Hoje, meus olhos encontraram João Batista. Parecia um
personagem novo. Um exemplo de serviço. De todos os que lutaram pela vinda do
Messias, foi o único apontado por Jesus como o maior. Suas roupas simples e
desconfortáveis, sua moradia inusitada e sem luxo, deixavam apenas espaço para
que ele fosse o anunciador do reino. Ele apontou a porta do céu e lustrou os
ferrolhos para que Jesus abrisse a entrada ao Pai.
Três características de João Saltaram aos meus olhos,
certamente dentre tantas: a visão, o coração e a vida de servo. Seguindo-o
encontraremos a desmistificação de uma fé que não se resume a receber o que
queremos, mas certamente nos dará o que precisamos. Esse é o convite à reflexão
de hoje.
João, visão de servo
João Batista disse que não conhecia Jesus como o Messias:
“Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água
me disse: Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que
batiza com o Espírito Santo.” (João 1:33). Quando Jesus era bebê foi
para o Egito, logo depois do seu nascimento. E a Bíblia diz que ele voltou à
Galiléia depois da morte de Herodes, provavelmente 6 d. C. Maria teve que
viajar para encontrar a mãe de João Batista, então, não moravam perto. Depois,
o próprio João Batista morou no deserto, afastado da cidade, onde morava a
família do carpinteiro. Mas seria esse o desconhecimento de João Batista?
A palavra conhecia no original nesse trecho indica algo
que não se tinha visto antes, que não era sabido. João não sabia antes que o
Messias era Jesus, mas aceitou o que viu. Seu primo era o Messias. Aquele que
todos diziam ser filho ilegítimo e com quem ele tinha pouco contato. Talvez
haja alguém muito especial logo do seu lado, que seja o canal de bênçãos para a
sua vida e você não o considera porque acha que o conhece e é seu parente. A
humildade obediente de João Batista o levou a cumprir o seu propósito no
chamado de Deus. Ele pôde reconhecer
quem era o canal de bênçãos para a sua vida e submeter-se aos seus cuidados.
Quando aceitamos a vontade do Senhor sobre liderança e ministérios, nós vemos
coisas que antes nem nós tínhamos visto. O Senhor é o Deus dos presentes
inesperados.
João, coração de servo
Outra característica da humildade de João é que ele não tinha sede de poder. Ele não
formava discípulos para si. Ele era um súdito e não um usurpador em potencial. Veja
esse episódio relatado: “No dia seguinte, estava João outra vez na companhia de dois dos
seus discípulos e, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus! Os dois
discípulos, ouvindo-o dizer isto, seguiram Jesus.” (João 1:35-37). A sua
missão não era se engrandecer ou receber seguidores e adoração, ele era o
arauto do Rei dos Reis, estava a serviço da glória de Deus e não trabalhando
para roubá-la para si. Ao mesmo tempo, Jesus reconheceu a preparação de João ao
receber os seus discípulos para ficar com ele em casa (João 1: 38-19).
Muitas vezes, nós não nos contentamos em ter feito para o
Rei, nós queremos agradecimentos e elogios. João tinha coração de servo. O
servo de coração se realiza em agradar seu senhor. Ele sabe que é isso que o
identifica como servo. Quando fizermos algo que Deus nos disse para fazer, seja
visível como dar um oferta em dinheiro ou invisível como perdoar, não devemos
olhar em volta, mas para o Senhor que vê e recompensa o nosso coração rendido,
diante dEle. Esse trecho de Mateus resume bem esse tipo de atitude:
Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim
de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai
celeste. Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti, como
fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos
homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, ao
dares a esmola, ignore a tua mão esquerda o que faz a tua mão direita; para que
a tua esmola fique em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará. ¶
E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé
nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade
vos digo que eles já receberam a recompensa. Tu, porém, quando orares, entra no
teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu
Pai, que vê em secreto, te recompensará. (Mateus 6:1-6)
O Senhor sempre vê e sempre recompensa segundo o nosso
coração. Se as nossas mãos não estiverem carregadas do amor do Pai, se nossos
lábios não estiverem guiados pela sua misericórdia, nós não seremos aceitos
diante dEle. Deus não vê aparência e nem quer que nós almejemos
João, vida de servo
Jesus apresenta o ministério de João Batista como o
ministério mais elevado no nível dos nascidos de mulher. O ministério de Jesus
traria o novo nascimento do Espírito (João 3:5-6). Ele mostra a relação entre o
ministério antes de Jesus, pelas forças humanas em obediência à Lei e aos
rituais do culto a Deus e o serviço impecável de João Batista. Ele é o marco da
virada para o Novo Testamento: “Porque todos os Profetas e a Lei profetizaram até João.” (Mateus
11: 11-20):
Em verdade vos digo: entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu
maior do que João Batista; mas o menor no reino dos céus é maior do que ele.
Desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus é tomado por esforço,
e os que se esforçam se apoderam dele. Porque todos os Profetas e a Lei
profetizaram até João. E, se o quereis reconhecer, ele mesmo é Elias, que
estava para vir. Quem tem ouvidos [para ouvir], ouça. (Mateus 11:11-15)
João amava a verdade mais do que a própria vida. O centro
do trabalho de João era levar as pessoas ao arrependimento e retornarem a Deus
através daquele que batiza (imerge) no Espírito Santo (Mateus 3:11). A água era
física e visível como o nosso mundo material, o Espírito, invisível, como o
reino dos céus. E Jesus nos dá um juízo de valor para João como servo: o maior
do seu momento. João assumira viver no deserto, na mais profunda simplicidade,
uma vida separada em todos os sentidos, abrindo mão de confortos e nunca
abrindo mão da verdade. Foi a verdade que lhe custou a cabeça, literalmente.
Mas ele preferiu abrir mão da cabeça a abrir mão da verdade, e, às vezes, não
conseguimos fazer isso nem figuradamente. A questão é João INCOMODAVA
MUUUUUUUUITO!
As pessoas vinham até João para mais um ritual religioso e
ele as levava a um encontro com a santidade de Deus e sua onisciência. Ele
dizia ao ladrão que roubar era pecado e ao adúltero que o adultério era pecado,
mesmo que o adúltero fosse o rei. Ele não adoçava seus sermões para que mais
pessoas se aproximassem dele. Ele dizia o que tinha que ser dito para aproximar
as pessoas de Deus. João entendia a diferença entre um seminário de motivação e
uma pregação. Não me entenda mal, é claro que o Senhor consola os quebrantados,
mas ele quebranta os endurecidos pelo pecado. Vejo muita pregação sobre os
interesses das pessoas supridos e poucas sobre o suprimento dos interesses de
Deus.
Depois de elogiar João como modelo de pregador do Velho
Testamento, Jesus fala da dureza do coração daqueles para quem João pregava
tentando conscientizar do mal do pecado: “Mas a quem hei de comparar
esta geração? É semelhante a meninos que, sentados nas praças, gritam aos
companheiros: Nós vos tocamos flauta, e não dançastes; entoamos lamentações, e
não pranteastes. Pois veio João, que não comia nem bebia, e dizem: Tem demônio!
Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: Eis aí um glutão e bebedor de
vinho, amigo de publicanos e pecadores! Mas a sabedoria é justificada por suas
obras. Passou, então, Jesus a increpar as cidades nas quais ele operara
numerosos milagres, pelo fato de não se terem arrependido:” (Mateus 11:16-20)
É muito difícil falar para quem não quer escutar. Observe
que a sociedade da época queria pão e circo, festa e sorrisos, mesmo quando a
mão romana se tornava cada vez mais cruel. Quem vivia uma vida regrada e justa
era severamente criticado. Mas não era o que João fazia que incomodava, mas
para quem e porque fazia. João não servia ao interesse das pessoas e transformava
sua vida e valores para agradá-las estabelecendo a sua identidade a partir das
ideias e ideais dos outros. Ele sabia quem era diante de Deus.
Com tudo o que foi dito, podemos dizer que se quisermos
olhos para ver, teremos que ter coração humilde, obediente. A verdade precisa
ter um lugar especial e de toda a primazia na vida de alguém que diz ser servo
de Deus. A negociação com a adulação e a politicagem mentirosa não condizem com
o Caminho, a Verdade e a Vida que é Jesus. Por tudo isso, aquele que decide servir
a Deus sabe que o pecado não cabe nesse novo reino, que a mentira é de outro
principado e que aquele que serve a Deus precisa se mirar no espelho da Palavra
de Deus e não das graças dos homens e seus valores festejados, que só levam à
destruição. Vida e fama podem não ser um casamento feliz. Agradar a alguém e
desagradar a Deus é fugir totalmente do caminho da paz, da alegria e da
justiça. Nosso coração precisa se voltar para o Rei. Ele é quem precisa receber
toda a honra e glória. Ele é a nossa recompensa. Ele é quem nos exalta e nos
fortalece. Tudo vem dEle e deve voltar em louvor e glória a Ele, como princípio
e fim de tudo e das nossas vidas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente a mensagem ou faça sua pergunta.