trono até que elas deram em um rio. Observe
como esse rio transformava o que tocava:
Toda criatura vivente que vive em enxames viverá por onde quer que
passe este rio, e haverá muitíssimo peixe, e, aonde chegarem estas águas,
tornarão saudáveis as do mar, e tudo viverá por onde quer que passe este rio.
Junto a ele se acharão pescadores; desde En-Gedi até En-Eglaim haverá lugar
para se estenderem redes; o seu peixe, segundo as suas espécies, será como o
peixe do mar Grande, em multidão excessiva. (Ezequiel 47:9-10 ARA1993)
A presença de Deus trazida aos seres da criação traz
vida, a vida de Deus traz suprimento e cura e faz a vida se multiplicar. A
figura da palavra bênção como uma piscina é como alguém que retém essa água que
vem do trono. Essa permanência da presença de Deus ou essa permanência na
presença de Deus faz com que a Vida de Deus se manifeste em todas as áreas. Mas
nós só temos considerado bênção o final da corrente, o resultado da bênção.
Mas, quando Deus fala em bênção fala em estar presente e não entregar alguma
coisa para que você faça o que quiser, mesmo fora da presença dEle. Você quer
ser abençoado? Então, você precisa estar na presença do Senhor porque bênção é
a manifestação da presença de Deus e não somente o resultante dela.
Quando nós encaramos como bênção somente o resultado
dela, nós corremos o risco de cair no perigo que Paulo alertou ao Romanos: “pois eles mudaram a
verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador,
o qual é bendito eternamente. Amém!” (Romanos 1:25). Tudo o que temos de
bom é consequência da presença de Deus nas nossas vidas porque nada, em si
mesmo é positivo. Um carro pode ser uma maravilha ou um instrumento de morte e
dor, da mesma forma um casamento, um emprego, qualquer coisa que deixe de ser
usufruída sem a presença do Senhor é uma maldição. Aliás, esse é o sentido da
palavra maldição: ausência da presença de Deus. A Vida sai, a morte entra.
Então, neste texto, estamos falando da presença de Deus
manifesta na vida de Abraão, que pode ser manifesta também na sua. Já que se
trata da presença de Deus, não depende da descendência física de Abraão para
herdá-la, mas da natureza da espiritualidade e relacionamento com Deus que
Abraão tinha. Observe como Jesus a descreve para os discípulos judeus, eles
estavam indignados de serem indagados sobre sua vida espiritual, achando que só
a descendência física era suficiente:
Responderam-lhe: Somos descendência de Abraão e jamais fomos
escravos de alguém; como dizes tu: Sereis livres? Replicou-lhes Jesus: Em
verdade, em verdade vos digo: todo o que comete pecado é escravo do pecado. O
escravo não fica sempre na casa; o filho, sim, para sempre. Se, pois, o Filho
vos libertar, verdadeiramente sereis livres. Bem sei que sois descendência de
Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não está em vós. ¶
Eu falo das coisas que vi junto de meu Pai; vós, porém, fazeis o que vistes em
vosso pai. Então, lhe responderam: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se
sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. Mas agora procurais
matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não
procedeu Abraão. (João 8:33-40 ARA1993)
Podemos perceber que enquanto o pecado persistir como
estilo de vida, estaremos presos distantes da presença de Deus, ou seja, distante
da bênção. A Palavra é a solução de Deus para nos aproximar dEle. Logo, a
Palavra que nos leva a Deus é a ponte da bênção. Mas não se vai a Deus somente
ouvindo ou decorando a Palavra, ela precisa “estar em nós”. Tornar-se viva em
nós, precisa ser acompanhada de atos de fé, assim como foi com Abraão. Abraão
deixou tudo o que lhe dava segurança e conforto para seguir a Palavra da
promessa que Deus lhe deu.
Abraão abriu mão de sua vida e de sua herança, da sua
cultura e da sua terra; viveu como nômade; deixou ruas calçadas por estradas de
terra; deixou casas com água quente para nunca mais morar em uma casa; deixou
centros culturais avançados pelos cuidadores de gado; passou pelos campos que
seriam de seus descendentes, mas não os possuiu; viveu com pessoas que não
entendia a língua, enfrentando costumes que não aceitava. Mas, Abraão manteve-se
firme naquilo que Deus prometera, até que creu que, de apenas um menino, Deus lhe
daria uma descendência como as estrelas e como a areia da praia do mar. Você pode
pensar que Abraão mesmo quando recebeu o filho, ainda cria na promessa. Você já
imaginou deixar tudo para trás para ser bênção para todas as famílias da terra
e receber um único filho para cumprir esse propósito? Se Abraão tivesse uma
compreensão carnal, teria ficado furioso, achado muito pouco, mas ele era um
homem espiritual e compreendia que existem milhares e milhões de árvores em uma
semente.
