Os segredos entre a promessa, o tempo e a mudança
Há alguns dias, visitei aqui na Paraíba, o Museu da Terra e
do homem. A proposta é bastante interessante. Amostras do tempo e da terra
desfilam em caracol numa pequena praça, em meio a uma Universidade particular.
A amostra geológica mais jovem abre o desfile com seus 65 milhões de anos. E o
fim glorioso desemboca em uma senhora de dois milhões e duzentos mil anos. É um
encontro inesquecível com o tempo e as forças envoltas na formação da terra.
Entre as amostras minerais, uma me chamou a atenção... Havia
um cubo de mineral com um furo perfeito em cima, em tamanho muito próximo a um
cano de meia polegada, mas por arte pura da natureza, o orifício fez uma curva
dentro da rocha e escavou uma saída em “l” para fora, e formou a oportunidade
perfeita para uma fonte natural. A água que viesse de cima escorreria para o lado,
como uma fonte escavada intencionalmente. Imediatamente, me dei conta de
quantos anos a água teria levado para esculpir aquela fonte. Talvez centenas,
pacientemente arrastando as fraquezas da rocha e carregando seus sedimentos em
outro lugar. Nós podíamos imitar o tempo, mas não sem muitos apetrechos: uma
broca especial, uma técnica de corte demorado, irrigação constante e teríamos
algo semelhante em menos tempo.
Estamos sempre tentando acelerar o tempo, não é? A nossa
tecnologia leva cada vez mais rápida a informação, até transportamos mais
rápido as pessoas, mas parece que quanto mais nos apressamos, parece que mais
atrasados ficamos. Acordamos atrasados e saímos às pressas, trabalhos contra o
relógio e almoçamos rápido, muitas vezes, sem sequer nos alimentarmos, só
comemos algo. E corremos mais, até que no final do dia, voltamos exaustos do trabalho
ou da escola, dormimos tarde e mal, para acordarmos novamente atrasados no dia
seguinte. Corremos como para dominar o tempo. Mesmo as mais sofisticadas
tecnologias criadas para agilizar qualquer tipo de processo logo se tornam
obsoletas porque preenchemos o tempo que conseguimos liberar com outras
atividades.
Mas, a pedra está lá, sendo tocada lenta e suavemente para
transformar-se em fonte. Grão a grão... O que percebi é que nós, nesse desejo
desenfreado de dominar o tempo e o espaço, perdemos a capacidade de aceitar que
Deus precisa de tempo para formar em nós a fonte que Ele planejou e que ele
determinou o seu tempo para jorrar. Precisamos recuperar a serenidade de
percebermos que, por mais que nos esforcemos, o fazer é de Deus. O tempo é dEle
e Ele não o submete a nós.
Mas qual o objetivo do tempo em nós? Nos organismos
vivos, o tempo leva à maturação. Amadurecer, na realidade, é um processo de
acumulação. Acumulação de tudo o que é precioso. Sim, guardamos aquilo que é
valioso para nós, o que nos faz crescer. Se alguém guarda uma lembrança boa, é
porque aquele momento, aquele ato, foi algo importante para si. Se guardamos um
lembrança negativa é porque achamos que assim vamos aprender a nos defender no
futuro de situações semelhantes. Mas, aí é que mora o perigo. O Senhor diz: “O
homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o
mal; porque a boca fala do que está cheio o coração.” (Lucas 6:45). O que está
guardado como precioso no nosso coração se torna fonte de vida, estilo de vida,
e vai ser declarado e vivido dessa forma. Isso nos leva a pensar sobre o que
está sendo guardado no nosso coração através do tempo.