segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Por uma cultura do Amor



Creio que esse é o tempo de falar de algo que nos escapa no nosso cotidiano e que tem sido deixado de lado pelos educadores e pais é o que chamei de “cultura do amor”. Muitas vezes, essa cultura, (no sentido de cultivo, incentivo, objetivo de relacionamento e estilo de vida), é substituída pela cultura do prazer ou da alegria, mas a cultura do amor é mais do que isso.

Apesar de tanto descaso, o que chamo de cultura do amor é essencial à vida. Isto, se entendermos que vida é mais do que vestir, comer e correr atrás de coisas e posições. Nós precisamos divisar um espaço vital, onde o cuidado é o centro. Pois o cuidado é o centro do amor. Este de que precisamos como o ar e para o qual fomos feitos. O mais sublime e radical amor é o Amor que tudo gerou, o Amor de Deus. Esse amor deveria ser o padrão para os nossos relacionamentos, mas nos perdemos no meio do caminho.

Há que se diferenciar amor de aprovação total. O amor nem sempre aprova tudo o que fazemos, mas nem por isso o diminui. Pois a essência do amor é o cuidado, e não podemos pensar em um cuidado que permita tudo. O amor é também aquele protetor de tomadas na casa dos bebês, o agasalho que impede o frio, a comida quente nas horas certas e da melhor qualidade, que garante a saúde e o crescimento. O amor, acima de tudo, cuida, supre, nutre, aconchega, mas o cuidado também repreende e retém.

Podemos pensar em cuidado sem amor, por interesse, por obrigação, por medo até, mas não podemos pensar em amor sem cuidado. Como dizia o Caetano Veloso: “Se a gente ama, é claro que a gente cuida.” O cuidado mostra o nível da quantidade e da qualidade do amor, é o seu mover e sua prova. E nós fomos chamados à vida para receber e dar cuidado. Quando nos focamos em apenas uma dessas faces do cuidado, adoecemos. Quem somente pensa em receber cuidado é egoísta, está doente. Quem somente pensa em dar cuidado descumpre o mandamento de amar o próximo como a si mesmo, também se compromete. É a dinâmica do cuidado quem move uma vida de qualidade.

O amor de Deus, essencialmente, cuida. Deus criou a Terra com tudo de bom, num perfeito controle de qualidade, encadeou os sistemas de vida até que o centro de sua atenção pudesse ser trazido para um lugar separado exclusivamente e especialmente preparado para ele. Em todas as coisas que Deus criou, Ele disse: “Faça-se...” É uma ordem que libera seu poder criativo. Mas, ao criar os seres humanos, Ele disse: “Façamos o homem...” e além de estar presente em sua plenitude, Ele foi além e disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança...” De toda a criação, o homem foi criado para ser semelhante a Deus e essa semelhança estava numa dimensão especial.

Quando Deus criou o homem, aconteceu o seguinte: “Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.”(Gênesis 2:7). Em português não fica clara a força desse texto. Mas, a palavra fôlego, no original hebraico é a mesma usada para espírito. Então, em toda a criação, Deus compartilhou com o ser humano o espírito, algo que só Ele em sua essência divina possuía. Os demais seres da criação possuem alma, mas o homem recebeu não apenas vida, recebeu a Vida de Deus. O ser humano foi a coroação da criação, Deus tinha alguém com espírito, que podia compartilhar diretamente. Ele tinha encontros diários com Adão para compartilhar e cuidar. Somente quando Deus colocou aqui alguém que podia recriar o céu na terra, Ele declarou que tudo era muito bom (Gênesis 1). 

Essencialmente, Adão e Eva estavam na terra para receberem o cuidado de Deus. Mas um dia, eles se negaram a estarem na dimensão do cuidado e resolveram voltar-se para si mesmos e seus interesses. Não deu certo. Eles perderam a ligação com a Vida de Deus e colocaram obstáculos ao seu cuidado.  Fizeram como até hoje, as crianças que aprontam alguma coisa fazem: escondem o que fizeram e, quando são descobertos, colocam a culpa no irmãozinho ou irmãzinha. Isso impede que a situação se resolva e não a alivia. Entretanto, Deus estendeu as mãos para nós em Jesus. Deus, no seu extremo amor, enviou seu único filho para nos acolher. Jesus é o abraço de Deus para a humanidade sem cuidado. Jesus é aquele que não vai embora mesmo quando todos vão, como Ele disse: “[...] eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.”(Mateus 28:20); É Aquele que toca os leprosos, cobertos de chagas, que ninguém suporta a presença, assim como ele tocou aquele leproso de que fala Mateus 8:1-3. Observe a história:

Ora, descendo ele do monte, grandes multidões o seguiram. E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se quiseres, podes purificar-me. E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo: Quero, fica limpo! E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. (Mateus 8:1-3).

