Observo constantemente as pessoas e suas reações. As
minhas reações e a minha compreensão também são alvo de minha maior atenção. Vejo
como é fácil se enganar com a quilo que nos é apresentado e entrar em
situações-armadilha, onde, achando que estamos resolvendo um problema estamos
sendo manipulados e levados para problemas maiores. Vamos refletir sobre isso hoje e esta estória vai nos ajudar...
Conta-se que certa vez um
homem muito maldoso resolveu pregar uma peça em um mestre, famoso por sua
sabedoria. Preparou uma armadilha infalível, como somente os maus podem
conceber. Tomou um pássaro e o segurou entre as mãos, imaginando que iria até o
idoso e experiente mestre, formulando lhe a seguinte pergunta:
– Mestre, o passarinho que
trago nas mãos está vivo ou morto?
Naturalmente, se o mestre
respondesse que estava vivo, ele o esmagaria com as mãos, mostrando o pequeno
cadáver. Se a resposta fosse que o pássaro estava morto, ele abriria as mãos,
libertando-o e permitindo que voasse, ganhando as alturas. Qualquer que fosse a
resposta, ele incorreria em erro aos olhos de todos que assistissem à cena.
Assim pensou. Assim fez.
Quando vários discípulos se
encontravam ao redor do venerando senhor, ele se aproximou e formulou a
pergunta fatal. O sábio olhou profundamente o homem nos olhos. Parecia desejar
examinar o mais escondido de sua alma, depois respondeu, calmo e seguro:
– O destino desse pássaro,
meu filho, está em suas mãos. (RANGEL, 2002, p. 6)
O que cada pessoa procura se sobrepõe ao que ela diz e ao
que ela faz. Entretanto, perceber a verdadeira intenção é algo quase
sobrenatural. Exige sabedoria e inteligência. Olhar além das circunstâncias é
algo fundamental, que merece e necessita de um empenho, que, muitas vezes, não
estamos dispostos a investir.
É sempre mais fácil reagir impulsivamente, o resultado,
na maioria das vezes, é desastroso. Observe a atitude do sábio diante do
desafio da pergunta: “O sábio olhou profundamente o homem nos olhos. Parecia
desejar examinar o mais escondido de sua alma,”. Muitas pessoas testaram Jesus
e Ele nunca caiu nesses testes, outros queriam glorificá-lo como rei, mas Ele
sabia qual era seu reino. O Diabo lhe ofereceu todos os reinos da terra, mas Jesus
recusou-se a servi-lo em troca de tal promoção. Isso significa que não podemos
aceitar todas as ofertas que nos oferecem como direções de solução de
problemas. Jesus nunca foi intempestivo nas respostas. Observe a situação de
vida ou morte em que lhe trouxeram um teste:
Os escribas e fariseus trouxeram à sua presença uma mulher
surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar de pé no meio de todos, disseram a
Jesus: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. E na lei nos
mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes? Isto
diziam eles tentando-o, para terem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se,
escrevia na terra com o dedo. (João 8:3-6)
Você se sente pressionado a responder de imediato?
Observe esse exemplo.
Ali havia uma multidão, oponentes políticos-religiosos de
Jesus e seus próprios discípulos. Imagine se Ele fosse movido por algum
pensamento referente à raiva dos opositores: “Vocês, seus hipócritas, lá podem
repreender alguém?”. Bom, ele estaria indo contra as autoridades, contra a Lei
e poderia ser preso, dando fim à sua credibilidade e ao seu ministério. Agora,
se ele fosse responder estilo: “Vocês estão querendo me desmoralizar diante dos
meus discípulos? Pega eles, pessoal!” Ou “Não posso ser desmoralizado na frente
dos meus discípulos, preciso mostrar que sou o máximo em termos de mestre!”. Ou
usaria os discípulos contra os religiosos e certamente seriam presos e
machucados ou daria qualquer resposta que lhe pusesse em problemas. E se Jesus
tivesse medo de perder a “fama” de Messias? Pensaria: “Vou mandar logo ver na
Lei, que aqui eu sou o tal! Resolvo tudo! Sei de tudo! Ninguém é melhor do que eu
pra resolver bronca!”.
Só que a referência de Jesus não estava na terra. Ele
tinha clareza da sua missão em todos os momentos. Ele ficou lá, quieto, (o que
deve ter deixado mais nervosos ainda seus perseguidores). E escrevia na
areia... Quer saber o que Ele escrevia na areia? Veja este versículo de uma
profecia do Velho Testamento:
Ó SENHOR, Esperança de Israel! Todos aqueles que te deixam serão
envergonhados; o nome dos que se apartam de mim será escrito no chão; porque
abandonam o SENHOR, a fonte das águas vivas. (Jeremias 17:13)
O nome, para um hebreu, é o que ele é. Ao escrever no
chão o nome daquelas pessoas cumpriria a profecia acima e estaria mostrando a
injustiça no julgamento daquela mulher. Injustiça de quem exercia o julgamento,
porque eles não eram dignos de apontar os erros de ninguém. Além disso, a
proposta que parecia um desafio para que Jesus fizesse o que era considerado justo
era em si mesma incompleta legalmente, portanto, injusta também. Observe o que
a Lei realmente dizia: “Se um homem adulterar com a mulher do seu próximo, será morto o
adúltero e a adúltera.” (Levítico 20:10). Onde estava o adúltero? Ele
não estava ali sendo julgado. Não se comete adultério sozinha... Mas,
certamente que colocar um homem numa posição vergonhosa não ganharia muito apoio
em uma comunidade machista. As mulheres eram propriedades dos maridos, não
podiam estudar, não saiam à rua, não tinham direito de herança, de voto, de
acesso aos cargos públicos, era pouco mais do que uma escrava na época de
Jesus. Esses pretensos justos estavam utilizando a injustiça e a incapacidade
de defesa de um oprimido para tirar sua vantagem política. Ninguém se poria a
favor dela e contra os defensores da Lei de Moisés (mais do que a moral e os
bons costumes, pois podiam condenar à morte por apedrejamento). O povo já
estava acostumado a ter carne humana e sangue derramado como espetáculo no
circo dos romanos, mesmo que esse sangue e carne um dia pudesse ser o seu. Essa
é a parte que ninguém pensa: a generalização da Lei.