Abrão abandonou seus parentes, sua terra como elemento de
identidade, levando consigo somente o que se pode carregar, mas ele tinha o
essencial: Abraão tinha a presença do Senhor com ele. Em tudo o que Abraão
empreendia, havia frutificação, havia abundância e a Paz de Deus se estabelecia.
Depois de um tempo dessa viagem, ao invés de ser roubado nas suas esperanças ou
bens, Abraão havia prosperado tanto, que houve problemas entre seus homens e os
de Ló, seu sobrinho (Gênesis 13:6-9). Estabelecida a Paz, Abraão seguiu sua
vida de trabalho e produtividade na presença de Deus, até que teve que resgatar
Ló, cativo em um saque a Sodoma. Para fazer isso, ele uniu-se a três aliados e
levou 318 homens, que nasceram em sua casa. Você já imaginou que ele teve
condições de pedir a esses trezentos homens que o acompanhassem numa batalha
contra cinco reis? Que ele teve sucesso no seu treinamento? E que, mesmo depois
de vencida a batalha, esses homens educados por Abraão não tomaram sua parte
nos melhores despojos (aquilo que foi tomado dos inimigos), antes que Abraão
oferecesse o dízimo a Deus? Isso é manifestação pura da presença de Deus na
vida de Abraão. Respeito, força, poder, reconhecimento, vitória, paz e tudo o
que Deus faz manifestar nas nossas vidas pela sua presença. Esse é o objetivo
da vinda de Jesus, não somente retirar a maldição do pecado, mas trazer a
manifestação da vida de Deus assim como Ele prometeu a Abraão:
Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio
maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for
pendurado em madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em
Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido. (Gálatas
3:13-14)
O que é a bênção de Abraão exatamente?...
A bênção é a decorrência da promessa de Deus a Abraão,
quando o chamou para segui-lo:
Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e
da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande
nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei
os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas
todas as famílias da terra. Partiu, pois, Abrão, como lho ordenara o SENHOR, e
Ló foi com ele. Tinha Abrão setenta e cinco anos quando saiu de Harã. (Gênesis
12:1-4)
A terra trazia identidade, cidadania, costumes e línguas
conhecidas para Abraão, além de bens que ele não poderia levar a lugar algum,
seria uma grande renúncia financeira também. A parentela, num regime político
de clãs, trazia não somente segurança física, como poder político e distinção
na cidade. Aqui, acrescentem-se os laços afetivos, quando se explicita dentro
da parentela a casa do pai, os parentes mais chegados e o nome da família. Mas
Deus o desafia a ser uma bênção. A ser uma prova viva da manifestação do poder
de Deus. Para que isso se torne possível, o próprio Deus se une a Ele, numa
linguagem de aliança: “Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te
amaldiçoarem”. Isto é, Deus dizia: se reconhecerem a minha presença na
sua vida, eu me manifestarei benignamente; se negarem a minha presença na sua
vida, eu julgarei como se estivessem negando a mim mesmo.
Entretanto, Abraão partiu sob uma promessa. Se alguém
chegasse dizendo: Passe seu carro para o meu nome, suas terras e vá para um
lugar que depois eu lhe digo qual, você, no mínimo, daria uma gargalhada com a
piada. Abraão conhecia Deus a ponto de saber que não era uma piada, mas houve
uma proposta ali: A presença de Deus se manifestaria na vida de Abraão poderosamente
o tornando instrumento da manifestação de Deus para TODAS AS FAMÍLIAS DA TERRA!
Abrão não estava preocupado com o próprio umbigo. Deus não estava ocupado
apenas de Abraão. Deus chamou Abraão para ser um canal de bênção! Quando Deus
falou com Abraão, quando Deus procurou Abraão, Ele via a sua família na
presença dEle! Ele via a família do seu vizinho na presença dEle! Ele via TODAS
as famílias da terra. A bênção de Abraão não é egoísta. Deus não é mesquinho. A
proposta dEle é para a humanidade e não apenas para um grupo racial. Foi por
isso que Abraão deixou tudo, pela oportunidade de tornar-se bênção para TODAS
AS FAMÍLIAS DA TERRA. Foi para isso que Jesus foi dado na cruz, para que todas
as famílias na terra pudessem usufruir da presença do Senhor e isso foi
possível por causa da aliança de Deus com Abraão. Um homem ligado a Deus trouxe
a autoridade para que Deus operasse na terra.
