Texto de William Douglas (*)
Você é esperto? Conhece alguém
realmente esperto? Ou que se acha esperto? Aliás, o que é ser esperto?
O Dicionário Houaiss diz que esperteza é: ...
..."1. Virtude,
característica de esperto; 2. Ação ou método de quem é esperto; rapidez,
eficiência, inteligência, tino, vivacidade; 3. Ação desonesta para conseguir
algo, tentando ludibriar alguém; ardil, astúcia, malandragem." O conceito
2 é positivo, é ser esperto e o 3 é negativo, e também é ser “esperto”. (MARINHO, 2009)
Tenho um tio que se julgava muito esperto e ganhava bastante dinheiro.
Ele dizia, em alto e bom som, que "todo dia um bobo sai à rua; basta achar
o bobo que você ganha dinheiro". Quem o via achava que isso funcionava;
ele tinha casas, terrenos, carros. Na época, meu pai era um
"remediado" que lutava com estudo e trabalho, confiando em Deus e na
honestidade. Quem olhava o conforto e os bens que meu tio proporcionava à
esposa e aos filhos podia achar que ele era esperto mesmo.
Trinta anos depois, uma análise dos dois mostra que todo o patrimônio
amealhado entre os bobos acabou se perdendo, escorreu por entre os dedos, e o
que meu pai foi construindo se mostrou mais sólido. No final, vi que o bobo era
o meu tio, justamente aquele que se julgava o mais esperto. Ele era
"esperto", enfim. A desonestidade é uma má política, um mau negócio.
A Bíblia fala sobre um homem que construiu sua casa (sua vida, sua
carreira, seu casamento, sua religião) sobre a rocha e outro que construiu
sobre a areia. Quem é esperto/sábio e tem base, sobrevive às tempestades que
atingem a todos; quem é “esperto/espertalhão” não consegue.
Para se ter ideia, do mesmo termo latino – "expertu" – vieram
os termos "esperto" e "experto", sendo que este último se
refere, segundo o Dicionário Aurélio, a quem "tem experiência;
experimentado, experiente, que tem conhecimento, perito". Daí, convivermos
com conselhos como "seja mais esperto" e advertências como "não
tente bancar o esperto".
A carreira dos "espertalhões" não costuma ser longa. Procure
analisar as situações, pessoas e propostas com cautela e serenidade para
diferenciar quem é quem. Muitos procuram ser mais "espertos" que os
outros – eles lembram um pouco a famigerada "Lei do Gerson", que diz
que é preciso "levar vantagem em tudo". Jesus nos orienta a sermos
“simples como as pombas e prudentes como as serpentes”.
Labão, cuja história está no livro de Gênesis, do capítulo 24 ao 31, foi
"esperto" e fez seu sobrinho, Jacó, trabalhar para ele por 14 anos
para desposar Raquel. Ocorre que, nesse longo período, parece que negligenciou
seu trabalho, desaprendendo a cuidar do rebanho. Tanto é assim que, quando Jacó
decide partir, recebe uma proposta desesperada: “Determina-me o teu salário,
que to darei” (Gênesis 30.28). Nada como saber fazer bem uma tarefa ou ofício.
Repare: quem sabe trabalhar escolhe para quem trabalha, quando e o quanto vai
ganhar.
Jacó preferiu fazer um acordo diferente e acabou enriquecendo sobremaneira.
Com Labão, no começo, Jacó foi enganado. Interessante notar que Jacó havia
enganado seu pai e seu irmão antes, ou seja, o “esperto” sempre acaba achando
um outro mais sabido do que ele. Já Labão foi “esperto” e acabou, no final,
sendo superado por aquele a quem enganou. É sempre assim: espertezas não são
muito duradouras.
Levar vantagem sobre o outro, ou ter lucro excessivo, não é bom. Com o
tempo você perde a credibilidade, amigos, negócios, empregos. O investidor
Warren Buffet afirma: “Não se pode fazer bons negócios com pessoas ruins.” E
Abraham Lincoln alertou que: "É possível enganar algumas pessoas todo o
tempo; é também possível enganar todas as pessoas por algum tempo; o que não é
possível é enganar todas as pessoas todo o tempo."
Os mais espertos são aqueles que não ficam dizendo que são espertos. A
humildade é indício de competência e da boa esperteza. Quem fala muito é porque
gasta pouco tempo trabalhando ou estudando e não vai muito longe. Escolha ser
esperto, sábio, humilde e trabalhador. Deus honrará você.
Leia: “Antes da sua queda o coração do homem se envaidece, mas a
humildade antecede a honra.” (Provérbios 18.12), e “Quem é sábio e tem
entendimento entre vocês? Que o demonstre por seu bom procedimento, mediante
obras praticadas com a humildade que provém da sabedoria.” (Tiago 3.13).
(*) William Douglas é
juiz federal, professor universitário, palestrante e autor de mais de 30 obras,
entre elas o best-seller “Como passar em provas e concursos”
MARINHO, João Carlos Passos (Coord.). Dicionário Houaiss Eletrônico. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
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