Jesus parou por Aquele homem desprezado, dirigiu-se diretamente a ele, preterindo toda a multidão que o comprimia e tocou-lhe com seu cuidar, dando-lhe a vida de volta, pois a lepra era uma sentença de morte na ápoca, além de degradação social. Jesus poderia ter dado uma ordem de cura de onde estava, sem sequer ter parado, mas demonstrou cuidado e carinho àquele homem ferido, abandonado e desenganado. Ele aproximou-se e agiu, porque não existe amor sem cuidado e nem cuidado sem ação em favor do outro. 

Além de cuidar, Jesus ainda ensinou a cuidar. Na parábola do samaritano (Lucas 10:30-35), o herói da parábola, que ensina sobre o que é ser próximo, cuida de um desconhecido ferido, com quem tem gastos e a quem supre de todas as necessidades pelo fato de que ele estava incapacitado de fazê-lo por si mesmo. Não existe amor sem cuidado e não existe cuidado sem investimento. Cuidado exige investimento, desprendimento, entrega de afeto, tempo, dinheiro, paciência, confiança e muito mais e tudo o que for necessário para que o outro esteja bem. Uma geração que adora o prazer e o individualismo é, em contrapartida, uma geração abandonada e abandonadora, porque não tem lugar para o cuidado no dicionário com que significa a vida. Se na sua vida você não tiver lugar para a ferida e a desordem do outro, também não haverá lugar para você em vida alguma. Família implica em casa desarrumada, contas a pagar, disputas a resolver, mas é um lugar de cuidado, por isso que é um lugar trabalhoso. Pessoas exigem desordem e desvios dos nossos planos originais para acudi-las. Amar pessoas inclui espaço para o perdão que sara o descuido para que a mágoa e a amargura não ocupem o lugar que seria do amor e do cuidado e os impeçam de fluir nos adoecendo.

Mudando uma geração



Nossa geração está despreparada para lidar com a demanda de investimento em cuidado com os outros. Mas pagamos o preço de recebermos nessa mesma medida e terminamos vivendo sem cuidados. Contudo, “[...] Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3:16). Deus poderia ter ficado lá no seu trono e ter criado outro ser para amar e compartilhar. Poderia ter ficado lamentando a nossa recusa de confiar no cuidado dEle ou com raiva de nós de tê-lo recusado, como nós geralmente fazemos diante da não reciprocidade, mas não foi assim. Porque Ele é Deus, Ele é Amor e Amor é cuidado. O cuidado não joga fora, ele resgata. Ele veio na pessoa do seu Filho, buscar a humanidade para cuidar dela e trazê-la de volta à Vida para a qual a havia criado, pois afastar-se da vida de Deus traz a morte em todos os sentidos.

O amor não desiste nunca. E Deus não vai desistir de cuidar de você, não importa o quanto você diga que é impossível ou que não precisa dEle. Se você parar de resistir e deixar que Ele cuide de você com todo o seu amor, você pode orar assim:

Querido Deus, eu reconheço que muitas vezes tenho deixado de cuidar, e não deixado o Senhor cuidar de mim. Mas eu peço que me perdoe. Quero aprender a receber e contar com o Teu cuidado, Senhor. Ensina-me. Ensina-me também a cuidar do meu próximo, a ser instrumento do Teu amor, para o qual eu nasci, em nome de Jesus.

Resta ainda uma pergunta: E por quê tantas vezes não somos capazes de receber o cuidado de Deus? É uma pergunta para a qual tenho algumas respostas e tentarei apresentá-las no próximo texto.

Deus lhe abençoe e dê Paz a você e à sua família, em nome de Jesus.
  






   



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente a mensagem ou faça sua pergunta.

Web Analytics