A bênção e o juramento
Hoje em dia, nós assinamos um contrato e descumprimos;
prometemos e não comparecemos, mas no tempo de Abraão não era assim. Um homem
negociava sob o crédito de seu caráter. Se ele desse a palavra e não cumprisse,
ninguém mais negociava com ele ou cobrava no sangue dele a fidelidade. Abraão
sabia do caráter de Deus. Mas houve um tempo em que ele sofria com a espera. A
palavra diz: “a esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o desejo
cumprido é árvore de vida.”(Provérbios 13:12). Quando o cronômetro de
Deus não sincroniza com o nosso é um tempo muito difícil... Abraão sofria e
Deus sabia disso, então, para estabelecer definitivamente a fé dele. Deus foi
ao seu encontro e manifestou a sua presença para Abraão, dizendo:
[...] Jurei, por mim mesmo, diz o SENHOR, porquanto fizeste isso e
não me negaste o teu único filho, que deveras te abençoarei e certamente
multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na
praia do mar; a tua descendência possuirá a cidade dos seus inimigos, nela
serão benditas todas as nações da terra, porquanto obedeceste à minha voz. (Gênesis
22:16-18)
O juramento não poderia ser rompido sem Deus deixar de
ser Deus. Deus é por natureza Fiel, aquele que cumpre o que diz. O que Ele
disse a Abraão é que Ele mesmo era a garantia do cumprimento da promessa. Se
Ele era Deus, a promessa seria cumprida. Não havia ninguém mais alto do que o
próprio Deus para que pudesse jurar por Ele. Ou Deus faz o que diz ou Ele não é
Deus. É por isso que Ele fica tão ofendido quando duvidamos. Estamos negando a
sua própria natureza e existência. É como se Ele dissesse: Quem você pensa que
sou? Você? Seu pai ou sua mãe? Não importa que modelo de confiança você use,
Deus é perfeito no cumprimento do que promete.
Ele não falha.
Mas agora, Deus, que olhava para todas as famílias da
terra, após o juramento, estende seus olhos, às nações da terra. Deus não é
míope. Ele enxerga longe. Olhando para Abraão, Ele já via nações vivendo sob
princípios e sob a presença divina. A intenção de Deus é que Abraão colocasse em
ação seu sonho de ter a raça humana na sua presença. Você não poderá participar
da bênção de Abraão se você não tiver no seu coração a direção para TODAS AS
NAÇÕES DA TERRA. Se seu foco são apenas as suas necessidades, as suas dores, os
seus interesses, a sua família, a sua conquista pessoal, você não está nem perto
da bênção de Abraão, porque Abraão saiu de sua casa para ganhar TODAS AS
FAMÍLIAS DA TERRA e Deus lhe estendeu a bênção para TODAS AS NAÇÕES DA TERRA.
Enquanto estivermos olhando nosso próprio umbigo, sem fazer diferença ao nosso
redor, não estaremos usufruindo da bênção de Abraão.
Assim, precisamos reconstruir nossa compreensão do que é
a bênção. Não se trata de uma coisa ou algo que recebemos e que temos
propriedade sobre aquilo. Mas, trata-se do relacionamento com Deus, que nos faz
andar na Palavra e ver manifesta a presença de Deus na nossa vida e com ela,
nos tornamos instrumentos dessa presença maravilhosa, que provê, cura, dá paz e
tudo o que for de bom, assim como Deus deu a Abraão. O acesso a essa presença
foi conquistado para nós por Jesus. O trabalho de Jesus não findou ao retirar o
pecado, mas foi concluído por abrir a porta da presença de Deus (bênção) para
as nossas vidas. Uma vida livre de pecado e plena da presença de Deus
transbordante de vida e paz é a bênção de Abraão sobre as nossas vidas. Para vivê-la,
precisamos da fé, que fez Abraão escutar a Palavra e a promessa de Deus, e
então deixar tudo o que tinha e era para receber como suficiente provedor a
presença manifesta de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente a mensagem ou faça sua pergunta.