A peleja é um tipo de manifestação da literatura popular nordestina que consiste em uma argumentação em verso entre dois poetas. Ela é um conjunto de afirmações e respostas, que não se finda no primeiro debate rimado. Imaginamos a peleja entre Zé da Lei e João da Graça. Como segue...
Zé da Lei
Deus é pura bondade
e é só nessa qualidade
que podemos Lhe encontrar.
Cumprir todo mandamento
sem falhar uma obrigação
pra dEle vir se aproximar.
E com essa compreensão
de conseguir merecimento,
sucedendo o passamento
é no céu que eu vou morar.
João da Graça
Pois eu cheguei e fui colocando
toda a minha bondade
aos pés do Autor da Vida.
Mas, quando vi minha maldade,
na caderneta anotada,
ela não deu nem pra saída.
E não me sobrando mais nada
é aí que eu finco o pé:
Deus só pede mesmo a fé
de uma alma arrependida.
Zé da Lei
Da fé eu sou muito zeloso,
dos costumes e tradições...
Faço com o maior cuidado
tudo o que me têm mandado
para todas as gerações.
E faço com satisfação,
mesmo me sendo custoso,
pra alcançar merecimento,
e ao sucesso do passamento
ter no céu uma habitação.
João da Graça
A sua sincera devoção
me deixa emocionado.
Mas, proponho uma questão:
E foi por qual boa ação
que por Jesus foi abençoado
o ladrão da cruz ao seu lado?
Ou Jesus viu ele convencido
e fez dele um convidado?
Porque Deus só faz um pedido:
A fé d'um coração arrependido.
Zé da Lei
Me desculpe, meu amigo,
mas vejo aí um perigo:
porque para agradar a Deus
tem que ter obediência.
Se sigo esses conselhos seus
vou pecar com consciência.
Ai, a coisa vai degringolar:
eu perco o merecimento,
e morro com o convencimento
de que no céu não vou morar.
João da Graça
É comum o esquecimento
de que tem um fundamento
para o perdão Deus aplicar:
é estar arrependido,
que é estar convencido
que era doido varrido
e o mal não quer mais praticar.
Esse é o caminho à pé...
porque Deus só pede a fé
de um coração arrependido.
Continua na próxima semana...
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